Pular para o conteúdo principal

O FASCISMO ACREANO

Toda sociedade pequena, especialmente se urbana, especialmente se capitalista, tende ao fascismo.

Querem ver?

Quais são os vínculos que unem as pessoas nessas regiões? A autoridade (paterna, política, empresarial etc). Qual a fonte dos seus maiores problemas? O isolamento, ou afastamento das comunidades maiores. Qual a principal característica partilhada por todas as sociedades nessas condições? O ufanismo, ou o orgulho pátrio por alguma característica local supostamente superior a de todas as demais sociedades, em todos os tempos (se quiserem chamar de "nacionalismo", tá valendo).

Agora vamos lá: quais foram os vínculos, as motivações, as condições gerais de ascensão do nazifascismo na Europa (exportado posteriormente para o Brasil na forma de "nacionalismo verde-amarelo" ou "nacional-desenvolvimentismo")? Sabe-se que o Velho Mundo havia sido arrasado pela 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Portanto, passava por um recomeço em condições geopolíticas radicalmente novas e extremamente difíceis.

Foi neste solo, extremamente fértil do ponto de vista da necessidade material de se acreditar em algo maior e que unisse a todos, que germinou a ideologia da superioridade racial. Mas a superioridade racial é mera faceta de um processo maior: junto a ela, como contraponto a situação de penúria, aquelas sociedades precisaram crer que fatores naturais e históricos as colocavam no centro do universo - a mesma perspectiva em que se colocavam os impérios da alta e baixa Idade Média, e, antes deles, as monarquias teocráticas e escravocratas da remota Antiguidade.

Todos esses fenômenos políticos têm a mesma origem: um povo miserável, uma destruição recente, a necessidade de um discurso "positivo" e a reorganização com base na união nacional, isto é, no resgate das antigas características "guerreiras, vitoriosas, conquistadoras" legadas pelos ancestrais.

O que isso tem a ver conosco, e especialmente, o que isso tem a ver com o Acre e a sua história de bravos conquistadores? Nada, além dos seus seguidos crashs econômicos, suas comunidades isoladas e pobres, suas igrejas evangélicas, sua imensa dificuldade em aceitar diferenças e esse extraordinário ufanismo recém-conquistado...

Tudo isso coloca uma questão importante para a política petista iniciada desde 1999 precisamente sob este verniz. Mas a questão é: o PT implantou tudo isso ou apenas o conquistou para si? Será que o fascismo não é a nossa marca, a verdadeira história acreana (vide o funcionamento dos esquemas de autoridade nas cidades menores)? Será que o PT, estrategicamente, não estaria instrumentalizando o potencial fascista já existente entre o povo para produzir, pela primeira vez na história desse Estado, uma democracia burguesa (representativa, limitada, incompleta, mas politicamente um passo adiante do fascismo)?

Me parece que a resposta é "sim". O que resta saber, agora, é até que ponto uma força influenciará a outra...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A XENOFOBIA NOSSA DE CADA DIA

Deixem-me entender. Em 11 de setembro passado houve uma tentativa de golpe civil na Bolívia, perpetrada pelos dirigentes de vários departamentos - equivalentes aos "estados" no Brasil - opositores ao presidente Evo Morales. Em Pando, departamento fronteiriço com o Brasil pelo Acre, cerca de 18 pessoas foram assassinadas e o número de desaparecidos ainda hoje é incerto. Por isso ainda em setembro a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) enviou ao local uma comissão de investigação composta por advogados, antropólogos, peritos criminais, jornalistas e outros profissionais de várias áreas e de vários países. A comissão visitou Cobija, Brasiléia e Epitaciolândia, conversou com os refugiados, com as famílias das vítimas e sobreviventes, visitou os locais de confronto, coletou provas materiais e depoimentos. Conclusão: houve mesmo uma tentativa de golpe (clique aqui para baixar o relatório final da Unasul). Estupros, torturas, assassinatos a sangue frio, racismo, houve de tudo um...

OS DEMÔNIOS DESCEM DO NORTE

Os movimentos autônomos de cunho religioso, notadamente os de cunho pentecostal e neopentecostal surgidos nos EUA desde meados do século XIX até a atualidade, são subprodutos de um capitalismo que necessitava de uma base ideológica para se sustentar em seus desatinos de exploração e criação de subsistemas para alimentar os mecanismos de dominação ideológica e manutenção de poderes da matriz do grande capital - os Estados Unidos. Na década de 70 praticamente todos os paises da América Latina estavam sob o domínio de sanguinárias ditaduras militares, cuja ideologia de cunho fascista era a resposta política à ameaça da Revolução Cubana que pretendia se expandir para outros países do subcontinente. Era o tempo da Teologia da Libertação, que, com seu viés ideológico de matriz marxista, contribuiu de forma efetiva para a organização dos trabalhadores e dos camponeses em sindicatos e movimentos agrários que restaram depois na criação do PT e do Movimento dos Sem-Terra (MST). A ação dess...

AINDA SOBRE CRISTIANISMO E PAZ SOCIAL

A propósito da postagem " Por que o Cristianismo não produz paz social " recebi o seguinte comentário do leitor Marcelino Freixo: Me permita fazer uma correção. Pelo Evangelho, a salvação do homem é um ato de graça, e não o resultado do amor ao próximo ou mesmo a Deus. O amor a Deus e ao próximo é o resultado de ter a certeza dessa salvação, conforme está escrito em Efésios 2:8-9: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie". Acho que isso invalida o argumento central do seu texto, que o cristianismo ensina que o amor é condição para se ter algo.