quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ECONOMIA POLÍTICA


É óbvio que ninguém pode negar a enorme contribuição do Partido dos Trabalhadores para a vida política acreana. Houve uma transformação radical da Realpolitik nesse Estado logo a partir do primeiro mandato de Jorge Viana e o resultado dessa transformação poder ser visto praticamente em cada esquina da cidade.

É igualmente óbvio, porém, que ao transformar a Realpolitik acreana o governo petista transformou-se com ela. De defensor da democracia social e econômica, o PT tornou-se um árduo e muitas vezes cruel protetor das suas próprias conquistas políticas. É claro que nenhum partido tem a intenção de cometer suicídio político, estabelecendo prazo de validade para as suas bandeiras e idéias: é característico de um partido político colocar-se como a melhor opção no jogo democrático.

O problema é o que se faz ao longo desse processo. Na imprensa acreana, são numerosas as acusações de silenciamento, ocultamento, manipulação e até negação descarada de notícias cujas evidências deixam a quisila no nível do ridículo. Membros do PT, políticos do primeiro escalão, ainda ligam para as redações e pedem "carinhosamente" para que determinada notícia seja publicada com ênfase ou omitida, dependendo dos interesses em jogo.

Essa prática mancha a imagem que o PT, e suspeito que a própria Frente Popular do Acre (FPA) vem se esforçando para construir em um Estado historicamente dominado por forças de direita. É uma prática nefasta que não pode ser tolerada sob quaisquer condições, mesmo que o interesse seja salvaguardar a imagem de um político ou partido qualquer.

Não se pode tolerar que em nome da transformação social cometam-se atentados à liberdade de expressão, até porque este bem ainda não foi alcançado na vida política do Acre. A população, a grande parte da população, os trabalhadores e marginalizados que lotam os matagais mal-iluminados que muitos chamam de "periferia" estão completamente ausentes dessa discussão: expressão pública é sempre expressão dos outros, não a expressão delas. São párias numa sociedade que se diz democrática.

Por esta e outras razões, uma revolução na comunicação social só pode vir quando esses dois pontos, gravíssimos, forem corretamente saneados. Nos dois casos o problema é um só: liberdade. Não há liberdade porque o poder é concentrado em um grupo político que estabelece a um só tempo os limites e os direitos do restante da sociedade.

Somente em uma sociedade democrática, onde o poder político e o poder de imprensa possa ser exercido por toda a sociedade, pode resolver adequadamente esse divórcio de interesses. Democratizado, o poder pertencerá a todos, e não mais somente a alguns. A expressão individual será o direito ao exercício do poder político livre, e o exercício do poder político livre só pode ser realmente livre quando dispuser do direito de livre expressão.


O quadro é de Eugène Delacroix. "A Liberdade guiando o povo", 1830.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A NOVA IMPRENSA ACREANA

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre (Sinjac), Marcos Vicentti, anunciou hoje em entrevista ao programa Boa Tarde Rio Branco a realização de um evento público para discutir um "novo jornalismo"; algo capaz, segundo ele, de adequar-se "ao novo momento que o Acre vive atualmente".

Taí uma coisa que não pretendo perder (como diz a Beth Passos, "nem sob tortura!"). Entre outras questões, quero saber o que é esse "novo momento" e quais as suas implicações REAIS para a vida das pessoas: sem desconsiderar a beleza dos nossos novos, verdes e belos monumentos e praças, a miséria, o desemprego e a violência não só se mantém nos mesmos espaços da cidade como também dispararam em intensidade!

Que novo momento é esse que não tem implicações práticas na vida da maioria das pessoas?

Obviamente isso tem a ver com o tipo do jornalismo que se pratica hoje, não só no Acre como no resto do país: diferentemente da velha concepção positivista, a História não é escrita por "grandes homens" e suas "grandes realizações". A História é escrita por processos sociais, sendo tais processos ao mesmo tempo manifestos e ocultados ao longo da sua realização.

Não é por acaso, por exemplo, que o PROCESSO do desgaste da política tradicional acreana tenha produzido as novas lideranças políticas que governam no Acre atualmente, assim como não é coincidência que essas lideranças lutem para ocultar o seu próprio desgaste ao colocar-se, na própria imprensa, como a quintessência final, a realização da História da política acreana - e nesse processo costumam inclusive negar fatos históricos concretos, como rebeliões de presidiários, corrupção, violência urbana, negociatas com os barões da nossa mídia etc.

Curiosamente o mesmo processo é seguido por muitos críticos (ou supostos críticos) desta trajetória. Altino Machado e Toinho Alves, só para citar dois intelectuais orgânicos dessa nova fase histórica, fazem crítica ao poder no exato tom que os atuais donos desse poder usam para criticar os donos - antigos - do mesmo poder.

Altino e Toinho - e há outros - não se colocam como atores de um processo social, não reconhecem que a crise do jornalismo sintomatiza uma crise de um sistema inteiro.

A crise da nossa imprensa é mero sintoma da crise de comunicação social.

A crise não é de informação, de notícia. A crise é de expressão, da - falta de - debate, da percepção muito clara da população de que este tipo de jornalismo atual só transmite um único tipo de visão da sociedade: a visão dos proprietários, dos salvadores de coisa alguma, dos coronéis de barranco high-tech ávidos pelo tilintar do erário público em seus bolsos sem fundos...

A origem da crise é até meio óbvia: não pode haver comunicação social se os meios de produzi-la são restritos a meia dúzia de comerciantes da informação.

A solução para as crises, a da imprensa e a da comunicação, não é outra senão a democratização dos meios de comunicação. É o controle social das empresas que produzem a ação comunicacional, e com elas o próprio ato de comunicar.

Absurdo? Absurdo é alguém desconhecer hoje em dia a origem suja das pomposas empresas de comunicação que atuam no Acre hoje, todas erguidas sobre camadas de dinheiro público, e portanto social.

Portanto, a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e ao povo o que é do povo!


A foto, que mostra o meu irmão Marcos Vicentti, é do jornal Página 20.

sábado, 10 de outubro de 2009

A CORPORAÇÃO

Uma sociedade tragada pela violência, fragmentada, desconectada.

Uma sociedade em que não há escolhas individuais, exceto a escolha que terceiros escolheram antes do nosso nascimento.

Uma sociedade viciada em bullyng, que transforma seus meios de transporte em máquinas de assassinar em nome de uma pressa imbecil, que transtorna, fragmenta e violenta ainda mais o cotidiano de todos.

É, vivemos em tempos difíceis. Mas quem disse que não há como sair desse abismo que nós mesmos criamos?

Não vejo motivos para responder negativamente. Mas, que tal começar por uma reflexão?

Assistam, mas assistam com calma...


Parte 1 -


Parte 2 -