quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Entender o PT

Se furar fila, não pedir nota fiscal, avançar a faixa de pedestres, são atos cotidianos tão corruptos quanto as falcatruas do Congresso Nacional, por que a corrupção política mobiliza tanta gente?

Antes de tudo, que fique claro: não acho que o PT seja inocente no caso mensalão. Pra mim houve caixa dois de campanha, ou seja, pagamento de serviços eleitorais "por fora", sem declaração à Justiça Eleitoral. Serviços que foram pagos com grana de um empréstimo feito pelo partido. Mas a questão nem é essa. A questão é: se a corrupção é um ato cotidiano na vida do brasileiro, qual é a razão desta celeuma com o PT?

Em maio, pesquisadores da Faculdade Frassinette do Recife (Fafire) divulgaram um estudo realizado com 700 pessoas, no qual aponta-se que a corrupção só é inaceitável quando é política. Outro estudo, feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o suporte do Vox Populi, e divulgado nesta semana, concluiu - entre outras coisas - que 23% dos pesquisados não consideram corrupção dar dinheiro a um guarda de trânsito para evitar uma multa. Este último traz uma lista de práticas corruptas cotidianas: não dar nota fiscal, não declarar imposto de renda, dar ou aceitar troco errado, falsificar assinaturas e por aí vai.

Contraditório, não?

Meu palpite: o PT é parte dessa contradição, que está na alma do brasileiro e que deriva-se, por sua vez, de um desenvolvimento capitalista fortemente influenciado pelo autoritarismo moral. O autoritarismo deixou em segundo plano o empreendedorismo burguês clássico (se é que isso existe), e, como resultado, forjou-se um ambiente no qual os indivíduos não podem refletir sobre as consequencias dos seus atos, só que devem seguir, sob pena de punição, o que outras pessoas (chefes, líderes, intelectuais etc) colocam como normas.

Isso explica algumas coisas.

Primeiro, e mais óbvio, que é impossível ser ético assim.

Segundo, explica por que intelectuais anti-corrupção são tão passionais "na defesa do interesse público"...

Terceiro, mostra por que somos rigorosos com os políticos: eles é que nos dizem como - e por que - ser éticos.

É esse critério, dúbio e estranho - mas revelador sobre todos nós - que está em andamento no caso do mensalão.

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