"O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho." Theodor W. Adorno
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
DESCONFIÔMETRO: ATIVAR
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Alguns voluntarismos da blogosfera têm o poder de ligar meu desconfiômetro. A recente celeuma sobre a quarta ponte em Rio Branco é um deles.
Graças ao IBGE sabe-se que a capital acreana tem 8.836 quilômetros quadrados, ou, como dizem seus moradores, 94 quilômetros "de frente" por outros 94 "de fundo". É uma gigante. Fortaleza (CE) tem 315 Km², Curitiba (PR) apenas 435 Km², Belém (PA) chega a 1.059 Km² e a cobiçada São Paulo (SP) resume-se a 1.523 Km².
Dentro disso tudo estão espalhados 335, quase 336 mil habitantes, com uma frota de veículos (incluindo motocicletas, ônibus, vans etc) que em 2009 beirava a casa dos 90 mil. Era como se 1 em cada 4 rio-branquenses tivesse um veículo.
Mas não tem, da mesma forma que o nosso perímetro urbano não ocupa 8.836 Km². No Google Maps (acima) um trajeto entre os bairros Vila Acre e Custódio Freire - respectivamente, no extremo sul e norte da da zona urbana - chega a 21 quilômetros no máximo.
Nesse curto intervalo circulam os quase 90 mil veículos. Diariamente. Enlouquecedoramente. O gênio que projetou Rio Branco, dando-lhe (de novo) 8.836 Km², foi acompanhado por outros que deram-lhe duas pontes, ambas de mão única e separadas por aproximadamente 300 metros. Ninguém ousou imaginar que a cidade, por ter crescido à beira de um rio (como todas as cidades amazônicas), necessitaria em breve de alternativas para desafogar o tráfego sob pena de transformar a região próxima às pontes em um inferno nos horários de pico!
Pois essa inanição mental me parece epidêmica: o que mais se encontra hoje, nos blogs locais pelo menos, são análises espetaculares sobre o quanto não precisamos de pontes e de rotas alternativas para o trânsito caótico do centro da cidade!
Não é incrível? Mais incrível ainda é que esse discurso encontre adeptos! O que querem, que o direito de ir e vir se torne impraticável?
Não discordo que obras públicas devam ser fiscalizadas rigorosamente, com embargos quando necessário. Nem sou contra, longe disso, de que denúncias sobre a malversação de dinheiro público venham a lume.
A questão central é que Rio Branco sempre precisou de um plano abrangente de modernização. Nossa cidade sempre foi inviável do ponto de vista da engenharia de tráfego exatamente porque cresceu demais à beira do rio Acre, para todos os lados, desordenadamente e com um único ponto de ligação entre as duas margens. Com a expansão da cidade, o aumento populacional e da frota, a criação de novas pontes - em locais afastados do centro - se faz obviamente necessária.
O futuro dirá, mas na minha opinião ainda há poucas pontes. Em breve uma quinta será necessária entre os bairros Quinze e Aeroporto Velho, integrando a rede de ruas ampliadas nos dois lados da cidade.
Será necessário também resolver o problema dos engarrafamentos no centro da cidade, o que pode ocorrer se o governo topar transformar as nossas "praças" em estacionamentos (há praças demais: só da Ponte JK até o prédio da Prefeitura são seis!). Pode-se ainda transformar o centro em um enorme calçadão com estacionamentos amplos - nas praças - e remover todos os prédios públicos para regiões mais afastadas, estrategicamente planejadas.
Enfim, é preciso mexer com Rio Branco. O que não podemos é continuar é nesse aperto absurdo porque meia dúzia de intelectuais ouvem vozes e vêem espíritos. Não quando temos quase 9 mil Km² de margem de manobra!
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