O futuro que a imprensa da terra-de-galvez-e-chico-mendes cobiça e copia, na visão do jornalista Luiz Carlos Azenha.
Qualquer semelhança com a realidade presente não será mera coincidência.
Reportagem custa caro. Pouquíssimas empresas jornalísticas estão dispostas, hoje em dia, a bancar por conta própria a viagem internacional de um repórter com tempo para fazer uma boa reportagem.
Reportagem causa problemas. O repórter é, em geral, um jornalista diferenciado. Tem apego aos fatos. Quer independência editorial. E briga para colocar na reportagem o que viu na rua.
A produção jornalística não é um processo simples. É difícil encontrar dois jornalistas que pensem igual. Graças a Deus. Eu ainda acho que o confronto cotidiano entre repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, editores e a turma do aquário é o melhor filtro para a notícia.
Nos últimos anos tivemos quatro fenômenos que transformaram o Jornalismo brasileiro:
1) A implantação do “centralismo democrático”, no estilo leninista, nas redações. As reportagens são resultado de "teses" dos editores. O que será dito é pré-determinado. O Bonner teve uma experiência pessoal nas ruas do Rio de Janeiro. Pode nem ser algo relevante. Mas corre risco de virar notícia no Jornal Nacional. Na Globo, por exemplo, se o assunto são as cotas raciais, não há qualquer chance de um repórter emplacar uma reportagem que não reproduza exatamente o que pensa o Ali Kamel. O texto é enviado para o diretor ler, ele mexe no que achar necessário e ponto final. Mais tarde a reportagem será vista antes de entrar no ar. Se não passar pelo crivo, é modificada ou “cai” (vai para a gaveta). Todos os textos das reportagens de Brasília são pré-aprovados no Rio de Janeiro. Ou pelo menos eram. A consequência disso é um Jornalismo previsível, incapaz de surpreender as pessoas. Um telejornalismo pasteurizado, bitolado e padrão. Quem é criativo deixa de ser. Resolve se acomodar. Desiste de brigar por suas idéias.
2) A vitória do “opinionismo”. O “opinionismo” é quase de graça. Você pega o mesmo profissional e ele faz quatro coisas ao mesmo tempo: fala na rádio CBN, escreve n'O Globo, colabora com o G1 e tem um blog numa página eletrônica da empresa. É o quatro-em-um. Com um cara desses, devidamente afinado com o chefe, fica muito mais fácil controlar a produção de conteúdo. E é infinitamente mais barato. E ele nem precisa sair de casa. Fica pendurado no telefone com as “fontes”, quase todas elas interessadas em plantar notícias no jornal, na rádio e na televisão com dois objetivos: avançar seus interesses políticos, econômicos ou ambos. Vejam o recente exemplo do caso dos pugilistas cubanos. Ou o da “epidemia” de febre amarela. O “opinionismo” atropelou a notícia. Fulano não falou o que se encaixava na minha tese? Pau no fulano. Alguns dos “papas” da mídia brasileira são incapazes de fazer uma reportagem decente sobre um acidente na esquina.
3) A mídia corporativa brasileira se transformou em partido de oposição. Faz oposição ao governo federal desde que Lula assumiu em 2002. Vivi esse processo dentro da TV Globo. Enquanto investiguei o caixa dois do PT em Goiás -- aliás, com sucesso --, tudo bem. Mas quando era para investigar a turma do Serra, gaveta! Crises, só federais. Ainda hoje, não existe crise estadual ou municipal em São Paulo. Não tem crise da merenda, apagão da Alstom ou caos das enchentes. O Congresso, sim, este está em crise, já que aparentemente a crise do Congresso beneficia a oposição. Mas, se descobrirem que o Jarbas Vasconcelos é tão corrupto quanto os que ele acusa, deixa de ser.
4) O surgimento da internet, que tem prós e contras. O pró é que qualquer cidadão tem ferramentas, hoje em dia, para produzir e disseminar conteúdo EM ESCALA MUNDIAL. É algo extraordinário na história da humanidade. Por outro lado, isso fortalece o “opinionismo” generalizado. Ser um bom jornalista, um bom repórter, exige dedicação, técnica e experiência. Parece fácil, mas não é. Nenhum problema com o “opinionismo”, desde que ele respeite os fatos. Mas se os repórteres estão em extinção, quem vai correr atrás dos fatos? Checar informações, apurar e contextualizar exige tempo e dinheiro. É bem mais barato ouvir “especialistas”. Daí nascem as “barrigas” espetaculares como a história da brasileira na Suíça ou o caso dos pugilistas cubanos: da conjunção de maus repórteres com o “opinionismo” dos bajuladores.
Fonte: Vi o Mundo
Qualquer semelhança com a realidade presente não será mera coincidência.
Reportagem custa caro. Pouquíssimas empresas jornalísticas estão dispostas, hoje em dia, a bancar por conta própria a viagem internacional de um repórter com tempo para fazer uma boa reportagem.
Reportagem causa problemas. O repórter é, em geral, um jornalista diferenciado. Tem apego aos fatos. Quer independência editorial. E briga para colocar na reportagem o que viu na rua.
A produção jornalística não é um processo simples. É difícil encontrar dois jornalistas que pensem igual. Graças a Deus. Eu ainda acho que o confronto cotidiano entre repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, editores e a turma do aquário é o melhor filtro para a notícia.
Nos últimos anos tivemos quatro fenômenos que transformaram o Jornalismo brasileiro:
1) A implantação do “centralismo democrático”, no estilo leninista, nas redações. As reportagens são resultado de "teses" dos editores. O que será dito é pré-determinado. O Bonner teve uma experiência pessoal nas ruas do Rio de Janeiro. Pode nem ser algo relevante. Mas corre risco de virar notícia no Jornal Nacional. Na Globo, por exemplo, se o assunto são as cotas raciais, não há qualquer chance de um repórter emplacar uma reportagem que não reproduza exatamente o que pensa o Ali Kamel. O texto é enviado para o diretor ler, ele mexe no que achar necessário e ponto final. Mais tarde a reportagem será vista antes de entrar no ar. Se não passar pelo crivo, é modificada ou “cai” (vai para a gaveta). Todos os textos das reportagens de Brasília são pré-aprovados no Rio de Janeiro. Ou pelo menos eram. A consequência disso é um Jornalismo previsível, incapaz de surpreender as pessoas. Um telejornalismo pasteurizado, bitolado e padrão. Quem é criativo deixa de ser. Resolve se acomodar. Desiste de brigar por suas idéias.
2) A vitória do “opinionismo”. O “opinionismo” é quase de graça. Você pega o mesmo profissional e ele faz quatro coisas ao mesmo tempo: fala na rádio CBN, escreve n'O Globo, colabora com o G1 e tem um blog numa página eletrônica da empresa. É o quatro-em-um. Com um cara desses, devidamente afinado com o chefe, fica muito mais fácil controlar a produção de conteúdo. E é infinitamente mais barato. E ele nem precisa sair de casa. Fica pendurado no telefone com as “fontes”, quase todas elas interessadas em plantar notícias no jornal, na rádio e na televisão com dois objetivos: avançar seus interesses políticos, econômicos ou ambos. Vejam o recente exemplo do caso dos pugilistas cubanos. Ou o da “epidemia” de febre amarela. O “opinionismo” atropelou a notícia. Fulano não falou o que se encaixava na minha tese? Pau no fulano. Alguns dos “papas” da mídia brasileira são incapazes de fazer uma reportagem decente sobre um acidente na esquina.
3) A mídia corporativa brasileira se transformou em partido de oposição. Faz oposição ao governo federal desde que Lula assumiu em 2002. Vivi esse processo dentro da TV Globo. Enquanto investiguei o caixa dois do PT em Goiás -- aliás, com sucesso --, tudo bem. Mas quando era para investigar a turma do Serra, gaveta! Crises, só federais. Ainda hoje, não existe crise estadual ou municipal em São Paulo. Não tem crise da merenda, apagão da Alstom ou caos das enchentes. O Congresso, sim, este está em crise, já que aparentemente a crise do Congresso beneficia a oposição. Mas, se descobrirem que o Jarbas Vasconcelos é tão corrupto quanto os que ele acusa, deixa de ser.
4) O surgimento da internet, que tem prós e contras. O pró é que qualquer cidadão tem ferramentas, hoje em dia, para produzir e disseminar conteúdo EM ESCALA MUNDIAL. É algo extraordinário na história da humanidade. Por outro lado, isso fortalece o “opinionismo” generalizado. Ser um bom jornalista, um bom repórter, exige dedicação, técnica e experiência. Parece fácil, mas não é. Nenhum problema com o “opinionismo”, desde que ele respeite os fatos. Mas se os repórteres estão em extinção, quem vai correr atrás dos fatos? Checar informações, apurar e contextualizar exige tempo e dinheiro. É bem mais barato ouvir “especialistas”. Daí nascem as “barrigas” espetaculares como a história da brasileira na Suíça ou o caso dos pugilistas cubanos: da conjunção de maus repórteres com o “opinionismo” dos bajuladores.
Fonte: Vi o Mundo
Um comentário:
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