O deslocamento da noção de crise do âmbito do modo de produção para o das trocas com a natureza – em particular, para as limitações da economia impostas pela finitude dos estoques de matérias primas – não é inócuo. Em termos mais gerais, ele reconduz ao centro da reflexão aquela visão cindida do processo econômico-social que desde as formulações dos primeiros pensadores burgueses tem servido de respaldo a seus interesses de classe.[1] Mais especificamente é o referido deslocamento que tem dificultado que as mazelas ambientais crescentes – porque elas existem de fato – se projetem negativamente sobre o processo de acumulação; ou que, quando o reconhecimento do caráter social da economia se torna inevitável, a industrialização é que seja apontada como o foco da crise, e não a anarquia produtiva regida pela competição no mercado.
Com a naturalização da economia, e o consequente confinamento do debate sobre a formação do espaço aos contornos teórico-conceituais dos estudos de impacto ou às colocações de produtores individuais, ONGs e comunidades locais sobre práticas ditas sustentáveis, a causa dos problemas ambientais vem sendo gradualmente dissociada da organização da produção, para ser identificada com o aumento da produtividade do trabalho.
[1] Locke se referia à economia como ao intercâmbio do homem com a Natureza -- relação que ele entendia restrito ao âmbito privado: campo de ação da sociedade civil. Ao arbítrio do outro segmento: o corpo político da sociedade, ele confiaria apenas um único aspecto da referida relação: a defesa da propriedade privada da terra, legitimada pelo trabalho nela realizado. Ver em Locke, John (1690) Segundo tratado sobre o governo. Abril cultural, Coleção Os Pensadores, São Paulo, 1973.
Fonte: Webdicionário do Prof. Dr. Csaba Déak, da USP. Professor de Planejamento Urbano, com especialização em modelos de simulação da dinâmica urbana, técnicas quantitativas e transportes públicos.
Vide: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/index.html
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