sábado, 30 de maio de 2009

DIREITA, EU?

Chega a ser engraçado essa coisa de, no Brasil, ninguém ser de direita. Por aqui, alguém só se diz de direita quando quer chocar ou demonstrar certa ferocidade política e pessoal do tipo “sou de direita mesmo, vai encarar?”. Coisa de cabo eleitoral da TFP e bestas-feras do gênero. Mas a regra é diferente. Quem é de direita só abre a boca quando percebe receptividade no ambiente. Mais ou menos como quem é racista. Normalmente, para se identificar alguém de direita é preciso observar o conjunto dos atos e o tom do discurso, uma mistura de falsa simulação ideológica que inclui, necessariamente, a negação das divisões políticas ou, no limite, a própria negação da política. Dessa forma, ao ser questionado sobre pendores ideológicos, o indivíduo de direita se sai sempre com o clichê da queda do muro de Berlim – embora a maioria apenas desconfie, ligeiramente, do verdadeiro significado do evento e do processo que o deflagrou. Depois da queda do muro de Berlim, portanto, não tem mais direita nem esquerda, é tudo muito relativo. Outra saída é dizer que odeia política, que é apolítico (?), que político é tudo canalha, que não vai mais dar o voto para ninguém. Mentira: vai votar na direita.

No Brasil, há casos clássicos de políticos e intelectuais que migraram para a direita, um pouco pelo desencanto do comunismo, pela perda natural dos ideais que a idade provoca, mas muito pela oportunidade de ficar rico ou fazer parte da elite nacional que toma uísque escocês e freqüenta balneários de luxo, ainda que forma subalterna e humilhante. Não é preciso citar nomes, mas muitos pululam pelos parlamentos, partidos políticos e redações de jornais. Pergunte a qualquer deputado ou senador se ele é de direita, e não vai aparecer nenhum. Todo mundo tem uma desculpa para não ser de direita, mesmo os mais conservadores e reacionários, mesmo as viúvas da ditadura militar, mesmo os risíveis neodemocratas de plantão. Todos vão dizer que esquerda e direita não existem mais. Que depois da queda do muro de Berlim, etc,etc,etc.

A verdade é que ninguém quer se admitir de direita porque, no Brasil, ou em qualquer outra nação latino-americana que tenha sido submetida a regimes neofascistas comandados por generais, ser de direita tem pouco a ver com a clássica postura liberal econômica ou com a defesa das leis de mercado. Tem a ver é com truculência, violência, racismo, fundamentalismo religioso, obscurantismo político, coronelismo, ódio de classe e, é claro, golpismo. Por isso há tão poucos direitistas assumidos. Assim, de cabeça, aliás, não lembro de nenhum. Ah, de repente me lembrei de uma confissão antológica do ex-deputado Wigberto Tartuce, o Vigão, parlamentar do PTB brasiliense, de riquíssimo prontuário policial, temeroso de ser confundido na multidão: “Eu sou de direita, mas sou honesto”. Até agora, a única confirmação das autoridades policiais é a de que Vigão é mesmo de direita.



Texto do jornalista e escritor Leandro Fortes, do blog Brasília, eu vi.

Publicado originalmente na revista Carta Capital.

sábado, 23 de maio de 2009

ADAM SMITH E KARL MARX: UM DIÁLOGO

O professor Antoni Domènech, catedrático de Filosofia Moral na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Barcelona e editor da revista SinPermiso, produziu um diálogo fictício entre Adam Smith e Karl Marx sobre a crise atual do capitalismo.



Karl Marx: Viste, velho, que esse menino, Joseph Stiglitz, anda dizendo por aí que o colapso de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim e do socialismo real?

Adam Smith: Não é para ficar contente, nem eu nem tu. E tu, menos ainda que eu, Carlos.

Karl Marx: Cara, por conta do suicídio do capitalismo financeiro, meu nome voltou a estar na moda; meus livros, segundo informa o The Guardian, se esgotam. Até os mais conservadores, como o ministro das finanças da Alemanha, reconhecem que em minha teoria econômica há algo que ainda vale à pena levar em conta...

Adam Smith: Não me venhas agora com vaidades acadêmicas mesquinhas post mortem, Carlinhos, já que em vida jamais te abandonaste a esse tipo de coisa. Eu falo num sentido mais fundamental, mais político. Nenhum dos dois pode estar contente e, te repito, tu menos ainda que eu.

Karl Marx: Sim, e aí?

Adam Smith: O “socialismo real” que se construiu em teu nome e não tinha nada a ver contigo. Pelo menos tu, sim, te identificaste como “socialista”. Eu, por outro lado, nem sequer jamais chamei a mim mesmo de “liberal”! Isso de “liberalismo” é uma coisa do século XIX (a palavra, como tu sabes, foi inventada pelos espanhóis em 1812), e vão e a atribuem a mim, um cara que morreu oportunamente em 1793. É ridículo!Como isso foi me acontecer?

Karl Marx: Já vejo por onde estás indo. Queres dizer que nem a queda do Muro de Berlim nem o colapso do capitalismo financeiro em 2008 têm muito a ver nem contigo nem comigo, mas que, ainda assim, nos jogam as responsabilidades?

Adam Smith: Exatamente. Mas em teu caso é pior, Carlos. Porque tu, sim, te disseste socialista. A mim pouco importa o “liberalismo”, qualquer liberalismo. Não há o que explicar a ti, precisamente um de meus discípulos mais inteligentes, que nem minha teoria econômica nem minha filosofia moral tinham nada a ver com o tipo de ciência econômica, positiva e normativa, que começou a impor-se nos teus últimos anos de vida, isso a que tu ainda chegaste a chamar “economia vulgar” e que tanto agradou aos liberais de tipo decimonônico.

Karl Marx: Claro, tu e eu ainda fomos clássicos. Depois veio essa caterva vulgar de neoclássicos, incapazes de distinguir qualquer coisa.

Adam Smith: Por exemplo, entre atividades produtivas e improdutivas, entre atividades que geram valor e riqueza tangível e atividades econômicas que se limitam a obter rendas não resultantes de trabalho (rendas derivadas da propriedade de bens imóveis, rendas derivadas dos patrimônios financeiros, rendas resultantes de operações em mercados não-livres, monopólicos ou oligopólicos). Nunca deixou de me impressionar a agudeza com que elaboraste criticamente algumas dessas minhas distinções, por exemplo, nas teorias da mais-valia.

Karl Marx: É evidente. Tu falaste repetidas vezes da necessidade imperiosa de intervir publicamente em favor da atividade econômica produtiva. Isso é o que para ti significava “mercado livre”; nada a ver com o imperativo de paralisia pública dos liberais e dos economistas vulgares, incapazes de distinguir entre atividade econômica geradora de riqueza e atividade parasitária visando ao lucro.

Adam Smith: Em meu mercado livre os lucros das empresas verdadeiramente competitivas e produtivas e os salários dos trabalhadores dessas empresas nem sequer teriam que ser tributados. Em troca, para manter um mercado livre no sentido em que defendo, os governos deveriam matar de impostos os lucros imobiliários, financeiros e todas as rendas monopólicas...

Karl Marx: Quer dizer, a tudo o que, depois de terem dado a mim por morto, e em teu nome, Adam, em teu nome!, se fez com que deixassem de pagar impostos nos últimos 25 anos. Haja saco!

Adam Smith: Haja saco, Carlos! Porque o que eu disse é que uma economia verdadeiramente livre, na medida em que estimulasse a riqueza tangível podia gerar - graças, entre outras coisas, a um tratamento fiscal agressivo do parasitismo rentista e da pseudo-riqueza intangível - amplos recursos públicos que poderiam ser destinados a serviços sociais, à promoção da arte e da ciência básica – que é, como a arte, incompatível com o lucro privado -, a estabelecer uma renda básica universal e incondicional de cidadania, como queria meu conterrâneo Tom Paine, etc. Vês, já, Carlos: eu, que não passei de um modesto republicano whig (1) de meu tempo, agora, se quatro preguiçosos, ainda que ignorantes, professorzinhos não me falseassem, e se lessem com conhecimento histórico de causa, até poderia passar por um perigosíssimo socialista dos teus. E te direi, e há de ficar entre nós, que, considerando o que temos visto, a tua companhia resulta bastante grata a mim...

Karl Marx: Na realidade, todo o teu conhecimento, como o de tantos republicanos atlânticos de tua geração, foi posto a serviço do princípio enunciado pelo grande florentino mal-afamado, a saber: que a liberdade republicana não pode florescer em nenhum povo que consinta com a aparição de magnatas e senhores [gentilhuomini], capazes de desafiar a república. E só assim se vê como a falsificação, em teu caso, é pior que no meu: o “socialismo real” abusou aberrantemente da palavra “socialismo”, dando cabimento ao regozijo de meus inimigos; mas tu nem chegaste a te inteirar sobre o que era esse tal de “liberalismo”!

Adam Smith: Quem não se consola é porque não quer, Carlos. O certo é que o que aconteceu nos últimos 30 anos no mundo vai contra tudo o que tu e eu, como economistas e como filósofos morais, queríamos. Olha esses pobres espanhóis, inventores do termo “liberalismo”. A ti e a mim importava sobretudo a distribuição funcional do produto social (isso a que agora tratam como PIB): pois bem, a proporção da massa salarial em relação ao PIB não parou de baixar, na Espanha, e seguiu baixando inclusive depois que o partido até há muito pouco tempo se dizia marxista voltou a assumir o governo em 2004...

Karl Marx: Sim, sim, um horror...Mas é que quando esses meninos supostamente me abandonaram por ti e passaram a se chamar “social-liberais” no começo dos anos 80, o que fizeram foi uma coisa que também teria te deixado de cabelo em pé. Observa que não só retrocedeu a proporção da massa salarial em relação ao PIB, senão que, na Espanha do pelotazo (2) e do enrichisez-vous (3) de Felipe González, o mesmo que na Argentina da “pizza e do champanhe” de Menem e em quase todo o mundo, os lucros empresariais propriamente ditos também começaram a retroceder também em relação aos rendimentos imobiliários, financeiros e as rendas monopólicas, no PIB...

Adam Smith: Como nos arrebentaram, Carlos!

Karl Marx: Não te desesperes, Adam. A história é caprichosa e, quem sabe seja melhor, agora, que comecem a nos levar a sério. Observa que acabaram de dar o Prêmio Nobel a um menino bem danado, que há anos estuda a competição monopólica e resgata Chamberlain e Keynes, esses caras que ao menos se esforçaram para nos entender, a ti e a mim, nos anos 30 do século XX, e que queriam promover a “eutanásia do rentista”...

Adam Smith: - Eu fui um republicano whig bastante cético, Carlos. Não vivi o movimento dos trabalhadores dos séculos XIX e XX e a epopéia de sua luta pela democracia. Não posso entregar-me tão facilmente ao Princípio Esperança (4) daquele famoso discípulo teu, agora, certamente, quase esquecido.

Tradução: Katarina Peixoto

Notas

(1) O Whig Party era o partido que reunia as tendências liberais no Reino Unido e se contrapunha ao Tory Party, dos conservadores. Whig (ou Whigs) é uma expressão de origem popular que se tornou termo corrente na designação do partido liberal no Reino Unido. Esta corrente contribuiu para a formação do atual Partido Democrata Liberal – Liberal Democrats. Também está presente em algumas vertentes do Partido Trabalhista inglês-Labour Party. É profundamente relacionado ao protestantismo calvinista, na sua forma presbiteriana, das sociedades escocesa inglesa. Tem origem nas forças políticas escocesas e inglesas que lutaram a favor de um regime parlamentar protestante: o Whig Party.

O Whig Party foi um dos partidos mais influentes no sistema parlamentar britânico até o fim da Primeira Guerra Mundial, alternando com os Tories na formação do governo britânico. Depois da Primeira Guerra, o partido perdeu importância e foi praticamente substituído pelo partido trabalhista (Labour Party) na alternância do poder político no Reino Unido com os Tories.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Whig_(Reino_Unido) N.deT.

(2) A cultura do pelotazo, na Espanha, refere-se ao enriquecimento rápido e sem esforço.

(3) Expressão atribuída historicamente a uma suposta afirmação do historiador e político francês François Guizot (1787-1874). Num contexto de restauração de forças conservadoras no poder francês, teria Guizot, segundo consta na tradição do anedotário político, expressado seu entendimento da agenda revolucionária de 1789. Consta que, logo após ter assumido a chefia efetiva do governo, por volta de 1840, ele pronunciou: “Esclareçam-se, enriqueçam, melhorem a condição moral e material da nossa França”. Para outros, Guizot disse isto: “Enriqueçam para o trabalho e para a indulgência e serão eleitores”, respondendo aos detratores do voto censitário. A expressão passou então a ser usada como descrição de um comportamento cínico e privatista, como parece ser o caso nesse diálogo. N.deT.

(4) O Princípio Esperança (editado no Brasil pela Contraponto) é o trabalho mais famoso de Ernst Bloch, de 1959. Sobre Bloch, são dignas de reprodução as seguintes considerações de Michael Löwy: “Teólogo da revolução” e filósofo da esperança, amigo de juventude de Lukács e Walter Benjamin, Ernst Bloch designa a si próprio como um pensador romântico revolucionário. Nascido na cidade industrial de Ludwigschafen, sede da IG Farben (Importante Empresa Química), olhava com espanto e admiração a cidade vizinha, Manheim, velho centro cultural e religioso; como dirá mais tarde numa entrevista autobiográfica, esse contraste entre “a aparência feia, despida e sem delicadeza do capitalismo tardio” - símbolo do “caráter-de-estação-de-trens” (Bahnfof-shaftigkeit) de nossa vida moderna e a antiga cidade do outro lado do Reno, símbolo da “mais radiante história medieval” e do “Santo Império Romano Germânico”, deixou uma profunda marca em seu espírito.

Leitor entusiasta de Schelling desde a adolescência, aluno do sociólogo neo-romântico (judeu) Georg Simmel, em Berlim, Bloch irá participar durante alguns anos (com Lukács) do Círculo Max Weber de Heidelberg, um dos principais núcleos do romantismo anticapitalista nos meios universitários alemães. Testemunhos da época o descrevem como um “judeu apocalíptico catolicizante”, ou como “um novo filósofo judeu...” que se acreditava, com toda evidência, precursor de um novo Messias./ Por essa época (1910-17), havia uma profunda comunhão espiritual entre Bloch e Lukács, de que é possível acompanhar os vestígios em seus primeiros escritos. Segundo Bloch (na entrevista que me concedeu em 1974), “éramos como vasos comunicantes; a água encontrava-se sempre à mesma altura nas duas colunas”. Foi graças a Lukács que ele se iniciou no universo religioso de Mestre Eckhart, Kierkegaard e Dostoiévski – três fontes decisivas para sua evolução espirital. ”In: Redenção e Utopia: o judaísmo libertário na Europa central (Um estudo de afinidade eletiva)”. Trad. Paulo Neves, São Paulo, SP, Companhia das Letras, 1989, p. 120). N. de T.




Fonte: Agência Carta Maior

domingo, 17 de maio de 2009

ZIZÉK

Zizek! é um documentário que acompanha o filósofo esloveno Slavoj Zizek por diversas conferências e entrevistas nas quais o pensador fala sobre os temas que mais marcaram sua trajetória, tais como cinema, a política, o conceito de ideologia, o consumo, a ironia, o pensamento cínico, a psicanálise lacaniana, o stalinismo.

Fazendo também uma análise de sua trajetória desde os tempos da dissidência na Eslovênia até sua alta popularidade nos últimos anos, quando passa a ser chamado de um filósofo "superstar", aliás, traça uma interpretação de sua grande popularidade como uma resistência a ser levado a sério.


Gênero: Documentário / Filosofia
Diretor: Astra Taylor
Duração: 71 minutos
Ano de Lançamento: 2005
País de Origem: Estados Unidos / Canadá
Idioma do Áudio: Inglês
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Tamanho: 700 Mb
Legendas: Em anexo


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quarta-feira, 13 de maio de 2009

CRIANÇAS PROSTITUTAS




A voz acima é de Dalva Santos do Nascimento, presidente da Associação das Prostitutas do Acre.

Dalva, uma senhora negra e de meia idade, mora em um casebre no final do bairro 6 de Agosto, que quase submergiu na última enchente do rio Acre. Ela acompanhou todo o trajeto do fenômeno que, em duas décadas, transformou a prostituição profissional em pedofilia remunerada.

Os entrevistadores são Polyana Dourado, aluna dos cursos de Jornalismo e História da Ufac, e este que vos escreve.

Falando nisso, alguém lembra do misterioso fenômeno dos "índios loiros", registrados na década de 70 com a intensificação de ONGs e missões evangélicas estrangeiras no interior do Acre?

Ou das denúncias de abuso sexual contra filhas e mulheres de seringueiros na década de 80?

E da misteriosa e desaparecida fita prometida pelo ex-secretário de Estado de Cidadania e Ação Social, Cléber Pérez? Alguém?

Quero ver sair alguma coisa dessa CPI...

domingo, 3 de maio de 2009

OLIVER STONE ENTREVISTA FIDEL CASTRO

Uma das raras oportunidades de ver Castro falando por si só, sem intermediações.

Um completo panorama da vida em Cuba no período final de Fidel no poder, ele viria a adoecer e largar o governo um tempo depois.

É fascinante, derruba alguns preconceitos sem necessariamente defender a revolução cubana.








FICHA TÉCNICA

Direção: Oliver Stone
Ano: 2003
País: Espanha, Estados Unidos
Gênero: Documentário
Duração: 99 min. / cor
Título Original: Comandante

DADOS DO ARQUIVO
Gênero: Documentário
Origem/Ano: EUA/ESP - 2003
Formato: rmvb
Áudio: Inglês/Espanhol
Legendas: Português/BR (embutidas)
Duração: 99 min
Tamanho: 421 MB
Servidor: Rapidshare (5 partes)


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Postagem original: Forum F.A.R.R.A.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

DESORDEIROS, UNI-VOS!

No Brasil o Dia Mundial do Trabalhador virou Dia do Trabalho.

O feriado foi criado para homenagear oito líderes trabalhistas que morreram enforcados em Chicago (EUA), em 1886, por protestar contra as condições de... trabalho.

Essa inversão aponta "algo mais" que uma simples lambança midiática.

Ao homenagear os trabalhadores assassinados pelo governo da época a data denunciava a essência ditatorial de todo poder institucional. Denunciava a extraordinária sintonia entre instituições privadas e "públicas" quando o assunto é calar aqueles que movem a roda da economia.


Com sua crueza e sinceridade a data chamava os trabalhadores à união, pois dizia que não havia outra forma de instituir mudanças que abarcassem a todos... e que a moeda da dúvida era a morte.

Na atual inversão, ao invés dessa urgência homenageia-se algo difuso, ao mesmo tempo sonho e pesadelo de qualquer pessoa com idade para o vínculo empregatício: o trabalho.

Ao invés do acontecimento celebra-se a idéia. Ao invés da realidade, o projeto. O objeto da homenagem é difuso, um vir-a-ser, isto é, o significado do feriado é deslocado do presente real para um devir eterno. Pudera: hoje um emprego justo e digno é privilégio de quem tem contatos e conexões institucionais adequados.

E assim, públicas ou privadas, as instituições vão nos governando. Tomam os nossos sonhos, recebem o nosso trabalho, dizem o quanto valemos... e vigiam todos os nossos atos.

A razão dessa vigilância reside no seguinte problema: se todos enriquecerem e viverem com luxo e dignidade, qual será o critério da riqueza? Como será o cálculo do valor das mercadorias, já que ninguém precisará trabalhar para produzi-las?

Segue-se então que, no nosso modelo social, milhões (bilhões, se considerarmos o mundo) estão condenados a viver em condições sub-humanas. Eles devem trabalhar para produzir mercadorias e terceiros enriqueçam, enquanto os próprios produtores dessas mercadorias fiquem pobres ao mesmo tempo em que necessitam comprar para sobreviver...

É por isso que trabalhadores e desempregados são escoltados pela polícia ao menor sinal de manifestação coletiva.

É por isso que são as instituições "representativas", e não os trabalhadores associados, que governam a vida social.

É por isso que a acusação contra manifestações de trabalhadores é a mesma de 1886: desordem social.

Mas quem é o "social"? Não seriam os próprios trabalhadores e suas famílias?

Ou tem mais alguém?



Clique na charge para saber mais.