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A NOVA IMPRENSA ACREANA

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre (Sinjac), Marcos Vicentti, anunciou hoje em entrevista ao programa Boa Tarde Rio Branco a realização de um evento público para discutir um "novo jornalismo"; algo capaz, segundo ele, de adequar-se "ao novo momento que o Acre vive atualmente".

Taí uma coisa que não pretendo perder (como diz a Beth Passos, "nem sob tortura!"). Entre outras questões, quero saber o que é esse "novo momento" e quais as suas implicações REAIS para a vida das pessoas: sem desconsiderar a beleza dos nossos novos, verdes e belos monumentos e praças, a miséria, o desemprego e a violência não só se mantém nos mesmos espaços da cidade como também dispararam em intensidade!

Que novo momento é esse que não tem implicações práticas na vida da maioria das pessoas?

Obviamente isso tem a ver com o tipo do jornalismo que se pratica hoje, não só no Acre como no resto do país: diferentemente da velha concepção positivista, a História não é escrita por "grandes homens" e suas "grandes realizações". A História é escrita por processos sociais, sendo tais processos ao mesmo tempo manifestos e ocultados ao longo da sua realização.

Não é por acaso, por exemplo, que o PROCESSO do desgaste da política tradicional acreana tenha produzido as novas lideranças políticas que governam no Acre atualmente, assim como não é coincidência que essas lideranças lutem para ocultar o seu próprio desgaste ao colocar-se, na própria imprensa, como a quintessência final, a realização da História da política acreana - e nesse processo costumam inclusive negar fatos históricos concretos, como rebeliões de presidiários, corrupção, violência urbana, negociatas com os barões da nossa mídia etc.

Curiosamente o mesmo processo é seguido por muitos críticos (ou supostos críticos) desta trajetória. Altino Machado e Toinho Alves, só para citar dois intelectuais orgânicos dessa nova fase histórica, fazem crítica ao poder no exato tom que os atuais donos desse poder usam para criticar os donos - antigos - do mesmo poder.

Altino e Toinho - e há outros - não se colocam como atores de um processo social, não reconhecem que a crise do jornalismo sintomatiza uma crise de um sistema inteiro.

A crise da nossa imprensa é mero sintoma da crise de comunicação social.

A crise não é de informação, de notícia. A crise é de expressão, da - falta de - debate, da percepção muito clara da população de que este tipo de jornalismo atual só transmite um único tipo de visão da sociedade: a visão dos proprietários, dos salvadores de coisa alguma, dos coronéis de barranco high-tech ávidos pelo tilintar do erário público em seus bolsos sem fundos...

A origem da crise é até meio óbvia: não pode haver comunicação social se os meios de produzi-la são restritos a meia dúzia de comerciantes da informação.

A solução para as crises, a da imprensa e a da comunicação, não é outra senão a democratização dos meios de comunicação. É o controle social das empresas que produzem a ação comunicacional, e com elas o próprio ato de comunicar.

Absurdo? Absurdo é alguém desconhecer hoje em dia a origem suja das pomposas empresas de comunicação que atuam no Acre hoje, todas erguidas sobre camadas de dinheiro público, e portanto social.

Portanto, a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e ao povo o que é do povo!


A foto, que mostra o meu irmão Marcos Vicentti, é do jornal Página 20.

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