segunda-feira, 4 de abril de 2011

A QUESTÃO AGRÁRIA NO ACRE

Dias antes da ocupação das casas - públicas - do Conjunto Wilson Ribeiro terminarem em porrada, levando a imprensa, irritada com a proibição do acesso ao local do crime, a produzir matérias "penosas" sobre o sofrimento de mulheres e crianças e a truculência policial, a TV Gazeta publicou outra reportagem sobre o que se concluiu como a vingança de uma quadrilha ao despejo sofrido após uma tentativa de invasão à Fazenda Jarina, localizada no Km 14 da BR 317.

A matéria foi ao ar em 20 de março de 2011 e afirmou resumidamente o seguinte: os invasores eram uma quadrilha especializada em especulação fundiária e subsidiada por sindicatos não nomeados, por sua vez amparados num também suposto obscurantismo jurídico sobre o sindicalismo rural.

A reportagem não mostrou o acampamento, nem invasores ou os patrocinadores. Não precisou. As acusações foram disparadas pelo dono da propriedade (um empresário, idoso, empreendedor, um homem de bem), que a reportagem tomou como verdadeiras após ver marcas de tiros em dois carros - que pertenceriam... a dois funcionários do local! Entrevistados, ambos afirmaram contundentes: foi a quadrilha!

Desconfiado como vocês, vasculhei a internet em busca de mais informações. Encontrei esta. Segundo o Janelao.net, que se baseou em um blog do município do Quinari, um ramal (faixa de terras utilizada para o transporte) passa dentro das terras citadas. O proprietário, irritado com o vaivém de gente, resolveu impedir o acesso, deflagrando um conflito que foi parar na delegacia com direito a negociação entre manifestantes e assessores do Governo, seis dias antes da exibição da matéria do Gazeta em Manchete.

Notem que durante o protesto compareceram aqueles velhos personagens dos conflitos agrários do Acre: jagunços armados, que felizmente foram presos por porte ilegal de armas de fogo.

Esse caso, especialmente se contrastado com a cobertura jornalística do conflito no Wilson Ribeiro, expõe parcialmente os meandros da questão agrária no Acre. Que ninguém se engane: há interesses poderosos em jogo. Ainda. Lembro que Chico Mendes, quando vivo, denunciou várias vezes um complô de latifundiários para matá-lo. Ele morreu, mas o velho espírito legado pela Ditadura Militar de eliminar os "obstáculos" (matar pessoas por razões mesquinhas) vive e anda muito bem, obrigado.

Por exemplo: os jagunços presos no Quinari foram soltos? Alguém pagou as fianças? Quem?

Não vou usar o blog para descer o malho nos ex-colegas da imprensa local. Trabalhei em várias redações locais por 11 longos anos e sei bem como funciona a máquina. Repórteres fatigados tendo que cumprir 2, 3, 4 pautas por dia (alguns se orgulham disso!), salários baixos ou atrasados, acúmulo de funções e assédio moral dos chefes são alguns dos ingredientes diários da profissão atual. Se não justificam, eles explicam por que é tão eficaz a operação de dissimular e distorcer a opinião pública em favor da classe mais "chegada" aos donos da imprensa...

Em tempo: o dono da Fazenda Jarina, por onde passa o Ramal Oliveira, é Osvaldo Ribeiro (pai do ex-prefeito do Quinari, Celso Ribeiro). O bairro onde houve o conflito com as casas do governo (do povo) chama-se Wilson Ribeiro (homenagem a um ex-deputado local). Será que são parentes?

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