Não gosto de usar esse espaço para atacar colegas de profissão, pois sei dos interesses que se coadunam por trás das atitudes, declarações, omissões e merchandisings dos colegas jornalistas. Interesses que têm a salvaguarda de um imenso aparato jurídico-político e que para atingir os seus objetivos instrumentalizam um irresistível poder de coerção, exclusão e opressão.
Entretanto, não consigo entender o motivo dessa conjuntura - claramente violenta para a nossa categoria - não criar em muitos jornalistas uma atitude empática, ou pelo menos crítica, no trato com o tema da violência no restante da sociedade.
Todos os dias nossas TVs, jornais e rádios noticiam roubos, furtos, estupros, assassinatos e outros crimes, mas o tom adotado nessas narrativas é sempre o mesmo: o de uma incompreensível nuvem de violência que está a nublar o céu da felicidade acreana.
Desde Durkheim sabe-se que o crime é um fato social, isto é, um fenômeno que se organiza em determinada correlação de forças dentro da sociedade. Trata-se de uma conseqüência, não de uma causa. Trata-se também de uma questão lógica: se vivemos em sociedade e temos direitos e deveres, o que acontece quando os deveres exigem a perda de direitos?
A resposta é: o crime. No exemplo da violência para com o jornalista, exercida dentro das redações pela impostura de linhas editoriais, manuais normativos e todo tipo de censura prévia ou póstuma contribuem para a transição do jornalismo do papel de Contra-Poder (o poder do povo) para o papel de mero papagaio dos demais poderes.
Isso é um crime? Sim, é um duplo crime: contra a ética jornalística e contra a ética humana.
É crime contra a ética jornalística porque substitui o conteúdo pela forma, a essência pela aparência, a crítica pela narrativa e a própria ética pela estética! E crime contra a ética humana porque, longe de abstrair de si todos os valores de crítica engajada, socialmente referendada, utiliza esses princípios para comercializar prestígio político e interesses financeiros - estranhos ao profissional jornalista!
A imprensa acreana, portanto, reproduz em sua existência íntima os princípios elementares da violência e do crime de cuja profusão tanto se espanta nas esquinas, bares, lares e bairros de Rio Branco. Pior: a imprensa ignora não só a sua existência enquanto resultado de uma tradição política e empresarial corrupta, como a existência social enquanto resultado de ondas sucessivas de exploração, exclusão e produção da miséria ao longo de décadas.
Se a exploração íntima da imprensa está ligada aos poderes que a alimentam, a exploração social, de onde brota o crime que vira notícia, é a ação histórica e viva desses poderes.
Assim, para iniciar o exame da violência que reproduz diariamente a imprensa teria que produzir inicialmente o exame da sua própria origem. A origem da imprensa e a origem da violência são a mesma coisa, pois estão ligadas pela história da mesma forma que o crime se manifesta na sociedade em que se desenvolve.
Ou podemos esquecer que a miséria e a carnificina deram origem ao Acre?
Como esquecer o violento processo de formação e "independência" do que hoje se chama povo acreano? Como esquecer que o governo transladou para a floresta, sem direito a retorno, 75 mil nordestinos para abastecer de borracha a máquina bélica dos EUA na 2ª Grande Guerra? Como esquecer os empates, genocídios e fugas de famílias que deram origem a 99% dos bairros de Rio Branco?
A violência é o que nos designa como sociedade. Está em nossa gênese. O crime nunca foi exceção, foi a regra que formulou todas as fortunas acreanas ao custo de uma miséria minuciosa e sistematicamente amordaçada, silenciada e marginalizada pelos mesmos esquemas de poderes dos quais a imprensa é porta-voz!
Para que alguns empresários pudessem arrotar caviar nos hotéis de seis estrelas de Dubai, nos Emirados Árabes, foi necessário que a maior parte da sociedade sangrasse.
Assim, como não compreender a explosão da violência em nosso Acre?
E finalmente, meus amigos, por que não lutar contra ela?
Entretanto, não consigo entender o motivo dessa conjuntura - claramente violenta para a nossa categoria - não criar em muitos jornalistas uma atitude empática, ou pelo menos crítica, no trato com o tema da violência no restante da sociedade.
Todos os dias nossas TVs, jornais e rádios noticiam roubos, furtos, estupros, assassinatos e outros crimes, mas o tom adotado nessas narrativas é sempre o mesmo: o de uma incompreensível nuvem de violência que está a nublar o céu da felicidade acreana.
Desde Durkheim sabe-se que o crime é um fato social, isto é, um fenômeno que se organiza em determinada correlação de forças dentro da sociedade. Trata-se de uma conseqüência, não de uma causa. Trata-se também de uma questão lógica: se vivemos em sociedade e temos direitos e deveres, o que acontece quando os deveres exigem a perda de direitos?
A resposta é: o crime. No exemplo da violência para com o jornalista, exercida dentro das redações pela impostura de linhas editoriais, manuais normativos e todo tipo de censura prévia ou póstuma contribuem para a transição do jornalismo do papel de Contra-Poder (o poder do povo) para o papel de mero papagaio dos demais poderes.
Isso é um crime? Sim, é um duplo crime: contra a ética jornalística e contra a ética humana.
É crime contra a ética jornalística porque substitui o conteúdo pela forma, a essência pela aparência, a crítica pela narrativa e a própria ética pela estética! E crime contra a ética humana porque, longe de abstrair de si todos os valores de crítica engajada, socialmente referendada, utiliza esses princípios para comercializar prestígio político e interesses financeiros - estranhos ao profissional jornalista!
A imprensa acreana, portanto, reproduz em sua existência íntima os princípios elementares da violência e do crime de cuja profusão tanto se espanta nas esquinas, bares, lares e bairros de Rio Branco. Pior: a imprensa ignora não só a sua existência enquanto resultado de uma tradição política e empresarial corrupta, como a existência social enquanto resultado de ondas sucessivas de exploração, exclusão e produção da miséria ao longo de décadas.
Se a exploração íntima da imprensa está ligada aos poderes que a alimentam, a exploração social, de onde brota o crime que vira notícia, é a ação histórica e viva desses poderes.
Assim, para iniciar o exame da violência que reproduz diariamente a imprensa teria que produzir inicialmente o exame da sua própria origem. A origem da imprensa e a origem da violência são a mesma coisa, pois estão ligadas pela história da mesma forma que o crime se manifesta na sociedade em que se desenvolve.
Ou podemos esquecer que a miséria e a carnificina deram origem ao Acre?
Como esquecer o violento processo de formação e "independência" do que hoje se chama povo acreano? Como esquecer que o governo transladou para a floresta, sem direito a retorno, 75 mil nordestinos para abastecer de borracha a máquina bélica dos EUA na 2ª Grande Guerra? Como esquecer os empates, genocídios e fugas de famílias que deram origem a 99% dos bairros de Rio Branco?
A violência é o que nos designa como sociedade. Está em nossa gênese. O crime nunca foi exceção, foi a regra que formulou todas as fortunas acreanas ao custo de uma miséria minuciosa e sistematicamente amordaçada, silenciada e marginalizada pelos mesmos esquemas de poderes dos quais a imprensa é porta-voz!
Para que alguns empresários pudessem arrotar caviar nos hotéis de seis estrelas de Dubai, nos Emirados Árabes, foi necessário que a maior parte da sociedade sangrasse.
Assim, como não compreender a explosão da violência em nosso Acre?
E finalmente, meus amigos, por que não lutar contra ela?
Nenhum comentário:
Postar um comentário