"O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho." Theodor W. Adorno
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
O BOMBARDEIO DE GAZA
Segurei-o firmemente junto ao peito e tentei dar-lhe alguma segurança e conforto. Minha filha de 12 anos estava em pânico e começou a rir histericamente, o que não é normal. Segurei a sua mão e acalmei-a dizendo-lhe que estava segura. Minha esposa estava em pânico. Corria pelo apartamento à procura de algum lugar para se esconder.
Não muito longe da nossa casa está a sede da polícia e havia um bombardeamento maciço. O chefe de polícia foi morto. Duas ruas mais adiante outra bomba explodiu e mais pessoas foram mortas. O gabinete do presidente está a cerca de um quilômetro da nossa casa e também foi bombardeado.
Descemos para o porão e tentamos nos esconder dos estilhaços. A filha de um dos nossos parentes, que vive em nosso edifício, finalmente voltou da escola. Antes a procuramos, mas não conseguimos encontrá-la. Todas as redes telefônicas estavam congestionadas. Ela voltou e estava em um estado de choque muito sério. Estava pálida e tremia ao descrever os corpos mortos nas ruas. No seu caminho para casa ela passara por gente do Hamas com uniforme. Estavam mortos.
Fiquei muito apreensivo ao acordar nesta manhã. Tenho algum pão, queijo e um copo de chá. Como todos em Gaza, senti que alguma coisa estava em andamento, algo muito sério. Quando Israel permitiu a entrega de alimentos e combustíveis [quando terminou o bloqueio a Gaza, ontem] eu disse a mim mesmo e a meus amigos que Israel estava planejando um ataque maciço. Eles não querem ser culpabilizados por matar o povo de fome.
Eu estava sentado na sala de visitas quando a minha família tentava imaginar o que fazer para o almoço de hoje, nossa refeição principal. O que cozinhar e como cozinhar, se tínhamos o suficiente para comer. Não tinha arroz, de modo que sugeri uma sopa de lentilhas e minha esposa disse: "Não, não há lentilhas no mercado". Perguntei: "Que outra coisa podemos fazer?". Ela disse "Comprei algumas latas de comida". Estávamos a discutir isso quando subitamente tudo explodiu. Uma grande explosão.
Nesse momento sinto-me ansioso ao pensar sobre o que virá pela frente. Estou preocupado sobre quantas pessoas ainda vão morrer.
O relato acima é de Eyad Al Serraj, psicólogo clínico na cidade de Gaza. O texto foi originalmente publicado na excelente revista norte-americana Counter Punch, em inglês. A ilustração é da agência Resistir, onde o leitor encontrará mais textos sobre esse novo ataque israelense ao povo palestino.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
DO GADO DA RESERVA EXTRATIVISTA AO GADO DO RODEIO
Por meio de seus heróis, o Estado quer convencer, educar, disciplinar, ordenar e, por outro lado, tende a propagar uma ideologia que pode aborrecer ou irritar. A cultura do Estado é forçada, quer adaptar o público à sua cultura. Se tais heróis aborrecem, se eles irritam, é porque não foram germinados no solo fértil da cultura popular.
Zumbi dos Palmares, degolado em 20 de novembro de 1695. O negro jamais colocou seu herói em uma procissão cristã e nunca precisou do Estado ao longo da história para patrocinar sua lembrança. O passado do negro permanece intensamente vivo porque sua cultura, encarnada em seu corpo, dança, musicaliza, canta, veste-se e exporta moda, ou seja, sua cultura cicatrizou-se no modo ser, de existir, de falar.
Continue lendo no blog Língua, de Aldo Nascimento.
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
DO AVIAMENTO ÀS COOPERATIVAS DE TRABALHADORES
O imperialismo na Amazônia revela como - através da sua política de ecologismo - imprime o caráter semifeudal nas relações de produção e de trabalho
Ao final do século XIX, a economia da Amazônia atendia aos interesses do capital monopolista internacional como fornecedora da borracha, matéria-prima de fundamental importância para o desenvolvimento do capitalismo em sua fase monopolista. Essa economia foi caracterizada como sistema de aviamento, que consistia na manutenção da dependência do seringueiro ao patrão seringalista através do endividamento. Com a falência dos seringais e a expansão da frente agropecuária na Amazônia, nos anos 70 do século XX ocorre o acirramento da luta pela terra nesta região.
No Acre, a luta pela terra é descaracterizada quando o imperialismo alicia antigos ativistas para os movimentos de "defesa do meio ambiente”. Aqui, o exemplo mais famoso é o de Chico Mendes, transformado mais tarde em agente ambientalista.
No final dos anos 80 são criadas na Amazônia as Reservas Extrativistas (Resexs), que passam a cumprir vários papéis: garantir a preservação de recursos naturais para uso futuro dos monopólios; produzir, no lugar de alimentos para as populações camponesas, produtos exóticos para os mercados dos países imperialistas; criar no campo uma população não identificada com os camponeses de outras regiões, mas atendendo interesses mediatos dos imperialistas. Em meados dos 80, instituições vinculadas ao imperialismo, como Ongs ianques e inglesas, atuavam com um conjunto de indivíduos da pequena burguesia, alguns vinculados ao PCdoB, outros ao PT/Igreja Católica, desenvolvendo cooperativas de produção no atendimento das demandas dos seringueiros nas áreas de saúde e instrução pública.
As cooperativas visavam enfrentar os atravessadores (marreteiros) na comercialização da borracha, momento em que a maioria dos seringalistas (proprietários dos seringais), falidos, já transferiam suas propriedade para grandes pecuaristas. Em 1988 é fundada a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (Caex), e em 1993 a Cooperativa Agroextrativista de Brasiléa (Capeb), ambas com usinas de beneficiamento de castanha, agregando-lhes os nomes de duas personalidades assassinadas, Chico Mendes e Wilson Pinheiro, respectivamente.
A Caex recebeu apoio e financiamento de Ongs e Fundações de governos imperialistas como a Cultural Survival Enterprise; Fundação Ford; Fundação Inter-Americana (organismo do Estado ianque); World Wildlife Fund (WWF); Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); instituições dos EUA; a Ong Novib, da Holanda; do governo da Áustria e também de instituições brasileiras como o BNDES e Ibama.
O montante de recursos recebidos pela Caex, no período entre dezembro de 1988 e julho de 1989, alcançou a cifra de US$ 1,8 milhões.
Continua no jornal A Nova Democracia.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
ESTES NATAIS SINISTROS
Já ninguém se recorda de Deus no Natal. Há tanto estrondo de corneta e fogos de artifício, tantas guirlandas de focos de cores, tantos perus inocentes degolados e tantas angústias de dinheiro que ultrapassam nossos recursos reais que podemos nos perguntar se a alguém resta um instante para perceber que semelhante alvoroço é para celebrar o aniversário de uma criança que nasceu há 2000 anos numa estrebaria de miséria, a pouca distância de onde havia nascido, uns mil anos antes, o rei David.
Novecentos e cinquenta e quatro milhões de cristãos crêem que essa criança era Deus encarnado, mas muitos celebram-no se na realidade não o acreditassem. Celembram-no além disso muitos milhões que nunca o acreditaram, mas agrada-lhes a pândega, e muitos outros estariam dispostos a virar o mundo do avesso para que ninguém continuasse a acreditar.
Seria interessante averiguar quantos deles crêem também, no fundo da sua alma, que o Natal de agora é uma festa abominável, e não se atrevem a dizê-lo por um preconceito que já não é religioso e sim social.
Leia mais na Agência Resistir.info
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
ODE AOS SERINGUEIROS!
O oficial parte de uma compreensão arrevesada do processo de ocupação das chamadas "partes baixas" de Rio Branco, invadidas anualmente, em maior ou menor escala, pelas águas do rio Acre. Essa compreensão é também a justificativa psicológica para manchetes do tipo "Rio sobe" ou "Rio desce", que o leitor verá em toda a imprensa local até meados de abril de 2009 e no mesmo período dos anos seguintes.
A ocupação dessas áreas não foi espontânea. Ela remonta à política de "preenchimento do vazio demográfico do Oeste", implementada pelos generais durante a Ditadura Militar e que gerou conflitos nos seringais acreanos em quantidade suficiente para iniciar o conhecido fenômeno do êxodo rural. É bem verdade que a migração interna já ocorria desde o fim do segundo ciclo da borracha, após a 2ª Guerra Mundial, mas a política de estímulo à pecuária pelo governo - federal e estadual - só reforçou e acelerou o processo.
É por isso que nesses dois períodos as migrações consistiam basicamente de seringueiros expulsos de suas terras. Muitos perderam tudo, tiveram as casas incendiadas e outros, com a falência do extrativismo e sob as ameaças dos pecuaristas, venderam as colocações a preços de banana. Ninguém se mudava "em busca de melhores condições de sobrevivência", como costuma dizer a propaganda oficial, mas simplesmente em busca de sobrevivência.
Essa é a origem real de bairros como Taquari, Santa Terezinha, Triângulo, Santa Inês, Mauri Sérgio, Areal e outros. Nada a ver com "a navegabilidade" do rio Acre.
Por que os bairros nasceram em regiões alagadiças? Porque terras desvalorizadas são mais baratas e grande parte era ainda desocupada. O seringueiro que migrava para a cidade ocupava o terreno e construía, devagar, a sua casa de paxiúba e palha (as casas de madeira vieram com a "democracia", isto é, com as "doações" dos candidatos nas campanhas eleitorais em troca de votos).
A ocupação das regiões baixas de Rio Branco foi uma necessidade, não uma ação espontânea de alguém que vende uma casa em outro lugar e escolhe, por irresponsabilidade ou equívoco, um terreno alagadiço para habitar. Pensar assim é não só evidenciar total ignorância sobre a nossa história recente como manifestar um asqueroso preconceito de classe social.
Se esse tipo de preconceito é intolerável no senso comum, inclusive na auto-imagem dos descendentes dos seringueiros expulsos para as "periferias", o que dizer quando o localizamos em alguém investido do poder público?
Poderia esse indivíduo desenvolver alguma política pública democrática (uma vez que é justamente nas periferias que vive hoje a maior parte da população rio-branquense)?
Poderiam as autoridades pensar em "combate ao crime" e ao mesmo tempo ignorar os crimes que os seus antecessores cometeram?
E nossa imprensa, por que não vai além do rio-sobe, rio-desce?
A foto é do site da Prefeitura de Rio Branco e mostra a pinguela do bairro Ayrton Sena, um dos primeiros atingidos nas enchentes do rio Acre. Clique na imagem para ampliar.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
CHICO MENDES PRA CÁ, CHICO MENDES PRA LÁ...
GEAB: PERCEPÇÃO REAL DA CRISE VIRÁ EM MARÇO
O 30º Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB), nome dos prognósticos elaborados pela instituição, estabelece que a devida relevância dessa crise será percebida publicamente em março de 2009, apesar de todos os alertas (veja aqui) aos líderes do G20 ao longo desse ano.
O texto prevê crescimento do desemprego no mundo inteiro e o risco de um colapso nos sistemas de previdência social.
O site Resistir.info traduziu e publicou o boletim em português. Para acessá-lo clique aqui.
O infográfico é do Leap/Europe 2020.
sábado, 20 de dezembro de 2008
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
CÚPULA DA UNASUL APROVA RELATÓRIO SOBRE MASSACRE EM PANDO
O esforço dos governos para mostrar independência foi eclipsado pela imprensa brasileira, que acostumada a reproduzir textos encomendados pelas assessorias de "celebridades" do BBB preocupou-se mais com os trajes de banho de Michelle Bachelet, do Chile, ou de Fernando Lugo, do Paraguai - e olha que além da Unasul reuniram-se representantes dos grupos América Latina e Caribe, Mercosul e Grupo do Rio, com diferentes pautas e conclusões.
A foto é da ABI e mostra dois sobreviventes do massacre de 11 de setembro.
- Para ouvir relatos de outros sobreviventes, clique aqui.
- Para ver um vídeo do massacre, clique aqui.
- Para baixar o relatório da Unasul, clique aqui.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
A CRISE
Não sou, nunca fui, de calar diante da injustiça. Nem de esconder informação, mesmo quando a veiculação era proibida por censura interna - dos donos dos jornais em que trabalhei - ou externa - do governo ou dos "amigos" dos patrões. A maioria das matérias que escrevi tem mensagens internas, algumas subliminares, outras irônicas; são fórmulas que fui criando ao longo dos anos para driblar a cadeia de podres poderes que subjugam a imprensa acreana, tornando-a mera office-girl dos chiquérrimos papangus da nossa elite seringalista.
Seguirei o meu padrão para escrever sobre a atual crise financista-econômica internacional, que não só já chegou ao Brasil como afetou até a Cooperativa Agroextrativista de Castanhas de Xapuri (Caex), segundo matéria recente da TV estatal Aldeia.
Antes quero dizer aos que andam me chamando de radical, xiita e sei lá o que mais: sou radical, sim; o que não sou é dogmático. O radical, como justamente o oposto do dogmático, vê o mundo como ele é e busca respostas, soluções. O dogmatismo é a atitude de usar um par de viseiras para esconder a realidade, ou esconder-se dela.
Mas é compreensível que pensem assim. Todo o receituário (obituário) do modo de viver contemporâneo é repleto de dogmas: o dogma do lead, o dogma da imparcialidade jornalística, o dogma do equilíbrio das leis, o dogma do estado de direito, o dogma da independência dos Poderes etc. São as viseiras do dogmatismo nosso de cada dia que nos mantêm cegos para a realidade.
Nessa realidade pessoas são assassinadas, estupradas, violadas, marginalizadas, invadidas, despejadas, ofendidas, desrespeitadas etc. Esses crimes acontecem todos os dias, em todos os lugares, inclusive sob as nossas ventas.
Exemplifiquemos com a crise financeira internacional. Desde que ela eclodiu em meados de 2007 com os chamados créditos suprime, nos EUA, governos e instituições de vários países, inclusive os brasileiros, apressaram-se a dizer que tratava-se de um problema localizado e que o alcance do mesmo seria tão curto quanto a sua duração.
Eram viseiras. No mundo real a crise alastrou-se, saindo dos escritórios milionários de especulação financeira profissional para a economia real, fechando empresas, criando uma onda de desemprego em centenas de países e forçando os governos a usar bilhões de dólares - dinheiro público - para saldar dívidas especulativas.
A crise é radical.
O que nos resta, senão uma resposta radical?
Explico. De acordo com Gerald Celente, diretor do nova-iorquino Trends Research Institute e um dos mais respeitados analistas econômicos dos EUA, o que nos aguarda é uma depressão global tão poderosa que tornará os EUA uma nação subdesenvolvida. A depressão global, diz ele, será ainda pior que a de 1929 e criará uma imensa onda de desemprego com ocupação de imóveis e conflitos nas ruas por... comida!
Clique aqui para saber mais. Se souber inglês clique também aqui (contém vídeos e mais entrevistas afins).
As declarações de Celente batem com as do Laboratoire Européen d'Anticipation Politique (LEAP), instituição de pesquisa econômica com sede na França e formada por economistas e outros cientistas de países da chamada "zona euro". Clique aqui para ver o último boletim e aqui para navegar, em espanhol, no site da instituição. No cenário do LEAP a depressão ficará tão grave que esses e outros cientistas, prevendo o colapso da economia global ainda em 2009, enviaram uma carta aberta aos presidentes do G-20 que reuniram-se nos Estados Unidos no início de novembro. Veja o conteúdo da missiva aqui.
Há duas alternativas, caro leitor: enfiar dogmaticamente a cara na areia, como fazem os avestruzes, ou partir para uma solução que garanta a distribuição da renda e a democratização das riquezas do nosso país.
Eu já fiz a minha escolha.
Quem preferir uma análise mais acadêmica e abrangente sobre o que raios está acontecendo e principalmente sobre "por-que-ninguém-fez-nada-antes" deve clicar aqui.
Boa leitura e até breve!
A foto acima é de uma família desempregada vivendo em condições miseráveis em Elm Grove, Califórnia, Estados Unidos, na depressão de 1929. Fonte: Wikipedia.
sábado, 13 de dezembro de 2008
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
CIDADES MAIS POPULOSAS REGISTRAM MAIOR NÚMERO DE FAVELAS
Um terço dos municípios do país declararam ter favelas em seu território. Loteamentos irregulares são mais comuns nas regiões Sul e Sudeste.
A Pesquisa de Informações Municipais 2008, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (12), revela que a incidência de favelas é maior em municípios mais populosos. Um terço das 5.564 cidades do país declararam a presença de favelas ou assemelhados em seu território. As Regiões Norte e Sul (com 41% dos municípios) apresentam as proporções mais elevadas, seguidas pelo Nordeste (32,7%), Sudeste (29,7%) e Centro-Oeste (19,5%).
Com relação à população, 27,7% dos municípios com até 50 mil habitantes declararam a existência de favelas em seu território, e esse índice passa a 70,8% dos municípios que têm entre 50 mil e 100 mil habitantes. Já entre os municípios de 100 mil a 500 mil habitantes, 84,7% têm favelas. Das 37 cidades com mais de 500 mil habitantes, apenas Cuiabá informou a inexistência de favelas.
Ainda de acordo com a pesquisa, o problema dos loteamentos irregulares ou clandestinos, que estão presentes em mais da metade dos municípios do país (53,2%), é mais incidente nas regiões Sul (62,4%) e Sudeste (59%), seguidas pelas regiões Norte (57,9%), Centro-Oeste (47,9%) e Nordeste (41,9%).
O levantamento constatou um crescimento no número de municípios com famílias cadastradas em programas habitacionais. Em 2001, 56,2% dos municípios declararam ter cadastros dessa demanda. Em 2008, esse índice subiu para mais de 80%.
Fonte: Portal G1
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Nota minha: O modelo de desenvolvimento econômico importado pelo Brasil dos EUA não só produz favelas, como precisa delas como mão-de-obra barata para as fábricas, supermercados e indústrias. Reduzidos à condição de coisa, desprovidos de sua autonomia, os trabalhadores lutam freneticamente por sub-salários, não importando a jornada de trabalho, o acúmulo de funções, o assédio moral e outras coisas que muitos acreanos já conhecem muito bem...
A desigualdade produz pobreza que produz favela que produz violência que produz insegurança que produz medo que produz neurose que produz desigualdade que produz pobreza que produz favela... e não é a polícia nem a distribuição de donativos que vai impedir esse ciclo vicioso (muito pelo contrário!).
A foto é do site da Prefeitura de Rio Branco e mostra uma enchente no bairro Taquari, uma das primeiras favelas de Rio Branco.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
A XENOFOBIA NOSSA DE CADA DIA
Em 11 de setembro passado houve uma tentativa de golpe civil na Bolívia, perpetrada pelos dirigentes de vários departamentos - equivalentes aos "estados" no Brasil - opositores ao presidente Evo Morales.
Em Pando, departamento fronteiriço com o Brasil pelo Acre, cerca de 18 pessoas foram assassinadas e o número de desaparecidos ainda hoje é incerto. Por isso ainda em setembro a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) enviou ao local uma comissão de investigação composta por advogados, antropólogos, peritos criminais, jornalistas e outros profissionais de várias áreas e de vários países.
A comissão visitou Cobija, Brasiléia e Epitaciolândia, conversou com os refugiados, com as famílias das vítimas e sobreviventes, visitou os locais de confronto, coletou provas materiais e depoimentos. Conclusão: houve mesmo uma tentativa de golpe (clique aqui para baixar o relatório final da Unasul).
Estupros, torturas, assassinatos a sangue frio, racismo, houve de tudo um pouco no terrível 11 de setembro boliviano, data que certamente ficará nas memórias de milhares de famílias camponesas e indígenas.
Mesmo assim - é o que estou tentando entender - por que os jornais acreanos excluem antecipadamente qualquer possibilidade de crime passional nos recentes ataques a refugiados pandinos em Brasiléia?
Qual é a base concreta da investigação jornalística que atribui a autoria dos ataques a "sicários financiados pelo governo Evo Morales", e descarta precipitadamente toda a probabilidade de meras tentativas de vingança por parte de famílias destroçadas?
Ou de auto-atentados (o que não seria novidade)? Ou de "queima de arquivo"?
Base nenhuma.
A única base concreta dessa argumentação é abstrata: a desconfiança do jornalista Alexandre Lima, cuja empresa jornalística tinha um contrato de mídia superfaturado com o governador Leopoldo Fernández (clique aqui e aqui para saber mais). É bom lembrar que a Justiça boliviana decretou a prisão preventiva de Amín Alejandro Farah Ferreira, que Alexandre diz ter sido o seu "procurador" na transação (cujo superfaturamento o jornalista nega). Estranhamente, Alexandre fez publicar várias matérias em jornais locais alegando que a ordem de prisão seria contra ele...
Como se vê, não é a primeira vez que os jornais locais caem nessa esparrela de achismos. Também não é a primeira vez que reproduzem textos mal apurados como se fossem jornalismo de primeira "catiguría", o que evidencia o jornalismo capenga que temos. Basta dizer, por exemplo, que o mesmo texto publicado no Alto Acre foi reproduzido no AC 24 Horas, na Agência Amazônia, no Notícias da Hora, no Folha do Acre, no Xapuri Agora, no jornal A Gazeta e outros.
O mesmo texto, o mesmo autor.
Investigação? Apuração? Desconfiômetro? Jornalismo? Dane-se! Viva o Ctrl + C, Ctrl + V...
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Em tempo: os presidentes dos 13 países-membros da Unasul vão se reunir no próximo dia 16 em Salvador (BA) para analisar o relatório sobre o massacre em Pando. Como desta vez o grande cliente dos jornais - o governo - será o anfitrião, e como interessa a este "sair bem na foto", vamos ver o que os jornais locais e nacionais dirão sobre os "sicários de Evo Morales"...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
UNASUL: MASSACRE EM PANDO FOI ORDENADO E PATROCINADO PELO GOVERNO
“À luz dos fatos, a Comissão conclui que não se trata de delitos de função, conforme também a jurisprudência do Tribunal Constitucional da Bolívia. Com efeito, a função pública não consiste em atentar contra a vida e a integridade pessoal dos cidadãos. Os delitos dessa natureza não podem ser nunca delitos de função. Trata-se de delitos comuns que devem ser julgados pela justiça ordinária”, assinala a oitava conclusão do relatório.
Estas são algumas das 10 conclusões do relatório da Comissão Especial liderada pelo jurista argentino Rodolfo Mattarollo, encarregado de fazer a entrega na quarta-feira deste documento ao presidente Evo Morales no hall do Palácio Quemado.
Participaram da solenidade os membros da Comissão investigadora formada pelos países-membros da Unasul, autoridades nacionais, familiares de vítimas do massacre de Porvenir, setores da imprensa e outros.
O relatório também analisou os fatos sangrentos no último dia 11 de setembro no departamento boliviano de Pando. Concluiu que o massacre de camponeses foi premeditado e constitui, em suas palavras, um crime contra a humanidade.
Mattarollo esclareceu que o relatório foi assinado unanimemente, isto é, por todos os delegados que trabalharam nas investigações. Não houve divergências.
A Comissão Especial foi criada pela Declaración de La Moneda, de 15 de setembro passado, para investigar a tragédia ocorrida Pando, onde pelo menos 20 pessoas foram mortas e dezenas foram feridas e desaparecidas pelas mãos de de pistoleiros presumivelmente vinculados ao ex-prefeito departamental Leopoldo Fernández, preso na prisão de San Pedro de La Paz.
Depois de várias semanas de trabalho, que incluiu visitas ao lugar dos fatos, testemunhos e o parecer de peritos, a Comissão elaborou um relatório final com contém conclusões e recomendações ao presidente boliviano Evo Morales.
A Comissão Especial foi liderada pelo jurista Rodolfo Mattarollo e assessorada por Juan Gabriel Valdés e Luciano Fouillioux (Chile), Fermino Fechio (Brasil), Francisco Borja (Equador), Guido Toro (Peru), Carlos Pita (Uruguai), Freddy Gutiérrez (Venezuela), Fulvia Benavides (Colômbia) e Nicolás Gutman, Eduardo Zuain e Ciro Annichiarico (Argentina).
Fonte: Anncol/Brasil.
Para ler o relatório da Unasul na íntegra (em espanhol, formato PDF) clique aqui.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
COMO DESCUMPRIR A LEI E POSAR DE BONZINHO?
Confira aqui.
Nessas horas eu me pergunto: qual é a do PT? É compreensível que um governo popular crie alianças estratégicas para o desenvolvimento econômico, tecnológico e cultural de uma região. É próprio da estratégia programática desta sigla e até Lênin, nos primórdios da URSS, lançou mão de algo parecido na vigência da Nova Política Econômica (NEP).
No entanto, em nome disso tentar enquadrar um órgão público e a imprensa só porque ambos tiveram a audácia de localizar trabalhadores em situação análoga à de escravidão no "centro comercial" de Rio Branco (alguns com jornada de 14 horas diárias, sem intervalo para almoço), é no mínimo indecente!
É indecente que a DRT seja chamada às pressas para uma reunião com empresários para explicar por que os fiscais andam com escolta quando sabe-se muito bem da onipotência e da truculência de muitos que se dizem "empresários" no Acre - aliás, não é curioso esse medo da Polícia Federal por parte de alguns "líderes do setor produtivo acreano"? Por que será?
É indecente a tentativa de impedir a sociedade de tomar conhecimento da exploração dos seus filhos e filhas nesses pardieiros que os "líderes do setor produtivo" criam para sugar a última gota do sangue de quem precisa de algum salário pra sobreviver.
É indecente determinar que a comunicação de crimes cometidos por empresas sanguessugas por meio da imprensa corresponde a "ver os empresários como vilões", conforme as palavras do presidente da FIEAC, Francisco Salomão, numa clara tentativa de desviar o assunto e atribuir a irregularidade, elipticamente, à imprensa que nada fez senão jornalismo caseiro ao denunciar um crime contra a legislação trabalhista. Nem mais, nem menos.
Por fim, é mais indecente que tudo isso usar prestígio, influência e poder político contra a classe dos trabalhadores e a favor da classe de "empresários" cujo percentual de lucro se deve ao trabalho do povo. Um povo que, em troca de um salário mirrado e nem sempre em dia, detona incessantemente a sua saúde em empresas que vivem à margem da lei.
Esta é a verdadeira indecência, especialmente se considerarmos que a origem de toda a riqueza, todo o dinheiro, toda a renda, todos os lucros que tem qualquer empresa no Acre, no Brasil e no resto do mundo têm como origem o esforço diário dos trabalhadores - não dos patrões.
Os verdadeiros empresários são os trabalhadores, algo que está cientificamente provado: os trabalhadores não só produzem a riqueza de uma empresa, mas produzem - e mantêm - as próprias empresas! É por isso que, para se manter na confortável posição de parasitas do trabalho alheio, alguns empresários tentam enquadrar os trabalhadores, o governo, a lei e até os aplicadores da lei (vide postagem anterior)...
Isso pode mudar? Depende de nós - de quem quer mudanças.
A foto é da Assessoria de Imprensa da FIEAC.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
FAÇAM SUAS APOSTAS!
Clique nas imagens. Para visualizar o teor completo da primeira imagem (um relatório de fiscalização da Delegacia Regional do Ministério do Trabalho e Emprego (DR-MTE), realizado em outubro do ano passado) clique aqui. Note que o meu nome sequer consta no relatório, embora eu trabalhasse lá desde 2003...