tag:blogger.com,1999:blog-2831523177481063852024-03-14T11:12:25.293-05:00Blog do Jozafá"O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho." Theodor W. AdornoJozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.comBlogger451125tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-87046692669584341902019-03-31T10:52:00.001-05:002019-03-31T10:52:04.155-05:00Entrevista com Bruno Latour<p dir="ltr">"Para que os fatos científicos sejam aceitos, é preciso um mundo de instituições respeitadas. Por exemplo, sobre as vacinas se diz: “Estas pessoas ficaram loucas, estão contra as vacinas.” Mas não é um problema cognitivo, de informação. Os que são contra não serão convencidos com um novo artigo na revista 'The Lancet'. Essas pessoas dizem: “É este mundo contra este outro mundo, e tudo o que se diz no mundo de vocês é falso.”</p>
<p dir="ltr">Comentário meu: Não só em relação às vacinas, mas em tudo o que envolve a coletividade. O que ocorre de fato é que determinadas forças políticas pré-modernas estão utilizando a Falácia de Falsa Simetria para redesenhar o poder no mundo atual. E a democracia representativa tal como a conhecemos não tem defesas naturais contra esse germe irracionalista. Estamos assistindo o retorno da Idade Média, agora com internet, robôs e smartphones. Para acessar a entrevista completa, realizada pelo jornal El País, clique <a href="https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/29/internacional/1553888812_652680.html">aqui</a>.<br>
</p>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-58683531291480345102019-03-10T12:58:00.001-05:002019-03-10T12:58:34.936-05:00Comércio não é capitalismo<p dir="ltr"><i>O texto a seguir foi publicado por uma professora de Filosofia no Facebook. Como a patrulha "libertária" resolveu </i><i>atacá</i><i>-lo, e como o que normalmente ocorre em eventos assim é o autor, irritado, apagar a postagem, tomei a liberdade de reproduzi-lo aqui. Até a próxima!</i><br>
<i>.</i><br>
<i>Link para a postagem original: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10205703086454358&id=1771051006</i><br>
<i>.</i><br>
<i>.</i></p>
<p dir="ltr">Vou falar aqui algo óbvio, mas cuja confusão que fazem na internet tá me incomodando há tempos.</p>
<p dir="ltr">Comércio não é capitalismo.</p>
<p dir="ltr">A simples produção, troca ou compra e venda de mercadorias não configura capitalismo. Produzir um bem ou fazer um serviço, vender esse bem ou serviço e adquirir dinheiro para comprar outros bens ou serviços não é capitalismo. Pessoas TEREM DINHEIRO OU PROPRIEDADE não é capitalismo. </p>
<p dir="ltr">Tudo isso que eu falei acima existe há milênios. O capitalismo surgiu somente no século XV.</p>
<p dir="ltr">Nossa, mas se capitalismo não é isso aí em cima, o que ele é? Olha, é possível escrever teses de doutorado a respeito. Não é um assunto simples. Mas como a gente tá no facebook, eu vou resumir: </p>
<p dir="ltr">Capitalismo é um sistema econômico quase mágico, que permite e autoriza um pequeno grupo x de pessoas ganhar dinheiro - às vezes muito dinheiro - se apropriando de parte considerável do valor das mercadorias e serviços que são produzidos por um gigante grupo y de pessoas. Ou seja, os grupos x e y trabalham e produzem, mas é só o grupo x que fica rico. E a "mágica" é que isso acontece de uma forma que as pessoas do grupo y raramente percebem que estão sendo literalmente roubadas todos os dias pelas pessoas do grupo x.</p>
<p dir="ltr">Capitalismo é isso.</p>
<p dir="ltr">O grupo y trabalha muito. E produz coisas importantes, necessárias e às vezes muito valiosas. Até mesmo itens de luxo, produtos caríssimos, que não seriam caríssimos se não fosse pelo espetacular trabalho desse grupo. Mas o grupo y não recebe como pagamento o valor daquilo que produziu. Recebe muito menos. O grupo y recebe por seu trabalho uma coisa chamada "salário". Que quase sempre é baixíssimo. Tão baixo que às vezes o Estado precisa botar um piso, chamar de "salário mínimo" e determinar por lei que trabalhador nenhum pode receber menos que aquilo.</p>
<p dir="ltr">Ué, mas se o grupo y produz coisas boas e caras e só recebe salário mínimo, para onde vai o lucro gerado pelo comércio daquilo que o grupo y produziu? Tcharam! Vai para o grupo x. O grupo x geralmente é composto pelos donos dos lugares onde o grupo y produz mercadorias. E por ser dono do lugar e trabalhar para manter o lugar funcionando, o grupo x se acha mais importante e diz que é dono de tudo aquilo que o grupo y produziu. Pega toda a produção, vende, paga ao grupo y um salário. Às vezes, paga só o mínimo mesmo. Às vezes, nem o mínimo. E bota no bolso o que sobra. Que às vezes é muito. Muito mesmo, montanhas de dinheiro.</p>
<p dir="ltr">Nossa, Bia, mas isso é injusto, por que as pessoas do grupo y não se revoltam? Então, elas não se revoltam porque ensinam para elas desde crianças, no capitalismo, que elas são livres e que se elas estudarem muito e trabalharem bastante, um dia elas sairão do grupo y e serão parte do grupo x. Nada as impede, basta trabalhar, estudar, tomar as decisões certas e ter um pouco de sorte. Daí quase todo mundo do grupo y estuda, trabalha, estuda, trabalha, estuda, trabalha, envelhece e morre no grupo y. Mas quando, no meio de milhões do grupo y, uma consegue e chega no x, essa pessoa vira inspiração para as outras no grupo y, que continuam sonhando e trabalhando e estudando e morrendo pobres. É uma mágica. Algumas pessoas do grupo y, por serem um pouco menos pobres, até se iludem, começam a pensar que são grupo x e se acham superiores ao resto do povão do grupo y. Iludidas. A gente no século XX começou a chamar esses iludidos de "classe média". São grupo y do mesmo jeito, mas usam perfume caro e o cheiro forte confunde a cabeça delas.</p>
<p dir="ltr">Mas vejam só que ironia, quem teve a sorte de nascer filho de gente do grupo x fica no grupo x para sempre, por causa de uma coisa chamada "herança".</p>
<p dir="ltr">E assim caminha a humanidade. A lógica é tão perversa que no ano de 2018 mais da metade da riqueza produzida no mundo inteiro foi para o bolso de apenas 1% da população mundial. Viram? 50% da riqueza no bolso de 1%. Eles são o grupo x. O grupo y, composto pelos outros 99%, que se vire com os 50% restantes. E o grupo y se vira mal, porque os 99% distribuem sua metade de maneiras bem injustas também. Não é por acaso que mais da metade do grupo y passa fome.</p>
<p dir="ltr">Mas no século XIX teve um filósofo que escreveu livros e explicou isso para as pessoas. Ele chamou o grupo y de "classe trabalhadora". Chamou o grupo x de "burguesia". Chamou o lucro que sai dos músculos da classe trabalhadora e entra nos bolsos da burguesia de "mais valia". Chamou o sonho bobo e quase impossível da classe trabalhadora de se tornar burguês, que cria a mágica que faz a classe trabalhadora não querer se revoltar, de "ideologia". Chamou os lugares onde a classe trabalhadora trabalha de "meios de produção", dos quais a burguesia é proprietária. E concluiu que o mundo só será mais justo no dia em que acabar a propriedade privada dos meios de produção. Esses meios de produção devem ser de todos e todos que neles trabalham devem receber o justo e proporcional pagamento pelo seu trabalho.</p>
<p dir="ltr">E os leitores desse filósofo se espalharam pelo mundo explicando que a classe trabalhadora precisa se organizar e lutar contra os interesses da burguesia e contra a propriedade privada dos meios de produção, para parar de ser roubada e ter melhores condições de vida. </p>
<p dir="ltr">Esse filósofo é um perigo. Ele pode mudar tudo. É por isso que as pessoas da burguesia investem dinheiro e tempo pensando em estratégias para impedir que as pessoas da classe trabalhadora conheçam o filósofo e seus leitores. As pessoas iludidas da classe trabalhadora, a classe média que acha que é da burguesia, ajudam nisso. Chamam os leitores do filósofo de desocupados, de vagabundos, de mentirosos. Falam que eles não gostam de trabalhar. Dizem que o mundo sempre foi desse jeito e sempre será. Dizem que onde há comércio, há capitalismo. Tiram o filósofo dos livros escolares, proíbem as pessoas de falarem dele, acusam quem fala dele de ser "doutrinador", distorcem o que o filósofo disse, falam mentiras sobre a vida dele. Porque a burguesia, o 1%, quer conservar o mundo como está. São conservadores. São de direita. A classe média é de direita também, mas é porque é iludida, lembram? E os leitores do filósofo querem que o mundo mude. São de esquerda. Querem uma grande revolução. </p>
<p dir="ltr">O filósofo se chama Karl Marx. É ele que vai ajudar as pessoas a um dia pararem de confundir "comércio" com "capitalismo" nos debates de internet. E eu espero que esse dia chegue logo.</p>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-54291397053996415142019-02-26T12:15:00.001-05:002019-02-26T20:40:59.005-05:00A função política das tradições<br>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Muito já
se escreveu sobre a recente determinação do Ministério da Educação e Cultura
(MEC) para a escolas gravarem os alunos cantando o hino nacional. O que isso
tem de errado?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Rituais, cerimônias e símbolos fazem parte do funcionamento de todas as sociedades desde tempos imemoriais. Música, pinturas corporais, símbolos da natureza: vale tudo
para estabelecer entre os indivíduos a sensação de pertencimento coletivo que
une, dá sentido, disciplina os instintos. As sociedades intuem que a
submissão das vontades pessoais aos interesses da coletividade é o ponto de
partida para o mínimo de convivência ordenada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Desde o
fim do século XIX a Ciência Política utiliza a expressão “dominação
tradicional” para designar um conjunto de práticas que os Estados tomam para maximizar
esta sensação. A literatura acumulada diz que a dominação tradicional não é só
uma forma de garantir a união entre as pessoas. É também uma forma do Estado
obter legitimidade, isto é, a obediência dos governados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em
outras palavras, ao incorporar práticas, rituais e cerimônias tradicionais, os governantes
obtém automaticamente a autoridade que delas deriva, e, por tabela, o
consentimento dos cidadãos. Isso viabiliza um tipo de controle social que a
violência, por exemplo, não consegue obter – não é por acaso que boa parte da
disciplina militar, nas polícias e forças armadas, consista exatamente na
maximização da obediência cívica a rituais, cerimônias e símbolos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">É
possível vislumbrar nesse fenômeno a enorme capacidade dos seres humanos para
construir significados que garantam algum sentido à existência. Cores, formas,
animais, tons musicais etc são aleatórios em estado de natureza. Apropriados
por uma cultura passam a dar sentido à vida, individual e coletiva, para
viabilizar o exercício da ordem política. Todas as culturas são, portanto, pura criatividade – e, sabe-se hoje, em constante reformulação através do
contato intercultural entre as sociedades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A
Antropologia chama esta capacidade criativa de “pensamento simbólico”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Graças
ao pensamento simbólico, a união entre política e cultura consegue extrair o
máximo de obediência autorizada, prevenindo inclusive insurreições populares.
Quando a ordem política é também sagrada, sacrificar a própria vida em sua defesa
tende a ser um trunfo dos governos e algo bem visto socialmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Uma das
muitas lições do século XX foi que a “defesa da raça” é o passo seguinte da
“defesa da cultura” - tomada como uma “essência”, algo que define um povo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em nome
da defesa das tradições, ou do que um povo concebe idealmente como suas
tradições, é possível manter uma forma permanente de dominação social. Isso
normalmente é feito, ainda hoje, por governos avessos à forma democrática.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Para
impedir essa tendência regressiva, os teóricos dos Estados democráticos
priorizaram outra forma de controle das vontades: a dominação racional-legal.
Em outras palavras, as ações dos indivíduos não devem ser disciplinadas pelo
grau de apego às tradições, mas, principalmente, por dispositivos
jurídico-normativos impessoais. É o que chamamos de “legislação”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Para
dominar, a legislação precisa ser neutra: ao mesmo tempo em que reconhece as construções
culturais, oferece ao governo outro caminho para a legitimidade. O Poder
Executivo precisará legitimar suas ações a partir de um arsenal normativo
aprovado pelo Legislativo - deputados e senadores -, que representa as
contradições culturais presentes numa sociedade. Isso garante um certo grau de
diálogo entre as instituições governamentais.<o:p></o:p></span><br>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na
medida em que um governo tenta identificar seu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">slogan</i> de campanha com uma tradição cívica, exatamente como fez o
ministro da Educação em seu comunicado, esse princípio é ferido, mas não é
somente isso. Vi hoje pela manhã, enquanto escrevia esse artigo, que o ministro
voltou atrás de sua decisão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Era
esperado. </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;">Mas, meu ponto é outro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Meu
ponto é que a associação entre símbolos nacionais e ordem social, como
crescentemente vem ocorrendo no Brasil e em outros países, está a todo custo tentando
devolver à esfera pública uma forma de governo de viés medieval, cuja
autoridade não se deriva do marco legal, mas da obediência às tradições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em
outras palavras, o mundo está mergulhando de cabeça em outra forma de fazer
política. Não é nada novo, inclusive. Todo e qualquer regime de poder pela força da
aparência, de imperadores da antiguidade a déspotas esclarecidos do fim da
Idade Média, governaram exatamente nesses moldes. Nessas relações
de poder, claro, não há espaço para a democracia. São regimes de força bruta e
obscurantistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O único
ponto novo é que esse regresso político, em nome do resgate das tradições para
combater a decadência dos valores morais, encontrará um capitalismo em crise de
acumulação. A rigor, a crise moral é a superfície da crise de produção de valor
material. É seu reflexo. Isso mostra o quão equivocado o regresso está.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Desde
meados do século XIX, quando vários movimentos sociais constituíram os direitos
políticos, sociais e econômicos, os Estados tiveram que se organizar, se
quisessem dominar as sociedades, concedendo esses direitos. Com a crise, a
tendência é que a vida pública como a conhecemos, com sistemas de saúde,
segurança, educação etc, seja aos poucos desmontada enquanto as formas de
governo tornam -se indiferentes ao controle coletivo – porque governam através
dos “valores”, e disso derivam a sua legitimidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Vem aí, portanto, o
divórcio entre capitalismo e democracia, com os “valores morais” como
testemunhas. Em nome da ordem e dos cidadãos de bem.</span></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-43956230633021957372015-07-17T15:47:00.001-05:002015-07-17T16:08:36.149-05:00O que querem os evangélicos?<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Galera, desculpem a ausência prolongada. É mestrado, projeto de doutorado e uma porrada de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Mas... como diria Mumm-rá (acho que é assim que escreve), EU VOLTAREI... mhuamhuamhua... Ando preparando umas mudanças pro blog, nada muito grave, só algumas alterações de layout e melhoria de conteúdo também.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por enquanto, deixo para vocês <strike>um tostão da minha voz</strike> um artigo que publiquei no <a href="http://www.ac24horas.com/">AC24 Horas</a>, aqui de Rio Branco. Quem quiser entender melhor o caso é só clicar aqui.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Bjos na boca e até breve!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">PS - Quem quiser entender melhor do que trata o texto é só clicar <a href="http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/05/08/universitario-queima-biblia-em-encontro-de-ateus-na-ufac-e-gera-protestos.htm">aqui</a>.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">-------------------------------------</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; line-height: 30px;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O que querem os evangélicos?</b></span></span><br />
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Jozafá Batista</b></span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Numa das mais belas e esquecidas cenas de “Gladiador” (Ridley Scott, 2000), um velho imperador Marco Aurélio, preocupado com o seu legado, testa o general Maximus: “O que é Roma?”. O experiente militar, veterano de muitas batalhas, não titubeia: “Vi muito deste mundo. É brutal, cruel e obscuro. Roma é a luz”.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não é uma frase absurda. Em 180 d.C., data em que o filme é ambientado, o Império Romano passava por uma franca expansão que o transformaria numa das maiores empreitadas coloniais da história. Em 391 d.C. um novo ingrediente ajudaria a fixar esse ideal geopolítico: o cristianismo, declarado religião oficial do Império. O lema “um Deus, um imperador” já fazia parte das campanhas militares romanas desde Constantino (272-337 d.C.).</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao longo dos séculos a Europa assistiria ao crescimento de uma expressão religiosa que não só se colocava como “a luz” de Maximus, ou seja, como a única verdadeira diante de todas as outras, como também alicerçava a autoridade do poder político que a favorecia. Ingleses, franceses, holandeses, espanhóis, portugueses: não foram poucas coroas, ao longo de mais de um milênio e meio, que obtiveram as bênçãos apostólicas para – não necessariamente nessa ordem – catequizar, pilhar, escravizar e assassinar os mais diversos povos, especialmente aqueles que relutavam a aceitar o Evangelho da Salvação e suas Escrituras.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nascido na fase de reunificação do Império Romano, o cristianismo herdou dele a sua noção de universalidade. A ideia de ser portador da única verdade, da revelação final de Deus para a espécie humana – da “luz” – em detrimento de outras religiões fez com que o cristianismo atravessasse séculos de história com o apoio da política e de exércitos bem armados.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Isso explica a comoção geral em torno do recente episódio da queima da bíblia na Universidade Federal do Acre (Ufac). Embora o livro não tenha sido retirado de alguma igreja, alega-se que houve “intolerância religiosa”. Ora, pela mesma lógica, hindus que consideram vacas animais sagrados poderiam acusar todo o ocidente de cometer o mesmo crime! E que dizer das tribos indígenas que consideram sagrados o ar, o solo, as árvores? Não poderiam acusar de intolerância religiosa os que poluem os recursos naturais?</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Numa curiosa matéria publicada em um site local um pastor chegou a justificar, a sério, que “a Bíblia não é um livro, a Bíblia é uma revelação. É a Bíblia é o primeiro livro de Direito do mundo. O primeiro livro de garantia de Direitos.” O Homo sapiens tem aproximadamente 50 mil anos. O cristianismo tem 2 mil e o judaísmo no máximo 3 mil. O pastor não sabe, mas a humanidade não passou 47 mil anos sem qualquer tipo de ordem jurídica.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nem sem religiões: como é possível explicar que uma religião específica, de determinado local e data, seja a única portadora da verdade se milhares de civilizações, próximas ou distantes, já passaram muito antes de seu surgimento pelo planeta (algumas delas varridas do mapa porque foram consideradas pagãs) com suas respectivas religiões e deuses?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não se explica, a não ser pela força política desta “verdade universal” impregnada no cristianismo. O Império Romano dela lançou mão para forjar a Europa e a Europa para produzir o continente americano. Pouco a pouco, países e povos foram anexados a vastos impérios em nome de uma suposta verdade ao mesmo tempo política e religiosa. “Um só deus, um só imperador”. Uma só política, uma só igreja. Um só povo, uma só fé.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Logo, expressões críticas ao cristianismo só podem ser vistas como intolerantes por quem já tem o cristianismo como uma verdade universal, como “a luz”. Queimar uma bíblia soa como queimar a própria verdade, queimar a palavra de Deus etc, mas não é assim porque nem todos pensam da mesma maneira. Algumas pessoas entendem a bíblia como um mecanismo de uniformização social, uma ferramenta política para disciplinar a sociedade.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que querem os evangélicos? Um país para o Senhor Jesus, certo? Pois bem, isso já aconteceu algumas vezes ao longo da história. A diferença é que hoje ninguém é obrigado a considerar também sagrado o que outras pessoas consideram, mesmo a pretexto da “luz”. Pensar assim é ser intolerante, ou, para ser mais exato, usar o argumento da intolerância de forma invertida, para acusar o outro daquilo que o próprio acusador pratica.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #444444; line-height: 30px; margin-bottom: 35px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A repercussão beata de episódios como o da Ufac mostra o quanto a nossa “democracia” é frágil e o quanto a religião é útil para subverter o seu princípio mais básico: nenhuma expressão social tem o direito de se colocar em um pedestal de verdade absoluta a ponto de exigir submissão de todas as demais. Esse tempo já passou, e, diga-se de passagem, já foi tarde. Nós é que estamos demorando demais a nos acostumar com isso.</span></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-82408716698622127182013-07-29T11:00:00.001-04:002013-07-29T11:00:21.872-04:00O ARTIGO DE JAMES PETRAS SOBRE O BRASIL<span style="font-size: medium;"> O sociólogo norte-americano <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/James_Petras">James Petras</a>, um dos mais refinados estudiosos da política e da economia mundial, publicou no último dia 21, em <a href="http://petras.lahaine.org/">seu site</a> (em inglês), um artigo poderoso sobre a conjuntura brasileira: </span><span style="font-size: medium;"><i>Brazil: extractive capitalism and the great leap backward</i> ("<i>Brasil: capitalismo extrativo e o grande salto para trás</i>", em tradução livre).</span><br />
<br />
<span style="font-size: medium;">O texto analisa o fenômeno da desindustrialização, a questão ambiental, os protestos de rua em junho/julho, a herança política e econômica e a tragédia da política de alianças do nosso país. Trata-se de uma das mais completas - e ousadas - análises da situação contemporânea brasileira no contexto mundial a que tive acesso nos últimos anos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: medium;">Apesar de bem longo - cerca de 15 páginas - o texto merece ser lido tanto pelas conexões que faz quanto pelo silêncio com que foi recebido no Brasil. Nenhum jornal ou <i>site</i> o reproduziu até agora.</span><br />
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">Para ler a tradução da agência portuguesa Resistir.info, <a href="http://resistir.info/petras/petras_23jul13.html">clique aqui</a>. </span>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-67158573454212971592013-07-24T22:48:00.001-04:002013-07-24T22:49:02.144-04:00BRANQUEAMENTO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_LLT6s_A-j5VKwdm_Mg-9LyelNKQPAdPfiTFbb0zrb72H0_Sy6OugMxD8Wt9b5Uz8MyeJ5KIFbBZVUjxehWJ5yeyKUje0bz7_Z4JmyA7udQSa41yCyN_eaa6GI37B0ZIYeGIHuijmqXI/s1600/DSC06103.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_LLT6s_A-j5VKwdm_Mg-9LyelNKQPAdPfiTFbb0zrb72H0_Sy6OugMxD8Wt9b5Uz8MyeJ5KIFbBZVUjxehWJ5yeyKUje0bz7_Z4JmyA7udQSa41yCyN_eaa6GI37B0ZIYeGIHuijmqXI/s400/DSC06103.JPG" width="400" /></a></div>
<br />Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-4843016950872301512013-07-23T15:42:00.000-04:002013-07-23T15:46:13.945-04:00GÉRSON ALBUQUERQUE: A GREVE DA EDUCAÇÃO E A CRISE DOS SINDICATOS<b><i>A</i> luta dos trabalhadores da educação sempre foi referência no Acre. Nos anos 90, muitos sindicatos surgiram como resultado das conquistas dos professores, fornecendo, inclusive, prestígio e lideranças para o projeto eleitoral do Partido dos Trabalhadores. Desde 1999 distribuídos entre o sindicato dos professores licenciados (Sinplac) e dos Trabalhadores em Educação (Sinteac), os professores vivem hoje uma crise de representatividade resultante exatamente dessa proximidade. Nesse artigo, Gerson Albuquerque, historiador e professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), analisa um dos efeitos perversos dessa aproximação sindicato/governo: <a href="http://www.ac24horas.com/2013/07/19/zen-manda-fechar-portao-do-cerb-e-coloca-segurancas-para-impedir-entrada-de-servidores/">a contratação de seguranças para impedir a entrada</a> de "indesejáveis" no local de uma assembléia, no auditório do CEBRB - e propõe a sua superação. Coerente com um fenômeno que o cientista político Israel Souza define como <a href="http://associacaosociologosac.blogspot.com.br/2011/07/hegemonia-em-declinio-e-subversivismo.html">"hegemonia em declínio da FPA"</a>, Albuquerque lembra o caráter público das greves e dos sindicatos e desnuda o absurdo a que pode chegar a intromissão de interesses particulares (privados) na vida sindical.</b><br />
<i><br /></i>
<br />
<b>“A volta do cipó de aroeira”</b><br />
<br />
<b>Gerson Albuquerque (*)</b><br />
<br />
Acompanho, desde a Universidade Federal do Acre, os movimentos de colegas trabalhadores em educação acreanos, em luta por melhores condições de vida e de trabalho, por salários dignos e por respeito ao ofício que exercem. Infelizmente não tenho tido oportunidade de assistir às suas assembleias e reuniões, mas acesso, sempre que possível, aos vídeos postados em canais alternativos e uma ou outra reportagem de televisão e me solidarizo com sua greve e suas reivindicações, feliz por saber que o sindicalismo de “faz de contas” não mais manobra e engana a maioria desses trabalhadores, como fez na última década.<br />
<br />
Nesse sentido, ao ouvir a fala do presidente do Sinteac, assumindo ter sido o contratante de “leões de chácara” para impedir o acesso de pessoas “estranhas à categoria” ao espaço público da quadra do Colégio Estadual Rio Branco, onde ocorreria a assembleia dos trabalhadores em educação, na última sexta-feira, 19 de julho de 2013, não pude deixar de perceber sua evidente e completa incapacidade para o cargo de presidente do maior sindicato de trabalhadores do estado do Acre.<br />
<br />
Se tivesse o mínimo de compreensão sobre o que significa dirigir um sindicato desse porte, especialmente, de trabalhadores em educação, João Sandim, teria conhecimento que, para evitar qualquer tipo de dúvida, bastaria entregar um crachá de identificação aos integrantes da categoria, no momento de assinarem a lista de presença para a confecção da obrigatória ata de cada reunião.<br />
<br />
Esse procedimento, além de facilitar a visualização e contagem de votos no momento de aprovação ou desaprovação das propostas, resolveria o problema do controle de quem pode ou não se expressar com voz e voto em cada assembleia, sem cercear o direito de ir e vir de qualquer cidadão, integrante de outra categoria, pais, mães e os próprios alunos interessados em acompanharem o ritmo das negociações e o desenrolar do movimento grevista.<br />
<br />
Como historiador e militante de movimentos sociais na cidade de Rio Branco ignoro acontecimento como esse em que a direção de uma agremiação de trabalhadores, em greve, tenha impedido ou tentado impedir a entrada de pessoas “estranhas” aos locais de suas assembleias.<br />
<br />
As diretorias de sindicatos de trabalhadores não podem transformá-los em congregações secretas e obscuras, assim como não podem impedir o acesso de não sindicalizados aos locais de reuniões e, principalmente, em assembleias de greve. Tal impedimento é equivocado não apenas por seu caráter antidemocrático e escuso, mas porque fere o estado de direito.<br />
<br />
Não se pode esquecer que reuniões como essas decidem por toda uma categoria de trabalhadores, independente da totalidade de seus membros serem sindicalizados ou não. Logo, todos devem ter prévio conhecimento dos locais e horários onde serão realizadas e a garantia do livre acesso às assembleias, sem coerção ou qualquer forma de assédio ou constrangimentos.<br />
<br />
Os diretores dos sindicatos que representam os trabalhadores em educação e os professores licenciados do Acre não devem esquecer a natureza pública dessas entidades, principalmente, porque se trata de agentes públicos, pagos com verbas públicas e vinculados a um serviço público essencial. Suas discussões, decisões e posicionamentos não podem ser fechados ao público porque atingem toda a sociedade.<br />
<br />
Contratar e colocar “leões de chácara” em portões de um prédio ou escola pública para barrar a entrada de quem quer que seja é atitude ilegal; obrigar trabalhador a se sindicalizar é ilegal; impedir não sindicalizado de ter acesso a uma assembleia de greve é imoral e ilegal; obrigar um trabalhador a apresentar seu contracheque ou holerite ou carteira de associado a quem quer que seja para ter acesso a uma assembleia pública é um ato espúrio, imoral e ilegal.<br />
<br />
A atitude do presidente do Sinteac evidencia o fundo do poço da desmoralização de um tipo de representação sindical que passou a viver da barganha, subordinação e busca de obter vantagens pessoais frente ao Poder Executivo acreano. Cinismo, despreparo e autoritarismo estão estampados no rosto do presidente do Sinteac ao anunciar que contratou os seguranças para impedir que pessoas “estranhas” à categoria, tais como “professores da Ufac” e o “pessoal da telexfree” tivessem acesso ao local da malograda assembleia.<br />
<br />
Não sei e não me interessa saber quem é o “pessoal da telexfree”, mas, dentre os professores da Ufac, onde trabalho desde 1989, tenho certeza de que não tem nenhum colega interessado em tumultuar greve ou assembléia de greve de outros trabalhadores, principalmente, da área da educação. No ano passado, fizemos uma greve de quatro meses e sabemos muito bem os riscos, custos e os significados de um movimento paredista. Durante nossa greve, nunca tivemos tumulto em assembleias porque a dirigimos de forma democrática, respeitando as divergências cumprindo literalmente tudo o que a categoria decidia.<br />
<br />
Nunca impedimos alunos e nem qualquer outra pessoa de participar e falar em nossas reuniões. Muito pelo contrário, posto que esse é um tipo de movimento que ganha força com a solidariedade e o apoio daqueles que o honram com suas presenças.<br />
<br />
Lamentavelmente João Sandim e outros que lhe dão sustentação (anti)política deixaram de compreender o que significa a justa e solidária luta dos trabalhadores em defesa de seus direitos, com independência e autonomia frente aos patrões ou a gestores públicos autoritários, ardilosos e incompetentes. Sua fala titubeante, bem ao modo dos serviçais de plantão, atinge, de forma leviana e covarde, a todos nós que nada temos com os problemas que enfrenta; com sua falta de credibilidade junto à categoria que deveria representar. Seus atos e palavras são uma tentativa desesperada de transferir para outros sua incapacidade e isso é algo absolutamente inaceitável.<br />
<br />
No mais, a histérica cantilena conservadora e reacionária sempre retorna à boca dos autocratas de plantão e seus sequazes nesses momentos em que a sociedade ou setores da sociedade não mais se deixam enganar pela retórica vazia daqueles que controlam o aparelho estatal e – no contexto da greve da educação – os atordoados diretores do Sinplac, Sinteac e CUT.<br />
<br />
Estes, incapazes de enfrentar o debate franco e aberto no campo das ideias, passam a utilizar a estrutura sindical e/ou governamental para difamar e tentar <a href="http://www.ac24horas.com/2013/07/19/carapanas-assumem-movimento-grevista-da-educacao-e-sinplac-admite-perda-do-controle/">desmoralizar seus críticos rotulando-os de “baderneiros”, “anarquistas”, “terroristas”, “marginais” ou coisa desse gênero</a>. O próximo passo é fazer uso da força bruta e chamar a polícia para conter os “baderneiros”. Esse pífio desfecho todos nós já conhecemos.<br />
<br />
<a href="http://www.ac24horas.com/2013/07/22/cut-chama-professores-de-terroristas-e-eles-prometem-acionar-sindicatos-na-justica/">A “nota de repúdio” assinada pela CUT – Acre</a> e publicada no final da semana passada, tem como única finalidade tentar desqualificar e criminalizar os integrantes da categoria de trabalhadores em educação que não aceitam um simulacro de negociação na qual aos trabalhadores resta voltar para seus locais de trabalho, satisfeitos com as promessas vazias e o engodo do jargão de tecnocratas empenhados na impossível tarefa de ocultar o “sol com a peneira” e dizer amém às ordens de um chefe de estado que nos deve muitas explicações sobre as denúncias e inquéritos policiais acerca dos escandalosos desvios de verbas públicas destinadas a projetos fáusticos, tipo o “cidade do povo” e o “ruas do povo”, sob o invólucro do malfadado cartel G-7.<br />
<br />
Com sua “nota de repúdio” a direção da CUT – Acre, deixa cair a máscara e passa a atuar como uma espécie de “capitão do mato” a perseguir, difamar e criminalizar todos aqueles que levantam suas vozes contra as ordens do barracão/sede do executivo estadual/municipal acreano.<br />
<br />
É dever de todos nós, trabalhadores de outras categorias, nos solidarizar à justa greve de professores e demais trabalhadores em educação que não recuam e não se deixam enganar na luta por seus direitos. Essa greve, apesar das diretorias sindicais, “é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”, como dizia o poeta. É um espectro zunindo nos ouvidos de sindicalistas pelegos, sanguessugas da categoria e de governantes ilegítimos porque autoritários; autoritários porque incompetentes; e incompetentes porque<br />
não sabem que a coisa pública não pode ser gerida como a cozinha ou a privada de suas casas.<br />
<br />
<b>(*) Professor Associado do </b><b>Centro de Educação, Letras e Artes - </b><b>Universidade Federal do Acre - UFAC.</b>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-59248467921435445032013-07-22T10:25:00.001-04:002013-07-22T10:35:22.888-04:00A CARTA DO MPL/SP À PRESIDENTA DILMA<b>Em 24 de junho, após a Presidência da República anunciar <a href="http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2013/06/24/interna_politica,373102/presidente-dilma-recebe-lideres-do-movimento-passe-livre-de-sao-paulo.shtml">uma série de medidas</a> em reação às passeatas que tomaram conta do país, o <a href="http://saopaulo.mpl.org.br/">núcleo paulista do Movimento do Passe Livre (MPL) </a>divulgou, em resposta, uma carta aberta. De forma didática, o documento expõe as razões da luta do MPL.</b><br />
<br />
<b>Apesar da tarifa na capital acreana, R$ 2,40, ser somente 60 centavos <a href="http://www.sptrans.com.br/a_sptrans/tarifas.aspx">mais barata que a de São Paulo</a>, o custo do transporte <i>público</i> em Rio Branco não esteve na pauta dos protestos locais.</b><br />
<br />
<b>Trata-se de detalhe curioso, uma vez que o impacto da tarifa atinge diretamente os mais pobres: quem ganha salário mínimo (R$ 678) tem que destinar, em média, 15% do orçamento só para chegar e voltar do trabalho, 22 vezes ao mês. Se descontada a previdência (9%), esse percentual sobe.</b><br />
<br />
<br />
<h2>
Carta aberta do MPL-SP à presidenta</h2>
<div>
<span style="font-size: 12pt;">À Presidenta Dilma Rousseff,</span></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ficamos surpresos com o convite para esta reunião. Imaginamos que
também esteja surpresa com o que vem acontecendo no país nas últimas
semanas. Esse gesto de diálogo que parte do governo federal destoa do
tratamento aos movimentos sociais que tem marcado a política desta
gestão.<br />
<br />
Parece que as revoltas que se espalham pelas cidades do Brasil
desde o dia seis de junho tem quebrado velhas catracas e aberto novos
caminhos.<br />
<br />
O Movimento Passe Livre, desde o começo, foi parte desse processo.
Somos um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais
pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomou as ruas do
país. Nossa palavra é mais uma dentre aquelas gritadas nas ruas,
erguidas em cartazes, pixadas nos muros.<br />
<br />
Em São Paulo, convocamos as
manifestações com uma reivindicação clara e concreta: revogar o aumento.
Se antes isso parecia impossível, provamos que não era e avançamos na
luta por aquela que é e sempre foi a nossa bandeira, um transporte
verdadeiramente público.<br />
<br />
É nesse sentido que viemos até Brasília.<br />
<br />
O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a
todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça
da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente
deixa de ter dinheiro para pagar a passagem.<br />
<br />
Questionar os aumentos é
questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o
transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população.
Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como
direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em
xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um
preço que nem todos podem pagar.<br />
<br />
O transporte fica limitado ao ir e vir
do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para
abri-las que defendemos a <i>tarifa zero</i>.<br />
<br />
Nesse sentido gostaríamos de conhecer o posicionamento da
presidenta sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC
90/11, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6<sup>o</sup>
da Constituição Federal.<br />
<br />
É por entender que o transporte deveria ser
tratado como um direito social, amplo e irrestrito, que acreditamos ser
necessário ir além de qualquer política limitada a um determinado
segmento da sociedade, como os estudantes, no caso do passe livre
estudantil.<br />
<br />
Defendemos o passe livre <i>para todas e todos</i>!<br />
<br />
Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos
os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte
individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o
consumo de carros (IPEA, 2011).<br />
<br />
O dinheiro público deve ser investido em
transporte público!<br />
<br />
Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o
inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº
12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos
municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público.<br />
<br />
Como deixa claro seu artigo 9º, esta lei prioriza um modelo de gestão
privada baseado na tarifa, adotando o ponto de vista das empresas e não o
dos usuários. O governo federal precisa tomar a frente no processo de
construção de um transporte público de verdade.<br />
<br />
A municipalização da
CIDE, e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público,
representaria um
passo nesse caminho em direção à tarifa zero.<br />
<br />
A desoneração de impostos, medida historicamente defendida pelas
empresas de transporte, vai no sentido oposto. Abrir mão de tributos
significa perder o poder sobre o dinheiro público, liberando verbas às
cegas para as máfias dos transportes, sem qualquer transparência e
controle.<br />
<br />
Para atender as demandas populares pelo transporte, é
necessário construir instrumentos que coloquem no centro da decisão quem
realmente deve ter suas necessidades atendidas: os usuários e
trabalhadores do sistema.<br />
<br />
Essa reunião com a presidenta foi arrancada pela força das ruas,
que avançou sobre bombas, balas e prisões. Os movimentos sociais no
Brasil sempre sofreram com a repressão e a criminalização. Até agora,
2013 não foi diferente: no Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre
de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma
liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal,
cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram
presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da
Copa do Mundo da FIFA.<br />
<br />
A resposta da polícia aos protestos iniciados em
junho não destoa do conjunto: bombas de gás foram jogadas dentro de
hospitais e faculdades; manifestantes foram perseguidos e espancados
pela Polícia Militar; outros foram baleados; centenas de pessoas foram
presas arbitrariamente; algumas estão sendo acusadas de formação de
quadrilha e incitação ao crime;
um homem perdeu a visão; uma garota foi violentada sexualmente por
policiais; uma mulher morreu asfixiada pelo gás lacrimogêneo.<br />
<br />
A
verdadeira violência que assistimos neste junho veio do Estado – em
todas as suas esferas.<br />
<br />
A desmilitarização da polícia, defendida até pela ONU, e uma
política nacional de regulamentação do armamento menos letal, proibido
em diversos países e condenado por organismos internacionais, são
urgentes.<br />
<br />
Ao oferecer a Força Nacional de Segurança para conter as
manifestações, o Ministro da Justiça mostrou que o governo federal
insiste em tratar os movimentos sociais como assunto de polícia. As
notícias sobre o monitoramento de militantes feito pela Polícia Federal e
pela ABIN vão na mesma direção: criminalização da luta popular.<br />
<br />
Esperamos que essa reunião marque uma mudança de postura do governo
federal que se estenda às outras lutas sociais: aos povos indígenas,
que, a exemplo dos Kaiowá-Guarani e dos Munduruku, tem sofrido diversos
ataques por parte de latifundiários e do poder público; às comunidades
atingidas por remoções; aos sem-teto; aos sem-terra e às mães que
tiveram os filhos assassinados pela polícia nas periferias.<br />
<br />
Que a mesma
postura se estenda também a todas as cidades que lutam contra o aumento
de tarifas e por outro modelo de transporte: São José dos Campos,
Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, entre muitas
outras.<br />
<br />
Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às
demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o
país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa,
continuaremos nas ruas!<br />
<br />
Tarifa zero já!<br />
<br />
Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!</div>
<div>
</div>
<div>
<br />
<b>Movimento Passe Livre São Paulo</b></div>
<div>
<br />
24 de junho de 2013</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<a href="http://saopaulo.mpl.org.br/" rel="nofollow" target="_blank">http://saopaulo.mpl.org.br/</a><span style="color: #888888;"><span style="color: #888888;"></span></span></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-59199491846271447122013-07-19T10:41:00.000-04:002013-07-19T10:53:32.846-04:00A MORTE DE TAYNÁ, A TORTURA E A IMPRENSA<b><a href="http://www.diretodaredacao.com/"></a></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://app.todarede.com/sendbox/imagex2.0/?width=500&image=fdGsrvBQg2kD2fsPo97hSuLTiCG9QvCRr4UitUDW&idc=S3D443K362K5J5K1Z90ED3I8U764T89OX9008238C" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://app.todarede.com/sendbox/imagex2.0/?width=500&image=fdGsrvBQg2kD2fsPo97hSuLTiCG9QvCRr4UitUDW&idc=S3D443K362K5J5K1Z90ED3I8U764T89OX9008238C" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<b>Por Uraniano Mota, no <a href="http://www.diretodaredacao.com/">Direto da Redação</a></b><br />
<b> </b> <br />
O inquérito do assassinato da menina Tayná, no Paraná, ilustra o
tempo de trevas que sobrevive no Brasil.<br />
<br />
Em breves linhas lembramos
que toda a imprensa noticiou que uma linda jovem de 14 anos, Tayná
Andrade da Silva, havia sido estuprada e morta por quatro empregados
de um parque de diversões, no dia 25 de junho. E que os frios
estupradores confessaram o seu hediondo crime, depois de um rápido e
eficiente trabalho da polícia.<br />
<br />
Os apresentadores na tevê bradavam,
elevavam a tensão em nossas veias: “E aí, o que devia ser feito com
esses animais?”, e mostravam as imagens das quatro feras.<br />
<br />
Assim estávamos nós com a nossa consciência insatisfeita, porque
clamávamos pelo sangue desses monstros, quando, passados alguns dias, a
brava perita Jussara Joeckel descobriu que jamais houve qualquer
violência sexual contra Tayná.<br />
<br />
Mais, que o exame de DNA no sêmen
encontrado na calcinha da jovem não pertence aos tidos como culpados. E
para o cúmulo do absurdo, a perita afirma que a menina foi morta depois
dos “assassinos” presos.<br />
<br />
Escândalo. A perita Jussara teve a sorte de ser
apoiada por uma jornalista à altura, Joice Hasselmann.<br />
<br />
A repórter
divulgou a análise e registrou no Blog da Joice que em meio aos gritos e
ao bate-boca de uma reunião na Secretaria de Segurança, um integrante
da Polícia Civil chegou ao extremo da pergunta: "Será que na
contraprova nós não conseguimos um laudo com resultado inconclusivo?".<br />
<br />
Sabe-se agora que o preso Adriano teve um cabo de vassoura enfiado no
ânus, amarrado de ponta-cabeça e agredido com uma máquina de choque,
para que confessasse o crime.<br />
<br />
A máquina de choque foi usada com uma
haste de metal introduzida no seu ânus. Adriano, internado em hospital,
tem sinais de perfuração no intestino. E todos os presos, depois de
torturados, tiveram que assinar sem ler os “seus” depoimentos
escritos.<br />
<br />
Infelizmente, este é um caso exemplar da polícia brasileira, de Norte
a Sul do país. Prende-se o culpado, para depois iniciar-se a
investigação que prove a sua culpa.<br />
<br />
A investigação, todos sabemos, é
sempre a mesma: porradas primeiro, uma pergunta depois. Se o culpado não
responder logo o que se quer provar, tudo mal. Pau de arara e choques
elétricos como método infalível de apuração. Se responder conforme a
acusação, tudo mais ou menos.<br />
<br />
A tortura continua, mas dessa vez para
selar o depoimento, ou como gritam os torturadores: “<i>Ah, então você escondia o jogo, não é, safado? Você vai ver agora o que um criminoso merece”</i>. Pelo medo e terror, selam assim a culpa do culpado.<br />
<br />
O costume da tortura se transformou em uma coisa tão banal, que os
advogados falam nas entrevistas em invalidação do inquérito, porque
contaminado pela violência. Isso é óbvio. Daí os doutores partem para a
soltura dos presos, com a posterior cobrança ao Estado pela prisão
indevida. O que é justo.<br />
<br />
Mas da ação lhes escapa o maior horror: eles
parecem não ver que os policiais deveriam responder, antes de tudo,
pela tortura, porque esse é um crime condenado, imprescritível em nossa
Constituição e em todos os tribunais civilizados. O fundamental lhes
escapa: a mais severa punição prisional para o torturador.<br />
<br />
Mais. Chamamos a atenção para o comportamento da imprensa que
reproduz as versões da polícia sem um filtro, sem uma dúvida. Os
repórteres copiam o Boletim de Ocorrência, e de tal modo que repórter
policial é o mesmo que policial repórter. Mas isso é igualzinho ao tempo
da ditadura.<br />
<br />
É igual àqueles malditos anos em as mortes de
“terroristas” eram reproduções exatas da Agência Segurança Press. Se
não, olhem o que se falou sobre o assassinato da menina de 14 anos nas
tevês:<br />
<br />
<b>“Polícia termina investigação sobre morte da menina Tayná”, em <a href="http://globotv.globo.com/rpc/parana-tv-2a-edicao-curitiba/v/policia-termina-investigacao-sobre-morte-da-menina-tayna/2675480/," style="background: transparent url(http://www.diretodaredacao.com/images/external.png) no-repeat 3px 3px; padding-left: 15px;" target="_blank" title="Link externo">Clique aqui</a> 05/07/2013. </b><br />
<br />
<b>“Polícia conclui inquérito e afirma que os suspeitos mataram Tayná, em <a href="http://catve.tv/noticia/9/63190/policia-conclui-inquerito-e-afirma-que-os-suspeitos-mataram-tayna" style="background: transparent url(http://www.diretodaredacao.com/images/external.png) no-repeat 3px 3px; padding-left: 15px;" target="_blank" title="Link externo">Clique aqui</a> , 05/07/2013</b><br />
<br />
Os exemplos da imprensa brasileira, que reproduz de modo literal o
que a polícia lhe sopra, ao fim de torturante inquérito, poderiam ser
mostrados a um infernal infinito.<br />
<br />
E o mais grave, leitor. Agora mesmo,
neste preciso instante, um preso comum está sendo torturado, sofrendo
empalação ou é morto. Isso em plena democracia. Era bom que
transformássemos o caso Tayná em um começo de real mudança, nas
delegacias de polícia e na imprensa.<b><br /></b>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-26881994729111762152013-07-17T23:50:00.002-04:002013-07-17T23:51:25.256-04:00MITO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMHZaWc7JQsEm1gyC484JrKno3j91NXDLbck4oOqG3MuXX4cXLt-cIPVEpm-aGMtZjX67-DlC1XInIYFmsK4dcZxKemNfkapQbWe_dbUOlyVwQRMQNhoqBNcMHOo5zUZb6RWi64b6snvs/s1600/015.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMHZaWc7JQsEm1gyC484JrKno3j91NXDLbck4oOqG3MuXX4cXLt-cIPVEpm-aGMtZjX67-DlC1XInIYFmsK4dcZxKemNfkapQbWe_dbUOlyVwQRMQNhoqBNcMHOo5zUZb6RWi64b6snvs/s400/015.JPG" width="400" /></a></div>
<br />Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-76058989592590690492013-07-12T16:35:00.002-04:002013-07-15T09:47:19.709-04:00AS PARALISAÇÕES E A LÓGICA HIGIENISTA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Z7EA5umU40Jo1Nst-Z-pmAz9JEHkc0SHWEDkGR6wmapbJQrT5WS1cJIsLF3b1g62bkivNcw9ffD5rFDKZjjmZ8mAJiTBCXT5ypgln8GVJXuqMG19GMqMPk-v53NtyWr0Qx5Z3oSpq_s/s1600/01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Z7EA5umU40Jo1Nst-Z-pmAz9JEHkc0SHWEDkGR6wmapbJQrT5WS1cJIsLF3b1g62bkivNcw9ffD5rFDKZjjmZ8mAJiTBCXT5ypgln8GVJXuqMG19GMqMPk-v53NtyWr0Qx5Z3oSpq_s/s400/01.jpg" width="347" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Charge: Maringoni</b></td></tr>
</tbody></table>
Manifestantes que fixaram cartazes e faixas em determinados locais <i>pretensamente públicos</i>
nos últimos eventos em Rio Branco encontraram diversos níveis de
resistência. A máquina pública ganhou vida autônoma. A burocracia, de
meio administrativo, passou a ser um fim em si mesma e propôs a
superação da própria atividade política. O sentido da <i>res publica</i> (lat. <i>coisa pública</i>), a exposição do conflito de idéias <i>que integram a própria vida pública</i>,
foi substituído por um valor estético: a estética da ordem, na
circunscrição dos espaços autorizados pela ordem. Tal inversão não é original nem surpreendente. É um sintoma do mal.<br />
<br />
Em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=n9s00HRB"><i>Arquitetura da Destruição</i></a> (<span class="st"><i>Undergångens arkitektur</i>, 1989),</span> o diretor sueco <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Cohen">Peter Cohen</a> tenta entender a irrefreável ascensão do fenômeno nazista. A velha e sombria pergunta que ainda hoje paira sobre a Alemanha -<i> como foi possível?</i>
- é respondida de forma inovadora por Cohen, que foge das fórmulas
prontas, como o poder econômico dos judeus na Europa (e o antissemitismo
daí decorrente), o blecaute socioeconômico originado da primeira guerra
mundial, a inteligência política de Adolf Hitler etc. No argumento de <i>Arquitetura</i>...
todos esses fatores se entrelaçaram sobre um sólido fundamento: a
higienização dos espaços públicos, doutrina nascida na própria Europa na
primeira metade do século XIX.<br />
<br />
A idéia de que espaços físicos organizados garantiriam a ordem política
foi um dos subprodutos do liberalismo, doutrina que defende o
individualismo econômico como salvaguarda da ação política. No alvorecer
do século XX, liberalismo, individualismo e higienismo ultrapassaram de
mãos dadas as comportas da Europa e desaguaram, via<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Colonialismo"> colonialismo</a>, nos países da América Latina. No Novo Mundo veio a metamorfose: enquanto o liberalismo serviu como <i>apelo moral</i>
para que os grupos enriquecidos no velho regime, em busca de maiores
lucros, chegassem ao poder, o individualismo foi sacrificado no altar
das conveniências pelos mesmos grupos. Só o higienismo,
glorioso portador da mensagem mais profunda da civilização que o
produzira - o <i>progresso</i> supõe a <i>ordem </i>- foi copiado como uma mensagem de valor universal, incontornável e irresistível, dos Estados Unidos à Terra do Fogo.<br />
<br />
Embora não trabalhe nessa perspectiva - certamente por identificar a
estética nazista como um fenômeno estritamente alemão -, Cohen fornece
ferramentas importantes para compreender, a partir dos ingredientes
históricos que forjaram e deram <i>legitimidade social</i> às idéias de Adolf Hitler, a estrutura atual dos Estados forjados na mesma lógica temporal.<br />
<br />
No Brasil, práticas colonialistas mobilizaram vultosos recursos, intelectuais e financeiros, para construir uma <i>civilização nos trópicos</i> - a partir do olhar europeu. O <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_da_borracha">primeiro ciclo da borracha</a>
(1879-1912) pavimentou o caminho na região norte: entre os preparativos
do golpe militar que implantou no país o ideal europeu da república
(1889) e os da primeira guerra mundial (1914-1918)
surgiu a guerra do Acre (1899-1903). Bem aqui, no auge da ideologia
higienista que constituía a <i>percepção colonial sobre o novo mundo</i>, erguida sobre uma poderosa base econômica, consolidou-se a <i>vida urbana</i> na Amazônia. Hitler tinha, ao final do conflito acreano, 14 anos de idade.<br />
<br />
Práticas <i>adequadas</i> de alimentação, de vestuário, de expressão
cívica, de moralidades e outros pormenores foram inseridos e
disciplinados no convívio acreano desde então. Embora o exotismo de tais
práticas fosse equiparável apenas à sua voracidade, o Estado brasileiro tratou de se apropriar dessas características
para construir, tal e qual na Alemanha da mesma época - se é correta a abordagem
estética de <i>Arquitetura</i>... - um sistema de organização dos espaços coeso, disciplinado.<br />
<br />
Coesão, disciplina. Ordem, progresso. São características que outro filme genial, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=QBjeX5jPRi4"><i>A onda</i> (<i>Die welle</i>, 2008)</a>,
de Dennis Gansel, capta do fascismo. A marca da mente
nazifascista (de qualquer época), para Gansel, é a incapacidade de perceber
ordem fora de <i>sua ordem</i>. Trata-se do velho problema da <i>universalização da perspectiva pessoal</i>, que impede o portador de cogitar a validade de <i>outras ordens</i> que não entende, pois entendê-las implicaria em violar o sentido de universalidade da sua própria ordem.<br />
<br />
A impossibilidade de superar esquemas de sentido pessoais, aplicados ao
mundo como se fossem regras com validade geral e universal, é definida nas ciências humanas como <a href="http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html">ideologia</a>. Isso explica por que atos políticos que não se encaixam na ordem são considerados portadores de perigo iminente e "devem ser contidos",
mas não explica o fenômeno histórico da identificação com uma ordem específica. Assim, a lógica higienista tem muito a nos dizer.<br />
<br />
No caso do Acre e de outros Estados
brasileiros onde vários grupos têm saído às ruas para protestar precisamente contra a insustentabilidade do seu legado urbano, houve resistência em alguns espaços públicos, alegando-se a necessidade de se manter a limpeza, a ordem das repartições.<br />
<br />
Parece um argumento lógico. No entanto, qual seria o sentido de defender os <i>espaços públicos</i> da invasão das <i>questões
públicas</i>? Justifica-se, em nome da
ordem, restringir os debates políticos, sobre questões políticas, aos <i>espaços autorizados</i> dos próprios setores políticos?<br />
<br />
A resposta parece surpreendentemente una e óbvia. É preciso, porém, averiguar o sintoma que pulsa latente em fenômenos
desse tipo. Transformar o desafio em aprendizado.<br />
<br />
Toda a evolução da máquina política acreana, desde os seus primórdios,
consistiu no desenvolvimento da <i>lógica estrutural</i> que motivou o nazismo:
o higienismo, o liberalismo, o individualismo e outros elementos, longe
de criarem um modelo social, produziram uma cisão tão profunda que
muitos amazônidas não reconhecem suas cidades como tais. Embora a
distância física que separa seringais e municípios seja mínima, a
distância simbólica, aquilo que lhes foi agregado como valor específico,
criou um abismo intransponível que muitos se esforçam em aumentar, a
machadadas, enquanto em outras partes do mundo - na Alemanha, inclusive -
os jovens vão às ruas para dizer "não" a todo o metabolismo
sociopolítico engendrado há 300 anos.<br />
<br />
Felizmente, em assuntos humanos, é possível renunciar a heranças malditas. Não é obrigatório, por enquanto, defender um <i>legado político</i> cujas origens não se compreende, especialmente se ficam claras as suas intenções. No nível puramente individual, trata-se de não reproduzir práticas destrutivas. Numa leitura social, se considerada a abordagem de <i>Arquitetura</i>... é um sinal do poder dos (múltiplos) colonialismos entre nós. Um péssimo sinal.Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-56974184920627253072013-07-08T10:13:00.002-04:002013-07-09T14:31:49.710-04:00DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA<br />
<b>Da<a href="http://www.unasursg.org/"> página institucional da Unasur</a></b><br />
<b><br /></b>
<b>Tradução livre</b><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>
</b><i>Transcrição oficial da Declaração de Cochabamba,
subscrita quinta-feira à noite pelos presidentes, assessores e diplomatas enviados à cidade boliviana para uma Reunião Extraordinária da União de
Nações Sul-Americanas (UNASUL).</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://p2.trrsf.com.br/image/fget/cf/619/0/images.terra.com/2013/07/03/infoinfograficoaviao-evo-619.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="http://p2.trrsf.com.br/image/fget/cf/619/0/images.terra.com/2013/07/03/infoinfograficoaviao-evo-619.jpg" width="551" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Infográfico do Portal Terra</td></tr>
</tbody></table>
<i> </i><b> </b></div>
<center>
<b> </b>
</center>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify">
Perante a situação
a que foi submetido o Presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, Evo
Morales, por parte dos governos da França, Portugal, Itália e
Espanha, denunciamos à comunidade internacional e aos diversos
organismos multilaterais:</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A flagrante violação dos Tratados
Internacionais que regem a convivência pacífica, a solidariedade e
a cooperação entre nossos Estados, que constitui um ato
insólito, inamistoso e hostil, configurando um fato ilícito que
afeta a liberdade de trânsito e deslocamento de um Chefe de
Estado e sua delegação oficial.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
O atropelo e as práticas
neocoloniais que ainda subsistem em nosso planeta em pleno século XXI.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
A falta de transparência sobre as motivações das
decisões políticas que impediram o trânsito aéreo da
aeronave presidencial boliviana e do seu presidente. O agravo sofrido pelo
presidente Evo Morales ofende não só o povo boliviano, mas
todas as nossas nações.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
As práticas ilegais de espionagem põem em risco os direitos cidadãos e a convivência
amistosa entre nações.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Frente a estas denúncias estamos
convencidos que o processo de construção da Pátria Grande,
no qual estamos comprometidos, deve consolidar-se no pleno respeito à
soberania e independência dos nossos povos, sem a ingerência dos
centros hegemônicos mundiais, superando as velhas práticas pelas
quais se pretende impor países de primeira e de segunda classe.</div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
Assim, nós, Chefes de Estado e de Governo de países da
União de Nações Sul-americanas - UNASUL, reunidos em
Cochabamba, Bolívia, a 4 de Julho de 2013,
</div>
<div align="justify">
1- Declaramos que a
inaceitável restrição à liberdade do Presidente Evo
Morales Ayma, convertendo-o virtualmente num refém, constitui gravíssima violação de direitos não só do povo boliviano como
de todos os países e povos da América Latina e cria um perigoso
precedente nas relações diplomáticas e tratados internacionais em vigor.
<br />
<br />
2. Recusamos as
atuações claramente violatórias de normas e
princípios básicos do direito internacional, como a
inviolabilidade dos Chefes de Estado.
<br />
<br />
3. Exigimos dos governos da
França, Portugal, Itália e Espanha que expliquem as razões
da decisão de impedir o sobrevôo do avião presidencial do Estado
Plurinacional da Bolívia pelo seu espaço aéreo.<br />
<br />
4. Da mesma forma, exigimos dos governos da França, Portugal, Itália e
Espanha que apresentem desculpas públicas formais sobre esses graves eventos.
<br />
<br />
5. Apoiamos a Denúncia apresentada pelo
Estado Plurinacional da Bolívia ao Gabinete do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pela gravíssima
violação de Direitos Humanos e colocação em perigo
concreto da Vida do Presidente Evo Morales. Além disso, apoiamos o
direito do Estado Plurinacional da Bolívia de realizar todas as
ações que considere necessárias perante os Tribunais e
instâncias competentes.
<br />
<br />
6. Concordamos em formar uma Comissão de
Acompanhamento, encarregando nossos Chanceleres da tarefa de realizar as
ações necessárias para o esclarecimento dos fatos.
<br />
<br />
Finalmente, no espírito dos princípios estabelecidos no Tratado
Constitutivo da Unasul, exortamos a todos os Chefes de
Estado signatários a subscrever a presente Declaração. De
igual modo, convocamos a Organização das Nações
Unidas e organismos regionais que ainda não o fizeram, a pronunciar-se
sobre este fato injustificável e arbitrário.
<br />
<br />
<b>Cochabamba, 4 de Julho de 2013.</b></div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
<b>Nota minha</b>: estima-se em 50 milhões o número de mortos durante a aventura européia no <i>novo mundo</i> (expressão, também, européia). Os aimarás, povo do presidente Evo Morales, tiveram que aprender a língua dos colonizadores (espanhol), e adotar o seu sistema político e econômico.<br />
<br />
Desde a semana passada jornais do mundo inteiro alertaram sobre a existência de uma rede de espionagem dos Estados Unidos sobre o Brasil. Para saber mais, <a href="http://www.viomundo.com.br/denuncias/ivan-valente-e-preciso-descobrir-empresas-de-telecomunicacao-que-colaboram-com-espionagem-de-washington.html">clique aqui</a>. <br />
<br /></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-40655539720258347152013-07-05T14:16:00.001-04:002013-07-05T14:19:46.119-04:00HEAVE-HO!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXhMChrgmvsDanBS_Of0zFSMF0GDVeY-NKZ4jVYJs1wJ5MHL5-ReEds9va54un2oKQES-g_g3wnCd2rtgvVMpzpeeSDi_sJjAaydqE4vz7eC_pz8ASKbIb7a_GL3Oq02dxRLjB58BIo9M/s1600/03-Heave-Ho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXhMChrgmvsDanBS_Of0zFSMF0GDVeY-NKZ4jVYJs1wJ5MHL5-ReEds9va54un2oKQES-g_g3wnCd2rtgvVMpzpeeSDi_sJjAaydqE4vz7eC_pz8ASKbIb7a_GL3Oq02dxRLjB58BIo9M/s400/03-Heave-Ho.jpg" width="400" /></a></div>
<br />Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-57308294550913808092013-07-03T09:30:00.000-04:002013-07-05T13:47:57.641-04:00ZIZÉK: A CAMINHO DE UMA RUPTURA GLOBAL<b> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://static.guim.co.uk/sys-images/Books/Pix/pictures/2012/6/26/1340712715825/Slavoj-Z-iz-ek-008.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://static.guim.co.uk/sys-images/Books/Pix/pictures/2012/6/26/1340712715825/Slavoj-Z-iz-ek-008.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Slavoj </b><b>Žižek: radical psicótico-ressentido</b></td></tr>
</tbody></table>
</b><br />
<br />
<b>Por Slavoj Žižek, no <a href="http://www.lrb.co.uk/">London Review of Books</a> via <a href="http://www.brasildefato.com.br/">Brasil de Fato</a></b><br />
<br />
<b>Tradução Vila Vudu</b><br />
<br />
<div class="western">
Em seus primeiros escritos, Marx descreve a situação
na Alemanha como uma daquelas na qual a única resposta a problemas
particulares seria a solução universal: a revolução global. É expressão
condensada da diferença entre período reformista e período
revolucionário: em período reformista, a revolução global permanece como
sonho que, se serve para alguma coisa, é apenas para dar peso às
tentativas para mudar alguma coisa localmente; em período
revolucionário, vê-se claramente que nada melhorará, sem mudança global
radical. Nesse sentido puramente formal, 1990 foi ano revolucionário: as
muitas reformas parciais nos estados comunistas jamais dariam conta do
serviço; e era necessária uma quebra total, para resolver todos os
problemas do dia a dia. Por exemplo, o problema de dar suficiente comida
às pessoas.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Em que ponto estamos hoje, quanto a
essa diferença? Os problemas e protestos dos últimos anos são sinais de
que se aproxima uma crise global, ou não passam de pequenos obstáculos
que pode enfrentar mediante intervenções locais? O mais notável nas
erupções é que estão acontecendo não apenas, nem basicamente, nos pontos
fracos do sistema, mas em pontos que, até aqui, eram percebidos como
histórias de sucesso. Sabemos por que as pessoas protestam na Grécia ou
na Espanha; mas por que há confusão em países prósperos e em rápido
desenvolvimento como Turquia, Suécia ou Brasil?</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Com
algum distanciamento, pode-se ver que a revolução de Khomeini em 1979
foi o caso original de “dificuldades no paraíso”, dado que aconteceu em
país que caminhava a passos largos para uma modernização pró-ocidente, e
era o mais estável aliado do ocidente na região.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Antes
da atual onda de protestos, a Turquia era quente: modelo ideal de
estado estável, a combinar pujante economia liberal e islamismo
moderado. Pronta para a Europa, um bem-vindo contraste com a Grécia mais
“europeia”, colhida num labirinto ideológico e andando rumo à
autodestruição econômica. Sim, é verdade: aqui e ali sempre viam-se
alguns sinais péssimos (a Turquia, sempre a negar o holocausto dos
armênios; prisão de jornalistas; o status não resolvido dos curdos;
chamamentos a uma “grande Turquia” que ressuscitaria a tradição do
Império Otomano; imposição, vez ou outra, de leis religiosas). Mas eram
descartados como pequenas máculas que não comprometeriam o grande
quadro.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
E então, explodiram os protestos na praça
Taksim. Não há quem não saiba que os planos para transformar um parque
em torno da praça Taksim no centro de Istambul em shopping center não
foram “o caso”, naqueles protestos; e que um mal-estar muito mais
profundo ganhava força. O mesmo se deve dizer dos protestos de meados de
junho no Brasil: foram desencadeados por um pequeno aumento na tarifa
do transporte público, e prosseguiram mesmo depois de o aumento ter sido
revogado. Também nesse caso, os protestos explodiram num país que –
pelo menos segundo a mídia – estava em pleno boom econômico e com todos
os motivos para sentir-se confiante quanto ao futuro. Nesse caso, os
protestos foram aparentemente apoiados pela presidente Dilma Rousseff,
que se declarou satisfeitíssima com eles.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
<b>O
que une protestos em todo o mundo — por mais diversos que sejam, na
aparência — é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização
capitalista</b></div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
É crucialmente importante
não vermos os protestos turcos meramente como sociedade civil secular
que se levanta contra regime islamista autoritário, apoiado por uma
maioria islamista silenciosa. O que complica o quadro é o ímpeto
anticapitalista dos protestos. Os que protestam sentem intuitivamente
que o fundamentalismo de mercado e o fundamentalismo islâmico não se
excluem mutuamente.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A privatização do espaço
público por ação de um governo islamista mostra que as duas modalidades
de fundamentalismo podem trabalhar de mãos dadas. É sinal claro de que o
casamento “por toda a eternidade” de democracia e capitalismo já
caminha para o divórcio.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Também é importante
reconhecer que os que protestam não visam a nenhum objetivo “real”
identificável. Os protestos não são, “realmente”, contra o capitalismo
global, nem “realmente” contra o fundamentalismo religioso, nem
“realmente” a favor de liberdades civis e democracia, nem visam
“realmente” qualquer outra coisa específica. O que a maioria dos que
participaram dos protestos “sabem” é de um mal-estar, de um
descontentamento fluido, que sustenta e une várias demandas específicas.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A
luta para entender os protestos não é luta só epistemológica, com
jornalistas e teóricos tentando explicar seu “real” conteúdo: é também
luta ontológica pela própria coisa, o que esteja acontecendo dentro dos
próprios protestos. É apenas luta contra governo corrupto? É luta contra
governo islâmico autoritário? É luta contra a privatização do espaço
público? A pergunta continua aberta. E de como seja respondida dependerá
o resultado de um processo político em andamento.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Em
2011, quando irrompiam protestos por toda a Europa e todo o Oriente
Médio, muitos insistiram que não fossem tratados como instâncias de um
único movimento global. Em vez disso, argumentavam, haveria uma resposta
específica para cada situação específica. No Egito, os que protestavam
queriam o que em outros países era alvo das críticas do movimento
Occupy: “liberdade” e “democracia”. Mesmo entre países muçulmanos,
haveria diferenças cruciais: a Primavera Árabe no Egito seria contra um
regime autoritário e corrupto aliado do ocidente; a Revolução Verde no
Irã, que começou em 2009, seria contra o islamismo autoritário. É fácil
ver o quanto essa particularização dos protestos serve bem aos
defensores do status quo: não há nenhuma ameaça direta à ordem global
como tal. Só uma série de problemas locais separados…</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
O
capitalismo global é processo complexo que afeta diferentes países de
diferentes modos. O que une todos os protestos, por mais multifacetados
que sejam, é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização
capitalista. A tendência geral do capitalismo global é hoje expandir o
mercado, invadir e cercar o espaço público, reduzir os serviços públicos
(saúde, educação, cultura) e impor cada vez mais firmemente um poder
político autoritário. Nesse contexto, os gregos protestam contra o
governo do capital financeiro internacional e contra seu próprio estado
ineficiente e corrupto, cada dia menos capaz de prover os serviços
sociais básicos. Nesse contexto, os turcos protestam contra a
comercialização do espaço público e contra o autoritarismo religioso. E
os egípcios protestam contra um governo apoiado pelas potências
ocidentais. E os iranianos protestam contra a corrupção e o
fundamentalismo religioso. E assim por diante.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Nenhum
desses protestos pode ser reduzido a uma única questão. Todos lidam com
uma específica combinação de pelo menos dois problemas, um econômico
(da corrupção à ineficiência do próprio capitalismo); o outro,
político-ideológico (da demanda por democracia à demanda pelo fim da
democracia convencional multipartidária). O mesmo se aplica ao movimento
Occupy. Na profusão de declarações (muitas vezes confusas), o movimento
manteve dois traços básicos: primeiro, o descontentamento com o
capitalismo como sistema, não apenas contra um ou outro corrupto ou
corrupções locais; segundo, a consciência de que a forma
institucionalizada de democracia multipartidária não tem meios para
combater os excessos capitalistas. Em outras palavras, é preciso
reinventar a democracia.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A causa subjacente dos
protestos ser o capitalismo global não significa que a única solução
seja “derrubar” o capitalismo. Nem é viável seguir a alternativa
pragmática, que implica lidar com problemas individuais enquanto se
espera por transformação radical. Essa ideia ignora o fato de que o
capitalismo global é necessariamente contraditório e inconsistente: a
liberdade de mercado anda de mãos dadas com os EUA protegerem seus
próprios agronegócios e agronegociantes; pregar a democracia anda de
mãos dadas com apoiar o governo da Arábia Saudita.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Essa
inconsistência abre um espaço para a intervenção política: onde o
capitalista global é forçado a violar suas próprias regras, ali há uma
oportunidade para insistir em que ele obedeça àquelas regras. Exigir
coerência e consistência em pontos estrategicamente selecionados nos
quais o sistema não pode pagar para ser coerente e consistente é
pressionar todo o sistema. A arte da política está em impor demandas
específicas as quais, ao mesmo tempo em que são perfeitamente realistas,
ferem o coração da ideologia hegemônica e implicam mudança muito mais
radical. Essas demandas, por mais que sejam viáveis e legítimas, são, de
fato, impossíveis. Caso exemplar é a proposta de Obama para prover
assistência pública universal à saúde. Por isso as reações foram tão
violentas.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Um movimento político começa com uma
ideia, algo por que lutar, mas, no tempo, a ideia passa por
transformação profunda – não apenas alguma acomodação tática, mas uma
redefinição essencial –, porque a própria ideia passa a ser parte do
processo: torna-se sobredeterminada.* Digamos que uma revolta comece
com uma demanda por justiça, talvez sob a forma de demanda pela rejeição
de uma determinada lei. Depois de o povo estar profundamente engajado
na revolta, ele percebe que será preciso muito mais do que a demanda
inicial, para que haja verdadeira justiça. O problema então é definir,
precisamente, em que consiste esse “muito mais”.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A
perspectiva liberal-pragmática entende que os problemas podem ser
resolvidos gradualmente, um a um: “Há gente morrendo agora em Rwanda,
então esqueçam a luta anti-imperialista e vamos impedir o massacre”. Ou:
“Temos de combater a pobreza e o racismo já, aqui e agora, não esperar
pelo colapso da ordem capitalista global”. John Caputo argumenta
exatamente assim em After the Death of God (2007):</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Eu
ficaria perfeitamente feliz se os políticos da extrema-esquerda nos EUA
fossem capazes de reformar o sistema oferecendo assistência universal à
saúde, redistribuindo efetivamente a riqueza mais equitativamente com
um sistema tributário [orig. Internal Revenue Code (IRC)] redefinido,
restringindo o financiamento privado de campanhas eleitorais,
autorizando o voto universal, para todos, tratando com humanidade os
trabalhadores migrantes, e levando a efeito uma política externa
multilateralista que integrasse o poder dos EUA dentro da comunidade
internacional etc. Ou seja, intervindo sobre o capitalismo mediante
reformas profundas, de longo alcance… Se depois de fazer tudo isso,
Badiou e Žižek ainda reclamarem de um monstro chamado Capitalismo a nos
assombrar, eu estaria inclinado a receber o tal monstro com um bocejo.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
<b>Não
se trata de “derrubar” o capitalismo. Mas de construir lógicas de uma
sociedade que vá além dele. Isso inclui novas formas de democracia</b></div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
O
problema aqui não é a conclusão de Caputo: se se pode alcançar tudo
isso dentro do capitalismo, por que não ficar aí mesmo? O problema é a
premissa subjacente de que seja possível obter tudo isso dentro do
capitalismo global em sua forma atual. Mas e se os emperramentos e mau
funcionamento do capitalismo, que Caputo listou, não forem meras
perturbações contingentes, mas necessários por estrutura? E se o sonho
de Caputo é um sonho de ordem capitalista universal, sem sintomas, sem
os pontos críticos nos quais sua “verdade reprimida” mostra a própria
cara?</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Os protestos e revoltas de hoje são
sustentados pela combinação de demandas sobrepostas, e é aí que está a
sua força: lutam por democracia (“normal”, parlamentar) contra regimes
autoritários; contra o racismo e o sexismo, especialmente quando
dirigidos contra imigrantes e refugiados; contra a corrupção na política
e nos negócios (poluição industrial do meio ambiente etc.); pelo estado
de bem-estar contra o neoliberalismo; e por novas formas de democracia
que avancem além dos rituais multipartidários. Questionam também o
sistema capitalista global como tal, e tentam manter viva a ideia de uma
sociedade que avance além do capitalismo.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Duas
armadilhas há aí, a serem evitadas: o falso radicalismo (“o que
realmente interessa é abolir o capitalismo liberal-parlamentar; todas as
demais lutas são secundárias”), mas, também, o falso gradualismo (“no
momentos temos de lutar contra a ditadura militar e por democracia
básica, todos os sonhos de socialismo devem ser, agora, postos de
lado”).</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Aqui, ninguém se deve envergonhar de
acionar a distinção maoista entre antagonismo principal e antagonismos
secundários, entre os que mais interessam no fim e os que dominam hoje.
Há situações nas quais insistir no antagonismo principal significa
perder a oportunidade de acertar golpe significativo, no curso da luta.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Só
uma política que tome plenamente em consideração a complexidade da
sobredeterminação merece o nome de estratégia. Quando se embarca numa
luta específica, a pergunta chave é: como nosso engajamento ou
desengajamento nessa luta afeta outras lutas?</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A
regra geral é que quando uma revolta contra regime semidemocrático
começa – como no Oriente Médio em 2011 – é fácil mobilizar grandes
multidões com slogans (por democracia, contra a corrupção etc.). Mas
muito rapidamente temos de enfrentar escolhas muito mais difíceis.
Quando a revolta é bem-sucedida e alcança o objetivo inicial, nos damos
conta de que o que realmente nos perturbava (a falta de liberdade, a
humilhação diária, a corrupção, o futuro pouco ou nenhum) persiste sob
novo disfarce. Nesse momento somos forçados a ver que havia furos no
próprio objetivo inicial. Pode implicar que se chegue a ver que a
democracia pode ser uma forma de des-liberdade, ou que se pode exigir
muito mais do que apenas a mera democracia política: que a vida social e
econômica tem de ser também democratizada.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Em
resumo, o que à primeira vista tomamos como fracasso que só atingia um
nobre princípio (a liberdade democrática) é afinal percebido como
fracasso inerente ao próprio princípio. Essa descoberta – de que o
princípio pelo qual lutamos pode ser inerentemente viciado – é um grande
passo em qualquer educação política.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Representantes
da ideologia reinante mobilizam todo o seu arsenal para impedir que
cheguemos a essa conclusão radical. Dizem-nos que a liberdade
democrática implica suas próprias responsabilidades, que tem um preço,
que é sinal de imaturidade esperar demais da democracia. Numa sociedade
livre, dizem eles, devemos agir como capitalistas e investir em nossa
própria vida: se fracassarmos, se não conseguirmos fazer os necessários
sacrifícios, ou se de algum modo não correspondermos, a culpa é nossa.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Em
sentido político mais direto, os EUA perseguem coerentemente uma
estratégia de controle de danos em sua política externa, recanalizando
os levantes populares para formas capitalistas-parlamentares aceitáveis:
na África do Sul, depois do apartheid; nas Filipinas, depois da queda
de Marcos; na Indonésia, depois de Suharto etc. É nesse ponto que a
política propriamente dita começa: a questão é como empurrar ainda mais
adiante, depois que passa a primeira, excitante, onda de mudança; como
dar o passo seguinte, sem sucumbir à tentação “totalitária”; como
avançar além de Mandela, sem virar Mugabe.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
O que
significaria isso, num caso concreto? Comparemos dois países vizinhos,
Grécia e Turquia. À primeira vista, talvez pareçam completamente
diferentes: Grécia, presa na armadilha da ruinosa política de
austeridade; Turquia em pleno boom econômico e emergindo como nova
superpotência regional. Mas e se cada Turquia contiver sua própria
Grécia, suas próprias ilhas de miséria? Como Brecht diz em sua Elegias
Hollywoodenses (orig. Hollywood Elegies’ [1942]),</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
<i>A vila de Hollywood foi planejada segundo a ideia</i></div>
<div class="western">
<i>De que o povo aqui seria proprietário de partes do paraíso. Ali,</i></div>
<div class="western">
<i>Chegaram à conclusão de que Deus</i></div>
<div class="western">
<i>Embora precisando de céu e inferno, não precisava</i></div>
<div class="western">
<i>Planejar dois estabelecimentos, mas</i></div>
<div class="western">
<i>Só um: o paraíso. Que esse,</i></div>
<div class="western">
<i>para os pobres e infortunados, funciona</i></div>
<div class="western">
<i>como inferno.[1]</i></div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Esses
versos descrevem bastante bem a “aldeia global” de hoje: aplicam-se ao
Qatar ou Dubai, playgrounds para os ricos, que dependem de manter os
trabalhadores imigrantes em estado de semiescravidão, ou escravidão.
Exame mais detido revela semelhanças entre Turquia e Grécia:
privatizações, o fechamento do espaço público, o desmonte dos serviços
sociais, a ascensão de políticos autoritários. Num plano elementar, os
que protestam na Grécia e os que protestam na Turquia estão engajados na
mesma luta. O melhor caminho talvez seja coordenar as duas lutas,
rejeitar as tentações “patrióticas”, deixar para trás a inimizade
histórica entre os dois países e buscar espaços de solidariedade. O
futuro dos protestos talvez dependa disso.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
<i><b>Slavoj
Žižek é um filósofo e teórico crítico esloveno. É professor da European
Graduate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da
Universidade de Liubliana. </b></i></div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
------------------------------------------------------</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Notas da tradução:</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
* Em seu prefácio à <i>Contribuição à Crítica da Economia Política</i>,
Marx escreveu (no seu pior modo evolucional) que a humanidade só se
propõe problemas que seja capaz de resolver. E se invertermos a ganga
dessa frase e declararmos que, regra geral, a humanidade propõe-se
problemas que não pode resolver, e assim dispara um processo cujo
desdobramento é imprevisível, no curso do qual, a própria tarefa é
redefinida?</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
<b>[1] Não encontramos tradução para o português. Aqui, tradução de trabalho, sem ambição literária, só para ajudar a ler [NTs].</b></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-78977463971960015722013-07-01T16:18:00.000-04:002013-07-01T16:26:54.660-04:00URBANIDADE NA AMAZÔNIAPoucas coisas são tão desajeitadas quanto o <i>viver urbano</i> na Amazônia.<br />
<br />
Euclides da Cunha, ao visitar Manaus no começo do século XX, resumiu muitíssimo bem esse paradoxo. Disse ele, em 1905:<br />
<br />
- Cidade comercial e insuportável. O crescimento abrupto levantou-se de chofre fazendo que trouxesse, aqui, ali, salteadamente entre as roupagens civilizadoras, os restos das tangas esfiapadas dos tapuios. Cidade meio caipira, meio européia, onde o tejupar se achata ao lado de palácios e o cosmopolitismo exagerado põe ao lado do ianque espigado... o seringueiro achamboado, a impressão que ela nos incute é a de uma maloca transformada em Gand.<br />
<br />
Com ligeiras alterações, a descrição cabe para a Rio Branco atual. Ao longo dos anos, a cidade tem passado por vários <i>projetos de modernização</i> que visam adequá-la, sempre <i>em nome do progresso</i>, pela <i>melhoria das condições de vida da população</i>, à condição de cópia de cidades metropolitanas. Com o Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) do Partido dos Trabalhadores (PT) deu-se um passo além: em vez de copiar, busca-se agora ser um <i>exemplo</i> para as demais.<br />
<br />
Há algum tempo li numa dessas revistas de viagem que "se Nova Iorque quer ser Londres, São Paulo quer ser Nova Iorque". Emendo: "Se Manaus quer ser São Paulo, Rio Branco <i>também quer</i> ser São Paulo".<br />
<br />
O resultado desse interminável Ctrl C + Ctrl V é trágico.<br />
<br />
Nos últimos 300 anos, onde quer que tenham se instalado (florestas tropicais, savanas africanas, desertos árabes etc), as cidades impuseram uma <i>lógica disciplinar</i> que dizimou ou submeteu todas as formas de associação humana, como povoados, vilas, tribos, clãs etc. Ainda hoje uma das formas pelas quais esta dizimação se realiza é associar estas formas anteriores de sociabilidade com atraso, miséria, subdesenvolvimento.<br />
<br />
Em contrapartida, a lógica citadina é associada com progresso, prosperidade, desenvolvimento. A própria palavra urbano passou a significar também polido, educado, <i>civilizado</i>.<br />
<br />
Vergado sob o extraordinário peso dessa narrativa, o homem amazônico não se reconhece como homem. É um não-ser, alguém que ainda precisa <i>começar a existir</i>, pois não é <i>moderno</i>. A modernidade é que lhe dá uma identidade. É pela modernidade que vem o emprego, o dinheiro, o prestígio, a possibilidade de <i>sobreviver</i>.<br />
<br />
Isso explica tantos conflitos por micropoder, que se vê praticamente a todo o instante em todos os lugares (e suas reações trágicas, geralmente violentas). A necessidade constante e neurótica de afirmação na modernidade pressupõe estados de espírito simultaneamente alterados e hiperautoindulgentes.<br />
<br />
O camponês acreano costuma acenar ao
passar de barco pelas colocações vizinhas. Alguns também gritam:
"Oba!". É uma saudação calculada na medida exata da distância com o
interlocutor e acima do ruído da embarcação. Seu objetivo é informar a sua própria passagem e, ao mesmo tempo, verificar se está tudo bem com seus iguais.<br />
<br />
Nas periferias de Rio Branco muitas famílias criam galinhas, patos e outros bichos, que vendem ou trocam por itens estratégicos da cesta básica. Cada quintal, chamado de terreiro, é uma miniatura do modo de vida na colônia em plena cidade.<br />
<br />
Onde há homem, há cultura, e portanto, há história. Não é possível, nesta dimensão do universo, a existência de homens sem intervenção histórica. A questão é que algumas sociedades se apropriam de forma inesperada e surpreendente da história. Uma vez que o seu objetivo é a uniformização, a disciplina, é esse legado que os projetos de modernização buscam destruir.<br />
<br />
É preciso repensar as formas de viver na Amazônia. Não se trata de ruralizar as cidades, de uma volta às aldeias ou seringais. Trata-se da cidade ser aldeias, seringais e colônias. Um projeto de sociedade que não provoque, na natureza, os espasmos de enchentes, deslizamentos e secas. Que não deixe os homens civilizados tão parecidos com as bestas mais selvagens.<br />
<br />
Não precisamos ser modernos. Nem urbanos.Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-59788780001866016862013-06-29T12:33:00.000-04:002013-06-29T12:33:15.803-04:00A ORIGEM DO HOMEM - DISCOVERY<iframe width="420" height="315" src="//www.youtube.com/embed/w8Pp6KmIMu0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-71885894786567966222013-06-28T19:09:00.002-04:002013-06-28T19:09:49.285-04:00PROTESTO E COOPTAÇÃO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjIenFXB9fId16KyFRAxlt5oc62v0eIB8guogQo2PfQedH9KY8yk5SbRy-nWL5RujHRAT7mHtp5-EeQcxydeZE7v8C5cUITTPXxEXdfLZ6xi7DqNXhNz2pBHBCJ97yAFEL5Ao2tGP_5rg/s1600/frente.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjIenFXB9fId16KyFRAxlt5oc62v0eIB8guogQo2PfQedH9KY8yk5SbRy-nWL5RujHRAT7mHtp5-EeQcxydeZE7v8C5cUITTPXxEXdfLZ6xi7DqNXhNz2pBHBCJ97yAFEL5Ao2tGP_5rg/s400/frente.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Manifestantes no cercadinho do Palácio Branco, num sábado ã tarde. Foto: Altino Machado...</b></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<b> </b><br />
<b>Por Marilena Chauí, no<a href="http://blogdaboitempo.com.br/"> blog da Boitempo</a></b><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Os
manifestantes, simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas
afirmações explícitas contra a política, realizaram um evento político:
disseram não ao que aí está, contestando as ações dos Poderes Executivos
municipais, estaduais e federal, assim como as do Poder Legislativo nos
três níveis</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">O que segue
não são reflexões sobre todas as manifestações ocorridas no país, mas
focalizam principalmente as ocorridas na cidade de São Paulo, embora
algumas palavras de ordem e algumas atitudes tenham sido comuns às
manifestações de outras cidades (a forma da convocação, a questão da
tarifa do transporte coletivo como ponto de partida, a desconfiança com
relação à institucionalidade política como ponto de chegada), bem como o
tratamento dado a elas pelos meios de comunicação (condenação inicial e
celebração final, com criminalização dos “vândalos”), permitam algumas
considerações mais gerais a título de conclusão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">O estopim
das manifestações paulistanas foi o aumento da tarifa do transporte
público e a ação contestatória da esquerda com o Movimento Passe Livre
(MPL), cuja existência data de 2005 e é composto por militantes de
partidos de esquerda. Em sua reivindicação específica, o movimento foi
vitorioso sob dois aspectos. Conseguiu a redução da tarifa e definiu a
questão do transporte público no plano dos direitos dos cidadãos, e
portanto afirmou o núcleo da prática democrática, qual seja, a criação e
defesa de direitos por intermédio da explicitação (e não do
ocultamento) dos conflitos sociais e políticos</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: black;">O inferno urbano</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Não foram
poucos os que, pelos meios de comunicação, exprimiram sua perplexidade
diante das manifestações de junho de 2013: de onde vieram e por que
vieram se os grandes problemas que sempre atormentaram o país
(desemprego, inflação, violência urbana e no campo) estão com soluções
bem encaminhadas e reina a estabilidade política? As perguntas são
justas, mas a perplexidade, não, desde que voltemos nosso olhar para um
ponto que foi sempre o foco dos movimentos populares: a situação da vida
urbana nas grandes metrópoles brasileiras. Quais os traços mais
marcantes da cidade de São Paulo nos últimos anos e, sob certos
aspectos, extensíveis às demais cidades? Resumidamente, podemos dizer
que são os seguintes:</span></div>
<ul style="text-align: justify;">
<li><span style="color: black;">explosão do uso do automóvel
individual. A mobilidade urbana se tornou quase impossível, ao mesmo
tempo em que a cidade se estrutura com um sistema viário destinado aos
carros individuais em detrimento do transporte coletivo, mas nem mesmo
esse sistema é capaz de resolver o problema;</span></li>
<li><span style="color: black;">explosão imobiliária com os grandes
condomínios (verticais e horizontais) e shopping centers, que produzem
uma densidade demográfica praticamente incontrolável, além de não contar
com redes de água, eletricidade e esgoto, os problemas sendo evidentes,
por exemplo, na ocasião de chuvas;</span></li>
<li><span style="color: black;">aumento da exclusão social e da
desigualdade com a expulsão dos moradores das regiões favorecidas pelas
grandes especulações imobiliárias e a consequente expansão das
periferias carentes e de sua crescente distância com relação aos locais
de trabalho, educação e serviços de saúde. (No caso de São Paulo, como
aponta </span><a href="http://boitempoeditorial.com.br/livro_completo.php?isbn=078-00-7559-000-5" target="_blank">Ermínia Maricato</a>, deu-se a ocupação das regiões de m<span style="color: black;">ananciais,
pondo em risco a saúde de toda a população; em resumo: degradação da
vida cotidiana das camadas mais pobres da cidade);</span></li>
<li><span style="color: black;">o transporte coletivo indecente,
indigno e mortífero. No caso de São Paulo, sabe-se que o programa do
metrô previa a entrega de 450 quilômetros de vias até 1990; de fato, até
2013, o governo estadual apresenta 90 quilômetros. Além disso, a frota
de trens metroviários não foi ampliada, está envelhecida e mal
conservada; à insuficiência quantitativa para atender à demanda,
somam-se atrasos constantes por quebra de trens e dos instrumentos de
controle das operações. O mesmo pode ser dito dos trens da CPTM, também
de responsabilidade do governo estadual. No caso do transporte por
ônibus, sob responsabilidade municipal, um cartel domina completamente o
setor sem prestar contas a ninguém: os ônibus são feitos com
carrocerias destinadas a caminhões, portanto feitos para transportar
coisas, e não pessoas; as frotas estão envelhecidas e quantitativamente
defasadas com relação às necessidades da população, sobretudo as das
periferias da cidade; as linhas são extremamente longas porque isso as
torna mais lucrativas, de maneira que os passageiros são obrigados a
trajetos absurdos, gastando horas para ir ao trabalho, às escolas, aos
serviços de saúde e voltar para casa; não há linhas conectando pontos do
centro da cidade nem linhas interbairros, de modo que o uso do
automóvel individual se torna quase inevitável para trajetos menores.</span></li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Em resumo:
definidas e orientadas pelos imperativos dos interesses privados, as
montadoras de veículos, empreiteiras da construção civil e empresas de
transporte coletivo dominam a cidade sem assumir nenhuma
responsabilidade pública, impondo o que chamo de <i>inferno urbano</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: black;">A tradição paulistana de lutas</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Recordando: a
cidade de São Paulo (como várias das grandes cidades brasileiras) tem
uma tradição histórica de revoltas populares contra as péssimas
condições do transporte coletivo, isto é, a tradição do <i>quebra-quebra</i> quando,
desesperados e enfurecidos, os cidadãos quebram e incendeiam ônibus e
trens (à maneira do que faziam os operários no início da Segunda
Revolução Industrial, quando usavam os tamancos de madeira – em francês,
os <i>sabots</i>, donde a palavra francesa <i>sabotage</i>,
sabotagem – para quebrar as máquinas). Entretanto, não foi esse o
caminho tomado pelas manifestações atuais e valeria a pena indagar por
quê. Talvez porque, vindo da esquerda, o MPL politiza explicitamente a
contestação, em vez de politizá-la simbolicamente, como faz o <i>quebra-quebra</i></span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Recordando:
nas décadas de 1970 a 1990, as organizações de classe (sindicatos,
associações, entidades) e os movimentos sociais e populares tiveram um
papel político decisivo na implantação da democracia no Brasil pelos
seguintes motivos: introdução da ideia de direitos sociais, econômicos e
culturais para além dos direitos civis liberais; afirmação da
capacidade auto-organizativa da sociedade; introdução da prática da
democracia participativa como condição da democracia representativa a
ser efetivada pelos partidos políticos. Numa palavra: sindicatos,
associações, entidades, movimentos sociais e movimentos populares eram
políticos, valorizavam a política, propunham mudanças políticas e
rumaram para a criação de partidos políticos como mediadores
institucionais de suas demandas</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Isso quase desapareceu da cena histórica como efeito do neoliberalismo, que produziu:</span></div>
<ul style="text-align: justify;">
<li><span style="color: black;">fragmentação, terceirização e
precarização do trabalho (tanto industrial como de serviços),
dispersando a classe trabalhadora, que se vê diante do risco da perda de
seus referenciais de identidade e de luta;</span></li>
<li><span style="color: black;">refluxo dos movimentos sociais e
populares e sua substituição pelas ONGs, cuja lógica é distinta daquela
que rege os movimentos sociais;</span></li>
<li><span style="color: black;">surgimento de uma nova classe
trabalhadora heterogênea, fragmentada, ainda desorganizada que, por
isso, ainda não tem suas próprias formas de luta e não se apresenta no
espaço público e, por isso mesmo, é atraída e devorada por ideologias
individualistas como a “teologia da prosperidade” (do pentecostalismo) e
a ideologia do “empreendedorismo” (da classe média), que estimulam a
competição, o isolamento e o conflito interpessoal, quebrando formas
anteriores de sociabilidade solidária e de luta coletiva</span>.</li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Erguendo-se
contra os efeitos do inferno urbano, as manifestações guardaram da
tradição dos movimentos sociais e populares a organização horizontal,
sem distinção hierárquica entre dirigentes e dirigidos. Mas,
diversamente dos movimentos sociais e populares, tiveram uma forma de
convocação que as transformou num movimento de massa, com milhares de
manifestantes nas ruas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: black;">O pensamento mágico</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">A convocação
foi feita por meio das redes sociais. Apesar da celebração desse tipo
de convocação, que derruba o monopólio dos meios de comunicação de
massa, é preciso mencionar alguns problemas postos pelo uso dessas
redes, que possui algumas características que o aproximam dos
procedimentos da mídia</span>:</div>
<ul style="text-align: justify;">
<li><span style="color: black;">é <i>indiferenciado</i>: poderia ser para um show da Madonna, para uma maratona esportiva etc., e calhou ser por causa da tarifa do transporte público;</span></li>
<li><span style="color: black;">tem a forma de um evento, ou seja, é
pontual, sem passado, sem futuro e sem saldo organizativo porque, embora
tenha partido de um movimento social (o MPL), à medida que cresceu
passou à recusa gradativa da estrutura de um movimento social para se
tornar um espetáculo de massa. (Dois exemplos confirmam isso: a ocupação
de <i>Wall Street</i> pelos jovens de Nova York, que, antes de se
dissolver, tornou-se um ponto de atração turística para os que visitavam
a cidade; e o caso do Egito, mais triste, pois, com o fato de as
manifestações permanecerem como eventos e não se tornarem uma forma de
auto-organização política da sociedade, deram ocasião para que os
poderes existentes passassem de uma ditadura para outra);</span></li>
<li><span style="color: black;">assume gradativamente uma dimensão
mágica, cuja origem se encontra na natureza do próprio instrumento
tecnológico empregado, pois este opera magicamente, uma vez que os
usuários são, exatamente, usuários, e portanto não possuem o controle
técnico e econômico do instrumento que usam – ou seja, desse ponto de
vista, encontram-se na mesma situação que os receptores dos meios de
comunicação de massa. A dimensão é mágica porque, assim como basta
apertar um botão para tudo aparecer, assim também se acredita que basta
querer para fazer acontecer. Ora, além da ausência de controle real
sobre o instrumento, a magia repõe um dos recursos mais profundos da
sociedade de consumo difundida pelos meios de comunicação, qual seja, a
ideia de satisfação imediata do desejo, sem qualquer mediação;</span></li>
<li><span style="color: black;">a recusa das mediações institucionais
indica que estamos diante de uma ação própria da sociedade de massa,
portanto indiferente à determinação de classe social; ou seja, no caso
presente, ao se apresentar como uma ação da juventude, o movimento
assume a aparência de que o universo dos manifestantes é homogêneo ou de
massa, ainda que, efetivamente, seja heterogêneo do ponto de vista
econômico, social e político, bastando lembrar que as manifestações das
periferias não foram apenas de “juventude” nem de classe média, mas de
jovens, adultos, crianças e idosos da classe trabalhadora.</span></li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">No ponto de
chegada, as manifestações introduziram o tema da corrupção política e a
recusa dos partidos políticos. Sabemos que o MPL é constituído por
militantes de vários partidos de esquerda e, para assegurar a unidade do
movimento, evitou a referência aos partidos de origem. Por isso foi às
ruas sem definir-se como expressão de partidos políticos, e em São
Paulo, quando, na comemoração da vitória, os militantes partidários
compareceram às ruas foram execrados, espancados e expulsos como
oportunistas – sofreram repressão violenta por parte da massa. A crítica
às instituições políticas não é infundada, possui base concreta:</span></div>
<ul style="text-align: justify;">
<li><span style="color: black;">no plano conjuntural: o inferno urbano é, efetivamente, responsabilidade dos partidos políticos governantes;</span></li>
<li><span style="color: black;">no plano estrutural: no Brasil,
sociedade autoritária e excludente, os partidos políticos tendem a ser
clubes privados de oligarquias locais, que usam o público para seus
interesses privados; a qualidade dos Legislativos nos três níveis é a
mais baixa possível e a corrupção é estrutural; como consequência, a
relação de representação não se concretiza porque vigoram relações de
favor, clientela, tutela e cooptação;</span></li>
<li><span style="color: black;">a crítica ao PT: de ter abandonado a
relação com aquilo que determinou seu nascimento e crescimento, isto é, o
campo das lutas sociais auto-organizadas, e ter-se transformado numa
máquina burocrática e eleitoral (como têm dito e escrito muitos
militantes ao longo dos últimos vinte anos).</span></li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Isso, porém,
embora explique a recusa, não significa que esta tenha sido motivada
pela clara compreensão do problema por parte dos manifestantes. De fato,
a maioria deles não exprime em suas falas uma análise das causas desse
modo de funcionamento dos partidos políticos, qual seja, a estrutura
autoritária da sociedade brasileira, de um lado, e, de outro, o sistema
político-partidário montado pelos casuísmos da ditadura. Em lugar de
lutar por uma reforma política, boa parte dos manifestantes recusa a
legitimidade do partido político como instituição republicana e
democrática. Assim, sob esse aspecto, apesar do uso das redes sociais e
da crítica aos meios de comunicação, a maioria dos manifestantes aderiu à
mensagem ideológica difundida anos a fio pelos meios de comunicação de
que os partidos são corruptos por essência. Como se sabe, essa posição
dos meios de comunicação tem a finalidade de lhes conferir o monopólio
das funções do espaço público, como se não fossem empresas capitalistas
movidas por interesses privados. Dessa maneira, a recusa dos meios de
comunicação e as críticas a eles endereçadas pelos manifestantes não
impediram que grande parte deles aderisse à perspectiva da classe média
conservadora difundida pela mídia a respeito da ética. De fato, a
maioria dos manifestantes, reproduzindo a linguagem midiática, falou de
ética na política (ou seja, a transposição dos valores do espaço privado
para o espaço público), quando, na verdade, se trataria de afirmar a
ética da política (isto é, valores propriamente públicos), ética que não
depende das virtudes morais das pessoas privadas dos políticos, e sim
da qualidade das instituições públicas enquanto instituições
republicanas. A ética da política, no nosso caso, depende de uma
profunda reforma política que crie instituições democráticas
republicanas e destrua de uma vez por todas a estrutura deixada pela
ditadura, que força os partidos políticos a fazer coalizões absurdas se
quiserem governar, coalizões que comprometem o sentido e a finalidade de
seus programas e abrem as comportas para a corrupção. Em lugar da
ideologia conservadora e midiática de que, por definição e por essência,
a política é corrupta, trata-se de promover uma prática inovadora capaz
de criar instituições públicas que impeçam a corrupção, garantam a
participação, a representação e o controle dos interesses públicos e dos
direitos pelos cidadãos. Numa palavra, uma invenção democrática</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Ora, ao
entrar em cena o pensamento mágico, os manifestantes deixam de lado o
fato de que, até que uma nova forma da política seja criada num futuro
distante, quando, talvez, a política se realizará sem partidos, por
enquanto, numa república democrática (ao contrário de numa ditadura),
ninguém governa sem um partido, pois é este que cria e prepara quadros
para as funções governamentais para a concretização dos objetivos e das
metas dos governantes eleitos. Bastaria que os manifestantes se
informassem sobre o governo Collor para entender isso: Collor partiu das
mesmas afirmações feitas por uma parte dos manifestantes (partido
político é coisa de “marajá” e é corrupto) e se apresentou como um homem
sem partido. Resultado: não teve quadros para montar o governo nem
diretrizes e metas coerentes e deu feição autocrática ao governo, isto
é, “o governo sou eu”. Deu no que deu</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Além disso,
parte dos manifestantes está adotando a posição ideológica típica da
classe média, que aspira por governos sem mediações institucionais, e,
portanto, ditatoriais. Eis porque surge a afirmação de muitos
manifestantes, enrolados na bandeira nacional, de que “meu partido é meu
país”, ignorando, talvez, que essa foi uma das afirmações fundamentais
do nazismo contra os partidos políticos</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Assim, em
lugar de inventar uma nova política, de ir rumo a uma invenção
democrática, o pensamento mágico de grande parte dos manifestantes se
ergueu contra a política, reduzida à figura da corrupção.
Historicamente, sabemos onde isso foi dar. E por isso não nos devem
surpreender, ainda que devam nos alarmar, as imagens de jovens
militantes de partidos e movimentos sociais de esquerda espancados e
ensanguentados durante a manifestação de comemoração da vitória do MPL.
Já vimos essas imagens na Itália dos anos 1920, na Alemanha dos anos
1930 e no Brasil dos anos 1960-1970</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: black;">Conclusão provisória</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Do ponto de vista simbólico, as manifestações possuem um sentido importante que contrabalança os problemas aqui mencionados</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Não se trata, como se ouviu dizer nos meios de comunicação, que finalmente os jovens abandonaram a “bolha” do condomínio e do <i>shopping center</i>
e decidiram ocupar as ruas (já podemos prever o número de novelas e
minisséries que usarão essa ideia para incrementar o programa <i>High School Brasil</i>,
da Rede Globo). Simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas
afirmações explícitas contra a política, os manifestantes realizaram um
evento político: disseram ‘não’ ao que aí está, contestando as ações dos
Poderes Executivos municipais, estaduais e federal, assim como as do
Poder Legislativo nos três níveis. Praticando a tradição do humor
corrosivo que percorre as ruas, modificaram o sentido corriqueiro das
palavras e do discurso conservador por meio da inversão das
significações e da irreverência, indicando uma nova possibilidade de
práxis política, uma brecha para repensar o poder, como escreveu um
filósofo político sobre os acontecimentos de maio de 1968 na Europa</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Justamente
porque uma nova possibilidade política está aberta, algumas observações
merecem ser feitas para que fiquemos alertas aos riscos de apropriação e
destruição dessa possibilidade pela direita conservadora e reacionária</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Comecemos
por uma obviedade: como as manifestações são de massa (de juventude,
como propala a mídia) e não aparecem em sua determinação de classe
social, que, entretanto, é clara na composição social das manifestações
das periferias paulistanas, é preciso lembrar que uma parte dos
manifestantes não vive nas periferias das cidades, não experimenta a
violência do cotidiano experimentada pela outra parte dos manifestantes.
Com isso, podemos fazer algumas indagações. Por exemplo: os jovens
manifestantes de classe média que vivem nos condomínios têm ideia de que
suas famílias também são responsáveis pelo inferno urbano (o aumento da
densidade demográfica dos bairros e a expulsão dos moradores populares
para as periferias distantes e carentes)? Os jovens manifestantes de
classe média que, no dia em que fizeram 18 anos, ganharam de presente um
automóvel (ou estão na expectativa do presente quando completarem essa
idade) têm ideia de que também são responsáveis pelo inferno urbano? Não
é paradoxal, então, que se ponham a lutar contra aquilo que é resultado
de sua própria ação (isto é, de suas famílias), mas atribuindo tudo
isso à política corrupta, como é típico da classe média?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Essas
indagações não são gratuitas nem expressão de má vontade a respeito das
manifestações de 2013. Elas têm um motivo político e um lastro histórico</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Motivo
político: assinalamos anteriormente o risco de apropriação das
manifestações rumo ao conservadorismo e ao autoritarismo. Só será
possível evitar esse risco se os jovens manifestantes levarem em conta
algumas perguntas:</span></div>
<ol style="text-align: justify;">
<li><span style="color: black;">estão dispostos a lutar contra as ações
que causam o inferno urbano, e portanto enfrentar pra valer o poder do
capital de montadoras, empreiteiras e cartéis de transporte, que, como
todos sabem, não se relacionam pacificamente (para dizer o mínimo) com
demandas sociais?</span></li>
<li><span style="color: black;">estão dispostos a abandonar a suposição de que a política se faz magicamente sem mediações institucionais?</span></li>
<li><span style="color: black;">estão dispostos a se engajar na luta
pela reforma política, a fim de inventar uma nova política, libertária,
democrática, republicana, participativa?</span></li>
<li><span style="color: black;">estão dispostos a não reduzir sua
participação a um evento pontual e efêmero e a não se deixar seduzir
pela imagem que deles querem produzir os meios de comunicação?</span></li>
</ol>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Lastro
histórico: quando Luiza Erundina, partindo das demandas dos movimentos
populares e dos compromissos com a justiça social, propôs a Tarifa Zero
para o transporte público de São Paulo, ela explicou à sociedade que a
tarifa precisava ser subsidiada pela prefeitura e que não faria o
subsídio implicar cortes nos orçamentos de educação, saúde, moradia e
assistência social, isto é, dos programas sociais prioritários de seu
governo. Antes de propor a Tarifa Zero, ela aumentou em 500% a frota da
CMTC (explicação para os jovens: CMTC era a antiga empresa municipal de
transporte) e forçou os empresários privados a renovar sua frota. Depois
disso, em inúmeras audiências públicas, apresentou todos os dados e
planilhas da CMTC e obrigou os empresários das companhias privadas de
transporte coletivo a fazer o mesmo, de maneira que a sociedade ficou
plenamente informada quanto aos recursos que seriam necessários para o
subsídio. Ela propôs, então, que o subsídio viesse de uma mudança
tributária: o IPTU progressivo, isto é, o imposto predial e territorial
seria aumentado para os imóveis dos mais ricos, que contribuiriam para o
subsídio junto com outros recursos da prefeitura. Na medida que os mais
ricos, como pessoas privadas, têm serviçais domésticos que usam o
transporte público e, como empresários, têm funcionários usuários desse
mesmo transporte, uma forma de realizar a transferência de renda, que é
base da justiça social, seria exatamente fazer com que uma parte do
subsídio viesse do novo IPTU.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">Os jovens manifestantes de hoje desconhecem o que se passou: comerciantes fecharam ruas inteiras, empresários ameaçaram <i>lockout</i>
das empresas, nos “bairros nobres” foram feitas manifestações contra o
“totalitarismo comunista” da prefeita e os poderosos da cidade
“negociaram” com os vereadores a não aprovação do projeto de lei. A
Tarifa Zero não foi implantada. Discutida na forma de democracia
participativa, apresentada com lisura e ética política, sem qualquer
mancha possível de corrupção, a proposta foi rejeitada. Esse lastro
histórico mostra o limite do pensamento mágico, pois não basta ausência
de corrupção, como imaginam os manifestantes, para que tudo aconteça
imediatamente da melhor maneira e como se deseja.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: black;">Cabe uma
última observação: se não levarem em consideração a divisão social das
classes, isto é, os conflitos de interesses e de poderes
econômico-sociais na sociedade, os manifestantes não compreenderão o
campo econômico-político no qual estão se movendo quando imaginam estar
agindo fora da política e contra ela. Entre os vários riscos dessa
imaginação, convém lembrar aos manifestantes que se situam à esquerda
que, se não tiverem autonomia política e se não a defenderem com muita
garra, poderão, no Brasil, colocar água no moinho dos mesmos poderes
econômicos e políticos que organizaram grandes manifestações de direita
na Venezuela, na Bolívia, no Chile, no Peru, no Uruguai e na Argentina. E
a mídia, penhorada, agradecerá pelos altos índices de audiência.</span><b><br /></b>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-15372645401822415272013-06-23T21:32:00.000-04:002013-06-24T09:41:20.116-04:00APONTAMENTOS PARA O DIA SEGUINTE<br />
A manifestação denominada Dia do Basta, que reuniu uma multidão em Rio Branco, no último sábado, é um ato histórico em si mesmo.<br />
<br />
Há muito tempo os espaços da cidade não eram preenchidos espontaneamente com tanta pluralidade, tanta diversidade de idéias.<br />
<br />
Reunir essa balbúrdia em um lugar só é possível quando há interesses mínimos em comum.<br />
<br />
Por outro lado, não é de hoje que comoções sociais de larga escala costumam tocar apenas tangencialmente as suas causas. Zygmunt Bauman, um dos teóricos da pós-modernidade, credita esse fenômeno à substituição das referências políticas tradicionais por grupos dispersos de pertencimento: rappers, punks, gays, feministas etc.<br />
<br />
Segundo Bauman, como cada um desses grupos tem agendas e interesses próprios, sua manifestação coletiva, nas raras vezes em que ocorre, não atua na esfera do rompimento da ordem. Atua em reivindicações específicas para cada grupo - portanto, atua na esfera da <i>afirmação da ordem</i>.<br />
<br />
A despeito de Bauman, ouso afirmar que eventos como o Dia do Basta, em Rio Branco, e outros, marcados por uma miríade aparentemente desconexa de reivindicações de todo tipo, aponta precisamente para uma identificação coletiva, em um nível que poderíamos chamar de <i>sintomatologia da perda</i>.<br />
<br />
Há uma intersubjetividade latente, subjacente. Inconsciente.<br />
<br />
Algo liga os manifestantes, e esse <i>algo</i> é o desgaste das fórmulas políticas tradicionais. Como não consegue ultrapassar certos anteparos ideológicos que protegem a existência - e a irritante <i>persistência</i> - dessas fórmulas, o protesto se volta contra a sua manifestação direta: a gestão pública.<br />
<br />
Além de reivindicar pautas pontuais para tribos e guetos (embora muitas dessas pautas estejam também nas manifestações), protesta-se ainda contra os sintomas mais claros da inversão do caráter público, coletivo, da vontade social. Esses sintomas variam de projetos de lei que viabilizam ou facilitam o furto do patrimônio público (PEC 37, cartéis de empresas de ônibus, falta de clareza nas prioridades orçamentárias etc) até atos administrativos viciados ou claramente definidos em favor de apadrinhados (soltura dos presos da operação G7, ausência de democratização dos canais públicos de comunicação, empregabilidade sem critérios para aliados etc).<br />
<br />
Nesse sentido, é notável que, no caso de Rio Branco, nenhuma das reivindicações dirigidas ao Estado tenha sido clara, no sentido da sua <i>operacionalidade imediata</i>. Vejamos:<br />
<br />
. O fim da tramitação da PEC 37 depende de um acordo entre os partidos no Congresso Nacional - partidos cuja legitimidade política os próprios manifestantes questionam.<br />
<br />
. A prisão dos membros do G7 não pode ser atendida de pronto pelo Judiciário - é preciso que o Supremo Tribunal Federal (STF), para onde o processo foi deslocado, coloque o tema em pauta e considere, em caráter liminar, que os réus oferecem algum perigo às investigações (evidentemente, advogados reagirão).<br />
<br />
. A redução e a transparência dos gastos públicos foi contemplada, virtualmente, pela presidente Dilma Rousseff, em pronunciamento de rede nacional de rádio e televisão. Porém, se essas medidas serão satisfatórias para os manifestantes, é outra história.<br />
<br />
Uma nota paralela: em 2000, FHC conseguiu aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) embalado por protestos parecidos. A lei não impediu a apropriação indevida do erário - mas calou os manifestantes, na época.<br />
<br />
Houve ainda protestos dirigidos à própria Dilma Rousseff, que não está envolvida em qualquer denúncia de desvio de recursos - em que pese a destinação de verbas bilionárias, via financiamentos públicos, para a construção e reforma de estádios de futebol - leia-se: empreiteiras; leia-se: doações de campanha - até 2014.<br />
<br />
Altino Machado, Letícia Mamed, Armando Pompermaier, Lindomar Padilha e outros acham que o protesto principal, no caso específico do Acre, foi contra o governo Tião Viana.<br />
<br />
Concordo em parte, mas somente porque Tião e Jorge Viana, Aníbal Diniz, Dilma Rousseff, Lula, Petecão, Flaviano Melo, Antonia Lucia, Gladson Cameli e outros estão imersos precisamente no sistema que está em crise. Todas as ações desses e de outros indivíduos indicam apenas o seu pertencimento inegável a uma ordem social que manejam e na qual se movem com muita perspicácia. Esta ordem se alimenta de ciclos intermináveis de crises e substituições, de tal forma que, na maioria dos sites de informação, é possível ver matérias de políticos de oposição <i>prestando solidariedade</i> aos manifestantes.<br />
<br />
Esta solidariedade, sabem eles, pode render votos em 2014.<br />
<br />
São como os vermes: alimentam-se das carcaças dos mortos.<br />
<br />
O movimento, portanto, foi sábio em rechaçar os partidos nesse momento. É uma tentativa espontânea de encontrar a verdadeira causa do problema. O mecanismo escondido pelas aparências. O motivo pelo qual a política representativa, com suas siglas e tramitações infinitas, virou um cartel de vigaristas e parasitas.<br />
<br />
Por essa exata razão não há clareza nas reivindicações. Não é um subproduto da despolitização do brasileiro, como afirmam alguns vanguardistas que ainda não entenderam a dimensão do problema em andamento. Nos fenômenos da fala, titubeia-se quando dois pensamentos opostos e simultâneos lutam na mente. Na política, vacila-se diante da incoerência de reivindicar a quem, ao mesmo tempo, se rechaça.<br />
<br />
O fato desse mecanismo, a reivindicação dirigida a quem se desconfia, ser o único aceito pelas instituições dominantes, permanece no momento intocado. Quem o desafia, nos protestos ou no cotidiano, é imediatamente marginalizado ou mesmo eliminado.<br />
<br />
Em breve, a continuar o conflito nas ruas, e se não for cooptado por alguma agenda legislativa, esse pequeno detalhe deve ser confrontado. O resultado desse confronto definirá o vencedor.<br />
<br />
Perde tempo quem quem restringe essa luta apenas ao governo do PT. A luta é por uma nova forma de fazer política, uma forma que ainda não existe, que é apenas intuída, mas que com certeza não inclui negociar com o Estado para ver meia dúzia de reivindicações atendidas - certamente com algumas mudanças no caminho, durante o processo de tramitação legislativa (como já citado isso aconteceu em 2000, com a LRF, mas vem acontecendo sistematicamente em nosso país: com os lineamentos da ECO Rio 92, com a Constituição, com a derrubada (?) do Collor, com a redução das passagens de ônibus em São Paulo etc).<br />
<br />
A crise, adaptando toscamente uma expressão do István Meszáros, é estrutural - e por isso inclui o Tião Viana. O PT, assim como todas as siglas que disputam espaço no sistema político brasileiro e mundial, à direita e à esquerda, integra organicamente o sistema em crise.<br />
<br />
O mesmo vale para intelectuais de esquerda que defendem a presença de partidos nessa onda mundial de protestos. A maioria se vale de leituras conjunturais derivadas de seus próprios partidos, surgidos de facções inicialmente minoritárias da II Internacional, que propunha avançar por dentro do sistema político mundial com reformas favoráveis à classe trabalhadora.<br />
<br />
A história, que não é linear nem estática, demonstrou que essa agenda, em períodos de crise estrutural, acentua as contradições e promove o conformismo e a cooptação - caso do Acre.<br />
<br />
Intelectuais que defendem a presença de partidos não entenderam que o avanço do capitalismo colocou em xeque o próprio capitalismo, a sua representatividade social. É isso, ou a expressão política disso, que se contesta nas ruas.<br /><br />
Por isso mesmo o PT, ao gerir a máquina pública acreana, não foi capaz de unificar "todos os povos do mundo num só ideal e num só pensamento de unidade socialista", como escreveu Chico Mendes em seu trágico bilhete endereçado aos jovens do ano de 2120. A tentativa de construir uma identidade coletiva baseada no passado específico do Acre, esforço dos Vianas desde 1999, é o oposto simétrico disso. É um auto-engano, mas um auto-engano sintomático.<br />
<br />
Como o mesmo fenômeno ocorreu no Brasil e em outras partes do mundo, escancarando o caminho para a privatização final da esfera política - para manter a governabilidade, para garantir as doações de campanha etc - ameaçou-se operar o <i>fim da política</i>. Daí a agenda dos protestos: quando os interesses públicos se tornaram privados? Como fazer os interesses públicos serem válidos? Como fazer <i>outra política</i>?<br />
<br />
Acredito que a força própria das manifestações, as conexões naturais entre causas e efeitos para quem sofre as violências do cotidiano, vão demonstrar a inviabilidade que é pedir moralização administrativa ou mecanismos jurídicos de controle da corrupção a quem se beneficia de tudo isso. Nesse sentido, o movimento estudantil tem o papel extremamente importante de fazer as conexões entre causas e efeitos, entre as origens materiais dessas e de outras práticas para explicar como <i>a ideologia do controle da sociedade sobre as instituições é uma prática de controle das instituições sobre a sociedade</i>.<br />
<br />
Se estas associações ficarem claras, será possível entender por que a redução de 20 centavos na passagem de ônibus, em São Paulo, é uma faísca em um oceano de gasolina.<br />
<br />
Pode-se argumentar que o Acre é muito pequeno para tais debates complexos e que, na verdade, precisamos de desenvolvimento e educação para que possamos ser responsáveis em nossos desejos. Este é um dos discursos ideológicos que virão. Eles buscam desativar as ameaças potenciais.<br />
<br />
Um bom antídoto é pensar que o Acre não existe. A Amazônia não existe. O Brasil não existe. Nenhum país, nenhum Estado, nenhum município, em qualquer quadrante do mundo, existe. Tudo é construído. simbolizado, narrado. Nós é que criamos os significados, como considerar que há uma só democracia, que o único meio de mudanças é negociar com as autoridades etc.<br />
<br />
No entanto, todos os homens, de todos os lugares e de todos os tempos, apenas falam línguas diversas e vestem roupas diferentes. Essa perspectiva deve ser lembrada e celebrada: não estamos sós. Enquanto protestamos, em outros lugares do mundo outros protestam também, pelas mesmas razões - apesar de, em muitos casos, se voltarem apenas contra seus governos em busca de outros mais eficazes. Em muitos outros lugares, alguns também repintam os <i>palácios</i> que picharam.<br />
<br />
Construir o mundo, criar novos símbolos. Esta é a tarefa do tempo presente.Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-78449548545314342992013-06-23T14:21:00.002-04:002013-06-23T14:21:28.986-04:00V DE VINGANÇA - A REVISTA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.4shared.com/office/UCtJgP5l/V_de_Vingana.htm" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://img12.imageshack.us/img12/8711/vdevinganca.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Não é só mais um filme bonitinho</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>V de Vingança</b> (versão em português para <i>V for Vendetta</i>) é uma série de romances gráficos escrita por <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Moore" title="Alan Moore">Alan Moore</a> e em grande parte desenhada por <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Lloyd" title="David Lloyd">David Lloyd</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi publicada originalmente entre 1982 e 1983 em preto e branco pela editora britânica Warrior, mas não chegou a ser finalizada. Em 1988, incentivados pela DC Comics, Allan Moore e David Lloyd retomaram a série e a concluíram com uma edição colorida. A série completa foi republicada nos EUA pelo selo Vertigo da DC e no Reino Unido pela Titan Books. No Brasil, foi publicada em 1989 em cinco edições em cores pela Editora Globo e mais tarde pela Via Lettera, em dois volumes em preto e branco; em 2006 teve uma edição especial pela Panini, em volume único, colorido e com material extra. Atendendo a pedidos, em 2012 a Panini relançou esta edição especial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sinopse:</b> A<span style="color: black;">pós
um aparente hecatombe nuclear, a Inglaterra mergulha no caos. Depois de
algum tempo, a ordem volta a se estabelecer, mas de forma ditatorial.
Um governo fascista caça os direitos civis, impõe a censura e rechaça
qualquer tentativa de oposição ao que impõe.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O medo profetizado no século XX, do
estado vigiando o cidadão e tolhendo sua liberdade de expressão, se
materializa nessa Inglaterra onde o estado tem olhos, ouvidos, nariz e
dedos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como já ocorreu na história real do
mundo, nessa ficção os ditadores também têm seus campos de concentração,
nos quais os não adequados à nova ordem são interrogados, torturados,
mortos e, algumas vezes, submetidos aos mais asquerosos experimentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eis que mesmo nesse regime
totalitário/fascista uma voz se levanta e ousa proclamar a possibilidade
de uma outra forma de vida, na qual não haja regras e leis arbitrárias,
em que a liberdade e as individualidades sejam valorizadas e conduzam a
um novo cenário, um personagem designado simplesmente “V” é o porta-voz
dessa idéia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vitima de um dos abomináveis campos de
concentração, “V” esteve no fundo do poço, e sem ter mais para onde
cair, a única opção era se erguer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aos poucos, se faz claro que “V”, mais que uma pessoa, representa um conceito, uma idéia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Para baixar, <a href="http://www.4shared.com/office/UCtJgP5l/V_de_Vingana.htm">clique aqui</a>.</b></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-14559797641015316522013-06-20T20:31:00.001-04:002013-06-20T20:31:31.689-04:00DILUIR AS REIVINDICAÇÕES PARA NÃO PAGAR A CONTA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.viomundo.com.br/wp-content/uploads/2013/06/passe.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.viomundo.com.br/wp-content/uploads/2013/06/passe.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b>Por Yuri Franco, no <a href="http://www.viomundo.com.br/">Viomundo</a></b><br />
<br />
Nos últimos dias o Brasil tem sido sacudido por manifestações em
diversas cidades. Como centelha inicial está a questão do transporte
público, causadas pelo aumento da tarifa do transporte coletivo em
várias cidades. Esta é uma reivindicação justíssima, e inclusive a
revogação dos aumentos é apenas uma pauta imediata. Há uma discussão
antiga e profunda sobre a questão do financiamento do transporte
coletivo, que hoje serve basicamente como ferramenta de lucro de alguns
empresários.<br />
<br />
Ao irem às ruas, surgiram também críticas decorrentes da violência
policial. A Polícia Militar, como a conhecemos hoje, foi construída ao
longo do tempo para ser exatamente isso: instrumento de controle da
população e de defesa da propriedade. Isso também não é exclusividade do
Brasil.<br />
<br />
Recentemente, ao ser questionado sobre a repressão violenta da
polícia aos manifestantes na Turquia, o primeiro ministro turco
respondeu que sua polícia utilizava os mesmos mecanismos repressivos que
a polícia dos Estados Unidos e dos países europeus. Nesse ponto, ele
tinha razão.<br />
<br />
Infelizmente a mídia e a direita (o que é um pleonasmo), após
inicialmente chamarem os manifestantes de vândalos e baderneiros,
resolveram fazer uma virada espetacular de opinião e passaram a
apoiá-los.<br />
<br />
O problema é que esse apoio tem um objetivo muito claro: diluir as
bandeiras legítimas dos movimentos ao mesmo tempo em que tentam inserir
as suas pautas reacionárias e tentam capitalizar o movimento para os
seus objetivos sórdidos.<br />
<br />
Esta virada foi sendo colocada quando a seguinte palavras de ordem
foi sendo posta: “não é por centavos”. A partir do momento em que a
pauta principal e inicial do movimento foi sendo escanteada, abriu-se
espaço para que todo tipo de pauta fosse incluída: “contra isso tudo que
está aí”, “contra a corrupção” de maneira vaga e despolitizada, “contra
os impostos”, e até as mais recentes que já circulam nas redes sociais,
como “contra a ditadura gay” e “pelo impeachment da Dilma”.<br />
<br />
Os slogans também foram sendo usados de forma a despolitizar. O pior deles é “O gigante acordou”.
Este slogan é complicadíssimo. Carregado de ufanismo, ele simplesmente
tenta jogar para a vala do esquecimento os séculos de lutas e
resistências do povo brasileiro: os índios e suas guerras de
resistência, os negros e seus quilombos, os movimentos feministas e suas
marchas, a classe trabalhadora e suas greves, os trabalhadores rurais e
suas ocupações, o movimento estudantil e suas manifestações…<br />
<br />
Para os setores reacionários nenhuma dessas lutas vale, já que sempre estiveram do outro lado, dos exploradores, da elite.<br />
<br />
Há um discurso nestes setores, de que “é necessário acabar com o pão e
circo”. Precisamos rechaçar fortemente esse discurso, pois o que eles
chamam de “política do pão e circo” são os avanços que tivemos nos
últimos anos. Eles querem acabar com as políticas sociais de
distribuição de renda, com as cotas sociais e raciais, com a política de
valorização do salário mínimo e da massa salarial da classe
trabalhadora em geral, com os direitos trabalhistas que as empregadas
domésticas ganharam recentemente.<br />
<br />
Dentro dos palácios temos os governantes, que não souberam negociar e
até o momento ainda se mostram atônitos. Utilizam argumentos técnicos,
quando o seu papel é fazer política, em outras palavras, procurar meios
para atender às pautas populares. Não é possível governar apenas com
gestão sem discutir os rumos da sociedade.<br />
<br />
Há também uma demanda reprimida da população por participação. Esse
sistema político atual, com financiamento privado, favorece a corrupção,
uma vez que os financiadores das campanhas cobram depois o retorno dos
seus “investimentos”. Também afasta a população das decisões relevantes
das cidades, dos estados e do país. É preciso então discutir uma
profunda reforma política, que dê voz e espaço aos setores excluídos da
política institucional.<br />
<br />
Como resistir à tentativa de sequestro dos atos?<br />
<br />
Precisamos primeiramente compreender que a gênese desses movimentos é
progressista e tem como pautas problemas concretos da vida das pessoas.
No entanto há uma operação da mídia e da direita de desvirtuá-los e
transformar os manifestantes em massa de manobra para setores da elite
que não pretendem avançar, mas sim retroceder nos direitos da maioria da
população.<br />
<br />
É preciso que os manifestantes “antigos”, que já estão nas lutas e
nas ruas há muito tempo em defesa das pautas progressistas, se somem aos
atos e disputem sua linha, para que o tom seja pela conquista de novos
direitos, sem abrir mão do que já foi conquistado.<br />
<br />
Para os manifestantes novos: sejam bem-vindos à luta!<br />
<br />
A única compreensão que eu lhes peço é que entendam o motivo que
torna impossível “todos darmos as mãos por uma causa só, independente
das diferenças”. Há, como sempre houve, a necessidade que alguém perca
para que alguém possa ganhar.<br />
<br />
Para termos passagens mais baratas e transporte de qualidade
é preciso que o dinheiro saia de algum lugar: ou dos governos (o que
seria trocar seis por meia dúzia), ou diminuir os lucros dos empresários
do setor e aumentar impostos dos usuários de transporte individual
(carros). Para conquistarmos direitos para a população LGBT precisaremos
derrotar os fundamentalistas. Para democratizarmos as comunicações
precisaremos derrotar a grande mídia, para termos melhores salários e
condições de trabalho precisaremos derrotar os empresários, para termos
mais dinheiro precisaremos derrotar os banqueiros que lucram em cima de
nós com seus juros, e por aí segue…<br />
<br />
Creio que o meio para defender os atos e os movimentos da intromissão
de pautas reacionárias nesse momento é a restrição das nossas pautas
nos atos. Precisamos realizar atos como sendo claramente contra os
aumentos e em defesa de um novo modelo de transporte público e de
qualidade.<br />
<br />
Há diversas pautas progressistas igualmente importantes, como o
combate ao projeto de lei da “cura gay” aprovado nesta terça-feira
(18/06) pelo Feliciano na CDHM da Câmara dos Deputados, a Reforma
Política, a democratização dos meios de comunicação, o combate à PEC37
(que restringe os poderes de investigação do Ministério Público), dentre
tantas outras.<br />
<br />
Se pulverizarmos as pautas em poucas manifestações “genéricas”,
estaremos ajudando a fazer o que a mídia e a direita tanto querem:
caracterizar o movimento como difuso e aberto à qualquer pauta, e já
percebemos que onde cabe qualquer pauta, cabem também as pautas dos
nossos adversários.<br />
<br />
É necessário organizarmos atos para cada uma dessas pautas,
aproveitando o momento político para acumular força, organicidade e
visibilidade para as nossas lutas, que certamente não terminarão em uma
ou duas semanas.<br />
<br />
Que as manifestações não sejam passageiras!<br />
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-51373900274458032042013-06-20T19:09:00.001-04:002013-06-20T19:38:39.068-04:00OS LIMITES DA LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_faixa_direita_reprodu%C3%A7%C3%A3o_instagram.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="236" src="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_faixa_direita_reprodu%C3%A7%C3%A3o_instagram.gif" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cartaz utilizado em um dos protestos na capital paulista: vai que cola...</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<b>Por José Francisco Neto, no <a href="http://www.brasildefato.com.br/">Brasil de Fato</a></b><br />
<br />
<div class="western">
Durante o quinto e o sexto protesto contra o aumento
das tarifas do transporte público em São Paulo, foi notável a
heterogeneidade de reivindicações. A pauta central do Movimento Passe
Livre (MPL), que pede a redução das tarifas, parece estar perdendo a
centralidade. Surgem em meio às manifestações cartazes com dizeres como:
“Contra a corrupção” e “Impeachment à Dilma”.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Na
segunda-feira (17) e na terça-feira (18), a reportagem do Brasil de
Fato constatou uma sensível diferença nos atos comparando-os com a
semana anterior. Os gritos não eram os mesmos puxados pelos movimentos
sociais. As bandeiras dos partidos não foram mais estiadas. Muitas,
inclusive, foram impedidas de serem levantadas por um grupo de pessoas
que pediam “Sem partido!”, com bandeiras do Brasil nas mãos e cantando o
hino nacional.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
A reportagem passava ao lado da
prefeitura de São Paulo quando presenciou um grupo de pessoas que
segurava uma bandeira vermelha de um movimento sem-teto. Um rapaz, de
aparentemente 27 anos, ao ver a bandeira, disse irritado: “que merda é
essa? Só faltava ter comunista aqui agora”.<br />
<br />
Na
segunda-feira, militantes da Juventude do PT quase foram agredidos por
tentarem erguer a bandeira do partido. Já pessoas ligadas ao PSTU não
conseguiram recuar e foram violentados por alguns manifestantes.
"Começaram com gritos de longe e depois vieram para cima dizendo que
nenhum partido os representava e que os partidos deveriam sair do ato.
Aos socos e ponta-pés as bandeiras do PSTU foram arrancadas das mãos dos
militantes e rasgadas por aqueles manifestantes que comemoraram logo
depois", conta uma manifestante que presenciou a cena.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Presente
nos atos, o cientista social Bruno Casalotti lembra que ser contra os
partidos é corroborar com o fascismo. "A existência de partidos é
fundamental para a garantia da democracia. É ótimo que eles estejam nos
atos, inclusive a juventude do PT", destaca.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
União
popular é o que conclama Casalotti. "Quer pressionar o Haddad a baixar a
tarifa? Vamos fazer isso junto com a juventude do próprio partido dele
que temos mais força! PSTU, PSOL, todos têm o direito de estarem nos
atos e levantarem suas bandeiras", reforça.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
Somando-se ao debate, o professor de sociologia e história do Instituto
Federal de Educação e Ciência, Kennedy Ferreira, ressalta que em uma
manifestação democrática cabem todas as bandeiras, "em especial aquelas
que sempre estiveram ao lado dos mais desfavorecidos". </div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_mpl_bruno-casalotti.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_mpl_bruno-casalotti.gif" /></a></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_mpl_bruno-casalotti1.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://www.brasildefato.com.br/sites/default/files/ato_mpl_bruno-casalotti1.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Outro cartaz do protesto em São Paulo. Podia ser em Rio Branco. Ou não?</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<b>Direita radical</b><br />
<br />
<div class="western">
Fatos inusitados não presenciados nas primeiras
manifestações também foram registrados pelo cientista social Bruno
Casalotti. Ele disse ao <b>Brasil de Fato </b>que, enquanto
caminhava junto a manifestação, uma menina, de aproximadamente 17 anos,
entregou dois panfletos a ele com dizeres do tipo “Prisão rural
perpétua, não queremos sustentar bandidos” ou “eliminação da idade
mínima penal, independentemente da idade, o infrator deve ser punido".
Ao ser questionada sobre a origem dos panfletos, ela respondeu: “um cara
me deu esse bolinho pra distribuir”.</div>
<div class="western">
<br /></div>
Casalotti
considera que os dizeres presentes nesses panfletos são pautas da
direita mais reacionária do Brasil. “A existência de um panfleto como
esse demonstra que há setores que estão interessados em desvirtuar as
motivações iniciais dos protestos, e o pior é que são setores escusos,
porque nem assinar o panfleto eles assinaram”, reforça.<b> </b>Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-65081736108997475062013-06-20T16:32:00.003-04:002013-06-20T16:43:09.024-04:00HISTÓRIATomar banho de rio<br />
Comer ingá e abiu<br />
Caçar paca, anta, tatu<br />
E<br />
Não ter história.<br />
<br />
Criar galinha no terreiro<br />
Fazer chá de mulateiro<br />
Pular a fogueira de São João<br />
E<br />
Não ter história.<br />
<br />
Jogar bola na chuva na rua de chão<br />
Pegar minhoca no quintal com a mão<br />
Pescar de caniço cará, mandim, trairão.<br />
E<br />
Não ter história.<br />
<br />
Sair do alagado<br />
Virar soldado<br />
Ganhar um ordenado<br />
Ser aceito na história.<br />
<br />
Obedecer o chefe, o pastor, o governo.<br />
Sorrir amarelo na coluna social.<br />
Protestar pela ordem, a pátria, a moral.<br />
E<br />
Escrever a história.Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-57324789831113015732013-06-19T14:38:00.002-04:002013-06-19T14:38:35.396-04:00COMO ENQUADRAR UM PROTESTOFazendo um debate na televisão.<br />
<br />
Foi o que percebi ontem, ao assistir o Gazeta Entrevista apresentado pelo robótico Allan Rick, da TV Gazeta.<br />
<br />
O apresentador, os debatedores e os próprios organizadores do evento foram unânimes: é preciso evitar exageros. Fugir da violência. Não quebrar nada. Manter a ordem.<br />
<br />
MANTER A ORDEM!<br />
<br />
Não sei quanto a vocês, mas esta expressão ecoa até agora, como um mantra, na minha cachola.<br />
<br />
Manter a ordem, pois, "o povo acreano é educado, pacífico e ordeiro", segundo o apresentador.<br />
<br />
<i>Carajo</i>, o problema não é justamente a ordem?<br />
<br />
Os fiscais ambientais que<a href="http://altino.blogspot.com.br/2013/06/jorge-neto-so-jogamos-ovo-por-isso-nada.html"> multaram o Jorge Neto</a>, do movimento <i>hip-hop</i>, aplicaram a lei - a ordem.<br />
<br />
A liberdade condicional dos secretários de Estado, presos pela Polícia Federal durante a Operação G7, é prevista legalmente, já que todos têm domicílio fixo e não têm antecedentes criminais. Tudo em ordem.<br />
<br />
Os problemas com liberdade de expressão, que impedem o livre exercício de vozes contraditórias na imprensa acreana, tornando-a cada vez mais insuportavelmente igual, resulta da impossibilidade dos donos dos jornais ouvirem vozes dissonantes do poder - e, nos poucos casos em que o fazem, é para chantagear o poder visando fatias maiores da publicidade estatal. Tudo legal, previsto na ordem.<br />
<br />
- Protestem, mas dentro dos espaços e condições fornecidos pela própria ordem para tal -, dizem.<br />
<br />
Essa postura não se dá por acaso.<br />
<br />
Toda novidade política, para surgir, precisa romper com a ordem estabelecida.<br />
<br />
A democracia moderna surgiu contestando a ordem, na França de 1789.<br />
<br />
As leis que hoje protegem a expressão no Brasil insurgiram-se contra a ordem dos generais de 64.<br />
<br />
Os empates no Acre contestam até hoje os discursos dos diferentes governos sobre a "inclusão" da Amazônia na ordem do desenvolvimento mundial (a própria idéia de desenvolvimento está em xeque).<br />
<br />
O que liga todos esses casos é: a contestação, a subversão da ordem.<br />
<br />
O que ocorreria se, em cada época dessas, os manifestantes protestassem dentro da ordem?<br />
<br />
Nada. Absolutamente nada.<br />
<br />
Logo que apareceram, blogs e outros meios de interação virtual foram acidamente criticados pela imprensa tradicional, acusados de serem "rancorosos" e de "disseminarem informações distorcidas". Havia propagandas de jornalões na TV tentando apontar a própria credibilidade como salvo-conduto da verdade, ao melhor estilo da velhíssima <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Argumentum_ad_verecundiam">falácia de autoridade</a>.<br />
<br />
Hoje, os blogs são não só a melhor fonte de informações sobre os movimentos sociais, como a mais legítima entre eles. São, simultaneamente, informadores e disseminadores. Reportam e debatem.<br />
<br />
Subverter a ordem é a condição da novidade na política.<br />
<br />
O ordeiro não inova, obedece. Aceita as regras do jogo. Aceita se enquadrar.<br />
<br />
E, ao fazê-lo, vira apenas um trampolim para políticos com algum carisma e nenhum caráter.<br />
<br />
<br />
"Explosão democrática", "a sociedade acordou", "verás que um filho teu não foge à luta", são as manchetes do dia seguinte aos protestos que se enquadram na ordem e não terminam, por isso mesmo, em um teatro de horrores de pancadaria e truculência policial - os chamados, não por acaso, "homens da lei". É o coroamento da normalidade, a cordialidade hipócrita de quem não deseja, no fim das contas, mudar qualquer coisa.<br />
<br />
É tão apropriado esse discurso que mesmo membros do próprio governo do Estado parabenizam antecipadamente o Dia do Basta. Paradoxal? Não, sintomático: qualquer um, inclusive os próprios réus da Operação G7, pode ser contra a corrupção, vestir camisetas brancas, bater panelas, e, ainda, reclamar de censura à liberdade de expressão se não for aceito como igual no movimento (e fazer disso um discurso político poderoso, capaz de agregar muita gente).<br />
<br />
Quando se luta pela ordem, quando não se pretende superar nada, quando o novo não se manifesta por meio da subversão, há resultados assim.<br />
<br />
<br />
É isso o que espera movimentos sociais que pretendem combater o crime, o abuso, com a exigência de mais ordem.<br />
<br />
No que isso vai dar, a não ser na eleição de novos políticos?<br />
<br />
Não foi esse o percurso trilhado, precisamente, pelo próprio PT?<br />
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-24247985729616970442013-06-18T18:43:00.002-04:002013-06-18T19:01:21.706-04:00SOBRE O DIA DO BASTA<div>
<span style="font-family: inherit;">Alunos da Universidade Federal do Acre (UFAC) realizam uma série de manifestações em Rio Branco. Aproveitam o calor dos protestos em várias capitais brasileiras, todas violentamente reprimidas pelas forças policiais. Já houve protestos em frente à sede do governo do Estado e no Terminal Urbano. No sábado haverá outro, marcado para as 16h30.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Os eventos miram claramente o governo do Estado, envolvido em uma crise sem precedentes depois que vários membros do primeiro escalão foram presos, acusados de cometer crimes </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 21px;">de formação de cartel, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, fraude em licitação e desvio de verbas públicas.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Anotem isso: depois do evento, políticos de várias matizes vão prestar solidariedade aos meninos para dizer que repudiam a "vergonhosa situação do Acre na mídia nacional", afirmarão que amam o Acre, que se colocam à disposição para diálogos com as lideranças etc. Alguns podem, inclusive, tentar posar ao lado de um ou dois organizadores para os holofotes.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">É a campanha eleitoral antecipada. É, também, o limite claro de protestos contra a corrupção, pela democracia, pelo restabelecimento da ordem e coisas do tipo.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Espero, sinceramente, que eu esteja enganado, contrariando todas as expectativas, e que o evento não trate </span><i style="font-family: inherit; line-height: 21px;">apenas</i><span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"> disso. Se for assim, seu único efeito será abrir um vácuo para aproveitadores, populistas e parasitas de toda espécie surgirem como salvadores da pátria... ou do Estado!</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Isso já ocorreu antes. Em 1998 eu era repórter novato do jornal </span><b style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><i>Página 20</i></b><span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"> quando vi, com esses olhos que a terra há de comer, o atual senador Jorge Viana bradar em comício que "a vida vai melhorar" porque era chegado o momento do desenvolvimento, do crescimento, da geração de emprego, mas também da honestidade e da competência administrativa para o Acre. O governador na época era Orleir Cameli, do PPB, evolução inespontânea do PDS da ditadura. Orleir lutava para se manter no cargo enfrentando uma série de passeatas, protestos e assemelhados que ocupavam a capital.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Entre os manifestantes, além dos vários sindicatos, associações, artistas e outros segmentos sociais, estavam os estudantes. Como sempre, exigindo ordem. Progresso. O fim da corrupção. O bom governo. O bom Estado.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Em outras cidades, onde a ordem e o progresso levados pelos homens de bem já criaram favelas, esgotos, sistemas prisionais bestializadores, indústrias poderosas do tráfico de drogas e um estado de sobressalto permanente de todos contra todos, a população já percebeu que o problema é mais complicado. Mais grave.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">Perceberam que o modelo de modernidade - que não escolhemos, que nos impuseram matando os que resistiam, mas que hoje defendemos com unhas e dentes - não funciona. Separação de poderes, Estado-Nação, partidos políticos, voto, sistema representativo, pleno emprego, toda a parafernália conceitual criada na Europa do século XVIII serviu para exportar os valores europeus para o "resto do mundo" (as colônias, nós) que vivia nas trevas da civilização.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">No Brasil, chamaram isso de ordem e progresso.</span><br />
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 21px;">No Acre, de modernização - e, mais recentemente, de "desenvolvimento sustentável".</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Foi esse o contexto do fenômeno que levou pessoas racionais, em pleno domínio das suas faculdades mentais, a protestar contra um aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus na capital paulista. A pista está no próprio lema dos protestos: "Não é só 20 centavos". Não é mesmo: o caos no transporte público, que não justifica o aumento na tarifa, está conectado com outras formas de caos, todas promovidas pelo desenvolvimento, pelo crescimento. Pela ordem.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Suponho que, como eles, a juventude acreana não queira reforçar, e sim, destruir essa ordem.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Pelo sim, pelo não, vou acompanhar neste sábado, em frente ao Palácio Rio Branco, o Dia do Basta. Ou do Continua. A conferir.</span></div>
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-283152317748106385.post-76577544596126195312013-06-17T20:16:00.001-04:002013-06-17T20:16:14.602-04:00Como os EUA conquistaram o Brasil usando a mídia<b>Por Leandro Severo, na <a href="http://www.cartamaior.com.br/">Carta Maior</a>, reproduzido no <a href="http://www.viomundo.com.br/">Viomundo</a></b><br />
<br />
Em 1957, uma CPI da Câmara dos Deputados, comprovou que “O Estado de
São Paulo”, “O Globo” e “Correio da Manhã” foram remunerados pela
publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização
do petróleo. Em momentos cruciais para o país se inclinaram para o
golpismo e a traição aos interesses nacionais: contra Getúlio, a
Petrobrás, JK, contra Jango, apoiando a ditadura, Collor, FHC e suas
privatizações, atacando Lula.<br />
<br />
<div class="texto">
Em 1941, enquanto milhões de homens e mulheres
derramavam seu sangue pela liberdade nos campos da Europa e da União
Soviética, a elite dos círculos financeiros dos Estados Unidos já
traçava seus planos para o pós-guerra. Como afirmou Nelson Rockefeller,
filho do magnata do petróleo John D. Rockefeller, em memorando que
apresentava sua visão ao presidente Roosevelt: “Independente do
resultado da guerra, com uma vitória alemã ou aliada, os Estados Unidos
devem proteger sua posição internacional através do uso de meios
econômicos que sejam competitivamente eficazes...” (COLBY, p.127, 1998).
Seu objetivo: o domínio do comércio mundial, através da ocupação dos
mercados e da posse das principais fontes de matéria-prima. Anos mais
tarde o ex-secretário de imprensa do Congresso americano, Gerald Colby,
sentenciava sobre Rockefeller: “no esforço para extrair os recursos mais
estratégicos da América Latina com menores custos, ele não poupava
meios” (COLBY, p.181, 1998).<br /><br />Neste mesmo ano, Henry Luce, editor e
proprietário de um complexo de comunicações que tinha entre seus
títulos as revistas Time, Life e Fortune, convocou os norte-americanos a
“aceitar de todo o coração nosso dever e oportunidade, como a nação
mais poderosa do mundo, o pleno impacto de nossa influência para
objetivos que consideremos convenientes e por meios que julguemos
apropriados” (SCHILLER, p.11, 1976). Ele percebeu, com clareza, que a
união do poder econômico com o controle da informação seria a questão
central para a formação da opinião pública, a nova essência do poder
nacional e internacional.<br /><br />Evidentemente para que os planos de
ocupação econômica pelas corporações americanas fossem alcançados havia
uma batalha a ser vencida: Como usurpar a independência de nações que
lutaram por seus direitos? Como justificar uma postura imperialista do
país que realizou a primeira insurreição anticolonial?<br /><br />A resposta
a esta pergunta foi dada com rigor pelo historiador Herbert Schiller:
“Existe um poderoso sistema de comunicações para assegurar nas áreas
penetradas, não uma submissão rancorosa, mas sim uma lealdade de braços
abertos, identificando a presença americana com a liberdade – liberdade
de comércio, liberdade de palavra e liberdade de empresa. Em suma, a
florescente cadeia dominante da economia e das finanças americanas
utiliza os meios de comunicação para sua defesa e entrincheiramento onde
quer que já esteja instalada e para sua expansão até lugares onde
espera tornar-se ativa” (SCHILLER, p.13, 1976).<br /><br />Foi exatamente ao
que seu setor de comunicações se dedicou. Estava com as costas quentes,
já que as agências de publicidade americanas cuidavam das marcas
destinadas a substituir as concorrentes europeias arrasadas pela guerra.
O setor industrial dos EUA havia alcançado um vertiginoso aumento de
450% em seu lucro líquido no período 1940-1945, turbinado pelos
contratos de guerra e subsídios governamentais. Com esta plataforma
invadiram a América Latina e o mundo.<br /><br />Com o suporte do
coordenador de Assuntos Interamericanos (CIIA), Nelson Rockefeller, mais
de mil e duzentos donos de jornais latinos recebiam, de forma
subsidiada, toneladas de papel de imprensa, transportada por navios
americanos. Além disso, milhões de dólares em anúncios publicitários das
maiores corporações eram seletivamente distribuídos. É claro que o
papel e a publicidade não vinham sozinhos, estavam acompanhados de uma
verdadeira enxurrada de matérias, reportagens, entrevistas e releases
preparadas pela divisão de imprensa do Departamento de Estado dos EUA.<br /><br />A
vontade de conquistar as novas “colônias” e ocupar novos territórios
como haviam feito no século anterior, no velho oeste, não tinha limites.
No Brasil, circulava desde 1942, a revista Seleções (do Reader’s
Digest), trazida por Robert Lund, de Nova York. A revista, bem como
outras publicações estrangeiras, pagavam os devidos direitos aduaneiros
por se tratarem de produtos importados, mas solicitou, e foi atendida
pelo procurador da República, Temístocles Cavalcânti, o direito de ser
editada e distribuída no Brasil, com o argumento de ser uma revista sem
implicações políticas e limitada a publicar conteúdos culturais e
científicos. Assim começou a tragédia.<br /><br />Logo chegou o grupo Vision
Inc., também de Nova York, com as revistas Dirigente Industrial,
Dirigente Rural, Dirigente Construtor e muitos outros títulos que vinham
repletos de anúncios das corporações industriais. Um fato bastante
ilustrativo foi o da revista brasileira Cruzeiro Internacional,
concorrente da Life International, que apesar de possuir grande
circulação, nunca foi brindada com anúncios, enquanto a concorrente
americana anunciava produtos que, muitas vezes, nem sequer estavam à
venda no Brasil. <br /><br />Ficava claro que os critérios até então
estabelecidos para o mercado publicitário, como tempo de circulação
efetiva, eficiência de mensagem e comprovação de tiragem, de nada
adiantavam. O que estava em jogo era muito maior.<br /><br />Um papel
importantíssimo na ocupação dos novos mercados foi desempenhado pelas
agências de publicidade americanas. McCann-Erickson e J. Warter Thompson
eram as principais e tinham seu trabalho coordenado diretamente pelo
Departamento de Estado. Para se ter uma ideia a McCann-Erickson , nos
anos 60, possuía 70 escritórios e empregava 4619 pessoas, em 37 países,
já a J. Warter Thompson tinha 1110 funcionários, somente na sede de
Londres. Os Estados Unidos tinham 46 agências atuando no exterior, com
382 filiais. Destas 21 agências em sociedade com britânicos, 20 com
alemães ocidentais e 12 com franceses. No Brasil atuavam 15 agências,
todas elas com instruções absolutamente claras de quem patrocinar.<br /><br />No
início dos anos 50, Henry Luce, do grupo Time-Life, já estava
luxuosamente instalado em sua nova sede de 70 andares na área mais nobre
de Manhattan, negócio imobiliário que fechou com Nelson Rockefeller e
seu amigo Adolf Berle, embaixador americano no Brasil na época do
primeiro golpe contra o presidente Getúlio Vargas. Luce mantinha fortes
relações com os irmãos Cesar e Victor Civita, ítalo-americanos nascidos
em Nova Iorque. Cesar foi para a Argentina em 1941 onde montou a
Editorial Abril, como representante da companhia Walt Disney, já Victor,
em 1950, chega ao Brasil e organiza a Editora Abril. Neste mesmo
período seu filho, Roberto Civita, faz um estágio de um ano e meio na
revista Time, sob a tutela de Luce e logo retorna para ajudar o pai.<br /><br />Poucos
anos depois, o mercado editorial brasileiro está plenamente ocupado por
centenas de publicações que cantavam em prosa e verso o <i>american way of life</i>.
Somente a Abril, financiada amplamente pelas grandes empresas
americanas, edita diversas revistas: Claudia, Quatro Rodas, Capricho,
Intervalo, Manequim, Transporte Moderno, Máquinas e Metais, Química e
Derivados, Contigo, Noiva, Mickey, Pato Donald, Zé Carioca, Almanaque
Tio Patinhas, a Bíblia Mais Bela do Mundo, além de diversos livros
escolares.<br /><br />Em 1957, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da
Câmara dos Deputados, comprova que “O Estado de São Paulo”, “O Globo” e
“Correio da Manhã” foram remunerados pela publicidade estrangeira para
moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo.<br /><br />Em 1962, o
grupo Time-Life encontra seu parceiro ideal para entrar de vez no
principal ramo das comunicações, a Televisão. A recém-fundada TV Globo,
de Roberto Marinho. Era uma estranha sociedade. O capital da Rede Globo
era de 600 milhões de cruzeiros, pouco mais de 200 mil dólares, ao
câmbio da época. O aporte dado “por empréstimo” pela Time-Life era de
seis milhões de dólares e a empresa tinha um capital dez mil vezes
maior.<br /><br />Como denunciou o deputado João Calmon, presidente da Abert
(Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão): “Trata-se de
uma competição irresistível, porque além de receber oito bilhões de
cruzeiros em doze meses, uma média de 700 milhões por mês, a TV Globo
recebe do Grupo Time-Life três filmes de longa metragem por dia – por
dia, repito... Só um ‘package’, um pacote de três filmes diários durante
o ano todo, custa na melhor das hipóteses, dois milhões de dólares”
(HERZ, p.220, 2009).<br /><br />O Brasil e o mundo estão em efervescência. A
tensão é crescente com revoluções vitoriosas na China e em Cuba. A luta
pela independência e soberania das nações cresce em todos continentes e
os EUA colocam em marcha golpes militares por todo o planeta. A Guerra
Fria está em um ponto agudo.<br /><br />É nesse quadro que a Comissão de Assuntos Estrangeiros do Congresso dos EUA, em abril de 1964, no relatório <i>“Winning the Cold War. The O.S. Ideological Offensive”</i> define:<br /><br />“Por
muitos anos os poderes militar e econômico, utilizados separadamente ou
em conjunto, serviram de pilares da diplomacia. Atualmente ainda
desempenham esta função, mas o recente aumento da influência das massas
populares sobre os governos, associado a uma maior consciência por parte
dos líderes no que se refere às aspirações do povo, devido às
revoluções concomitantes do século XX, criou uma nova dimensão para as
operações de política externa. Certos objetivos dessa política podem ser
colimados tratando-se diretamente com o povo dos países estrangeiros,
em vez de tratar com seus governos. Através do uso de modernos
instrumentos e técnicas de comunicação, pode-se hoje em dia atingir
grupos numerosos ou influentes nas populações nacionais – para
informá-los, influenciar-lhes as atitudes e, às vezes, talvez, até mesmo
motivá-los para uma determinada linha de ação. Esses grupos, por sua
vez, são capazes de exercer pressões notáveis e até mesmo decisivas
sobre seus governos” (SCHILLER, p.23, 1976).<br /><br />A ordem estava dada: “informar”, influenciar e motivar. A rede está montada, o financiamento definido.<br /><br />O
jornalista e grande nacionalista, Genival Rabelo, exatamente nesta
hora, denuncia no jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro: “Há, por
trás do grupo (Abril), recursos econômicos de que não dispõem as
editoras nacionais, porém muito mais importante do que isso está o apoio
maciço que a indústria e as agências de publicidade americanas darão ao
próximo lançamento do Sr. Victor Civita, a exemplo do que já fizeram
com as suas 18 publicações em circulação, bem como as revistas do grupo
norte-americano Vision Inc.” (RABELO, p.38, 1966)<br /><br />Mas é
necessário mais. É preciso enfraquecer, calar e quebrar tudo que seja
contrário aos interesses dos monopólios, tudo que possa prejudicar os
interesses das corporações. A General Eletric, General Motors, Ford,
Standard Oil, DuPont, IBM, Dow Chemical, Monsanto, Motorola, Xerox,
Jonhson & Jonhson e seus bancos J. P. Morgan, Citibank, Chase
Manhattan precisam estar seguros para praticar sua concorrência desleal,
para remeter lucros sem controle, para desnacionalizar as riquezas do
país se apossando das reservas minerais.<br /><br />Várias são as
declarações, nesta época, que deixam claro qual o caminho traçado pelos
EUA. Nas palavras de Robert Sarnoff, presidente da RCA – Radio
Corporation of America – “a informação se tornará um artigo de primeira
necessidade equivalente a energia no mundo econômico e haverá de
funcionar como uma forma de moeda no comércio mundial, convertível em
bens e serviços em toda parte” (SCHILLER, p.18, 1976). Já a Comissão
Federal de Comunicações (FCC), em informe conjunto dos Ministérios do
Exterior, Justiça e Defesa, afirmava: “as telecomunicações evoluíram de
suporte essencial de nossas atividades internacionais para ser também um
instrumento de política externa” (SCHILLER, p.24, 1976).<br /><br />É
esclarecedor o pensamento do delegado dos Estados Unidos nas Nações
Unidas, vice-ministro das Relações Exteriores, George W. Ball, em
pronunciamento na Associação Comercial de Nova Iorque: <br /><br />“Somente
nos últimos vinte anos é que a empresa multinacional conseguiu
plenamente seus direitos. Atualmente, os limites entre comércio e
indústria nacionais e estrangeiros já não são muito claros em muitas
empresas. Poucas coisas de maior esperança para o futuro do que a
crescente determinação do empresariado americano de não mais considerar
fronteiras nacionais como demarcação do horizonte de sua atividade
empresarial” (SCHILLER, p.27, 1976).<br /><br />A ação desencadeada pelos
interesses externos já havia produzido a falência de muitos órgãos de
imprensa nacionais e, por outro lado, despertado a consciência de muitos
brasileiros de como os monopólios utilizam seu poder de pressão e de
chantagem. Em 1963, o publicitário e jornalista Marcus Pereira afirmava
em debate na TV Tupi, em São Paulo: “Em última análise, a questão
envolve a velha e romântica tese da liberdade de imprensa, tão velha
como a própria imprensa. Acontece que a imprensa precisa sobreviver, e,
para isso, depende do anunciante. Quando esse anunciante é anônimo,
pequeno e disperso não pode exercer pressão, por razões óbvias. É o caso
das seções de ‘classificados’ dos jornais. Mas poucos jornais têm
‘classificados’ em quantidade expressiva. A maioria dos jornais e a
totalidade das revistas vivem da publicidade comercial e industrial, dos
chamados grandes anunciantes. Acho que posso parar por aqui, porque até
para os menos afoitos já adivinharam a conclusão” (RABELO, p.56, 1966).<br /><br />Não
é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos
estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da
nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do
Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida
nacional se inclinaram para o golpismo e a traição. Já no primeiro golpe
contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a
criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João
Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a
política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas
privatizações, atacando Lula.<br /><br />Hoje, ela novamente tem lado: o das
concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de
privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de
juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos
investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo
tardio.<br /><br />Porque atuam desta forma? Genival Rabelo deu a resposta:
“Um industrial inteligente desta cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro me fez outro dia, esta observação, em forma de desafio: ‘Dou-lhe
um doce, se nos últimos cinco anos você pegar uma edição de O Globo que
não estampe na primeira página uma notícia qualquer da vida americana,
dos feitos americanos, da indústria americana, do desenvolvimento
científico americano, das vitórias e bombardeios americanos. A coisa é
tão ostensiva que, muita vez, sem ter o que publicar sobre os Estados
Unidos na primeira página, estando o espaço reservado para esse fim, o
secretário do jornal abre manchete para a volta às aulas na cidade de
Tampa, Miami, Los Angeles, Chicago ou Nova Iorque. Você não encontra a
volta às aulas em Paris, Nice, Marselha, ou outra cidade qualquer da
França, na primeira pagina de O Globo, porque, de fato, isso não
interessa a ninguém. Logo, não pode deixar de haver dólar por trás de
tudo isso...’ Outro amigo presente, no momento, e sendo homem de
publicidade concluiu, deslumbrado com seu próprio achado: ‘É por isso
que O Globo não aceita anúncio para a primeira página. Ela já está
vendida. É isso. É isso!’. ‘E muito bem vendida, meu caro – arrematou o
industrial – A peso de ouro’ ” (RABELO, p.258, 1966).<br /><br /><i>(*)
Delegado à Conferência Nacional de Comunicação, Secretário Municipal de
Comunicação em São Carlos entre 2007 e 2012 e membro do Partido Pátria
Livre.</i><br /> <br /><b>Referências:</b><br /> <br /><i>COLBY, G; DENNETT, C.
Seja feita a vossa vontade: a conquista da Amazônia, Nelson Rockefeller e
o evangelismo na idade do Petróleo. Tradução: Jamari França. Rio de
Janeiro: Record, 1998.<br /> <br />HERZ, D. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Dom Quixote, 2009. Coleção Poder, Mídia e Direitos Humanos.<br /> <br />RABELO, G. O Capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.<br /> <br />SCHILLER, H. I. O Império norte-americano das comunicações. Tradução: Tereza Lúcia Halliday Petrópolis: Vozes, 1976.</i></div>
<br />
Jozafá Batistahttp://www.blogger.com/profile/00353826034291451928noreply@blogger.com0