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Mostrando postagens de junho, 2011

HIGIENIZAÇÃO LITERÁRIA, MISÉRIA POLÍTICA

É consenso entre os estudiosos (historiadores, críticos literários etc) que a qualidade da literatura em cada época é subproduto do seu posicionamento em relação à forma política predominante. Por esse raciocínio, uma sociedade é mais criativa na medida contrária da subserviência de sua produção literária ao Estado, ao Poder. É algo bastante lógico, que serve para explicar desde a explosão criativa brasileira durante os Anos de Chumbo (1964-1982) até a insipidez da maioria das publicações atuais.

AINDA SOBRE CRISTIANISMO E PAZ SOCIAL

A propósito da postagem " Por que o Cristianismo não produz paz social " recebi o seguinte comentário do leitor Marcelino Freixo: Me permita fazer uma correção. Pelo Evangelho, a salvação do homem é um ato de graça, e não o resultado do amor ao próximo ou mesmo a Deus. O amor a Deus e ao próximo é o resultado de ter a certeza dessa salvação, conforme está escrito em Efésios 2:8-9: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie". Acho que isso invalida o argumento central do seu texto, que o cristianismo ensina que o amor é condição para se ter algo.

POR QUE O CRISTIANISMO NÃO PRODUZ PAZ SOCIAL

Apresentadores de programas policiais de TV compartilham vários "cacoetes". Um deles é relacionar os crescentes índices de criminalidade com a suposta descrença do povo. De fato, é bastante difundido o credo de que o aumento da violência estaria relacionado à "falta de Deus no coração". Surfando na onda de religiosidade e moralidade advinda desta revelação, desde os anos 60 as igrejas realizam enormes eventos públicos: "cruzadas", "festividades" e as recentes "marchas para Jesus". É um equívoco. Primeiro: o Cristianismo é não só a forma religiosa predominante na nossa sociedade há pelo menos 2.000 anos, como é a base histórica da moralidade mundana ocidental. A tal ponto que, ao longo da história, outras religiões como o Budismo, o Hinduísmo, a Umbanda etc, tiveram que "adaptar" suas narrativas como estratégia para arrebanhar seguidores.

RAZÃO TUTELADA E JORNALISMO NO ACRE

Já pensou o que aconteceria se o Movimento Abolicionista, que ocupou grande parte da crônica social brasileira na primeira metade do século XIX - e rendeu uma explosão de movimento criativo, das artes plásticas à literatura - se tivesse fiado na capacidade de diálogo do Estado para acabar com o horror da escravidão? Ou se o movimento Diretas Já, ao invés de invadir as ruas das principais metrópoles brasileiras, resolvesse aguardar o momento mais propício num clima de diálogo e cordialidade com a "difícil situação estrutural" do "Estado revolucionário" brasileiro do final dos anos 80? Já pensou o que haveria se, pela mesma época, o movimento de seringueiros do Acre resolvesse abrir mão dos empates em solidariedade à difícil missão dos governantes de reestruturar a máquina pública após 20 anos de ditadura?

A SOCIEDADE COMO ORGANISMO

Por István Meszáros , na introdução ao livro O poder da ideologia , Boitempo Editorial Desde que Menênio Agripa se dirigiu aos grevistas romanos, que ocupavam o Monte Sagrado no século VI a.C., vem sendo defendida em inúmeras ocasiões a concepção "orgânica" da ordem social. Segundo o tão reverenciado cônsul romano – que, em palavras características da Enciclopédia Britânica, era "conhecido como um homem de pontos de vista moderados" – cada camada social tem seu “lugar próprio” no grande organismo. As camadas inferiores devem obter sua satisfação a partir da "glória reflexa" e, independentemente de sua inferioridade, serem consideradas "igualmente importantes" para o funcionamento do organismo a que pertencem. Evidentemente, esse foi um poderoso exercício de ideologia. Segundo a lenda, os que protestavam se comoveram tanto com os "pontos de vista moderados" do cônsul que, imediatamente, abandonaram sua postura de desafio coletivo e r...

SE ESSA MARCHA FOSSE MINHA...

O que faltou na Marcha da Liberdade deste sábado em Rio Branco? Comida, água pro povo? Música engajada, acrobacias? Teatro de rua, movimento estudantil? Faltou combinarem com a única faixa populacional realmente interessada em mudanças sociais radicais. Onde estava o povo do Caladinho, do Taquari, do Wilson Pinheiro, os expulsos da Avenida Amadeu Barbosa, os jovens desempregados ou subassalariados da nossa "urbe"? Aos que não sabem, uma pista: para sair de suas casas e chegar ao centro da cidade cada um teria que desembolsar para o ônibus 4,8 reais - 2,4 de ida, 2,4 de volta - do seu minguado salário mínimo.

CONTROLE SOCIAL DA MÍDIA

Saiba mais aqui .

ESTADO E CAPITAL NA AMAZÔNIA

Recebi do meu amigo Israel Pereira uma análise brilhante sobre mais uma falsa dicotomia: o neo-desenvolvimentismo em sua faceta ruralista e o neo-desenvolvimentismo "ecologicamente correto" incorporado por Marina Silva, Natura, Fritjof Capra, Edgar Morin e CIA ltda. É algo que faz pensar, especialmente nesse período de vácuo de militância. Quando tudo parece perdido, nada melhor que ver o que corre no mundo real, do lado de fora da janela das nossas utopias. O artigo está aqui .

MANUAL DE REDAÇÃO

Ou, 10 regras da grande imprensa ao abordar "movimentos sociais" Osvaldo da Costa, em Adital Convenções básicas (quem não cumprir está sujeito à demissão): 1ª) Toda OCUPAÇÃO de terra deve ser chamada de INVASÃO Ao invés de usar o termo adotado pelos movimentos sociais, “ocupação” – manifestação de pressão para o cumprimento da Constituição pelo Estado e denúncia da existência de latifúndios- é mais eficiente para o objetivo de defesa do princípio da propriedade privada a utilização da palavra “invasão” – tomar para si pela força algo que não lhe pertence. Dessa maneira, implicitamente, estamos dizendo que discordamos dessa prática e a consideramos ilegal, e conseguimos gerar a sensação de pânico generalizado em todos os donos de propriedade, sejam elas rurais e produtivas, ou até mesmo propriedades urbanas. Observação: essa regra não é generalizável. Para os casos em que os Estados Unidos invadem países, destroem a infra-estrutura e matam a população, d...

É VOCÊ!

É você Só você Que na vida vai comigo agora Nós dois na floresta e no salão Nada mais Deita no meu peito e me devora Na vida só resta seguir Um risco, um passo, um gesto rio afora... É você Só você Que invadiu o centro do espelho Nós dois na biblioteca e no saguão Ninguém mais Deita no meu leito e se demora Na vida só resta seguir Um risco, um passo, um gesto rio afora Na vida só resta seguir Um ritmo, um pacto e o resto rio afora... Letra: Tribalistas

IDADE MÍDIA

Por Danielle Gonçalves , no DireitoNet De maneira simplista, tentarei mostrar com este trabalho uma das grandes formas de violência existente na sociedade e que freqüentemente se desenrolam sob os nossos olhos, porém, demasiado perto para serem percebidos: trata-se da violência da mídia. A mídia, com sua aparência indefesa, sob a alegação de prestar serviço cultural e informativo de maneira diversificada com o alcance de todas as classes e indivíduos vêm, hodiernamente, se manifestando como um super poder, causando grande influência, de certa maneira perversa, sobre a vida das pessoas. Podendo ser manifestado de diversas maneiras, o poder, segundo Bonavides [1], pode ser assim definido: “A um nível muito geral, poder é qualquer relação social regulada por uma troca desigual . É uma relação social porque a sua persistência reside na capacidade que ela tem de reproduzir desigualdade mais através da troca interna do que por determinação externa. As trocas podem abranger ...

ORDEM E PROGRESSO

Desde que o mundo é mundo existe um apelo para que as pessoas preservem a ordem da vida social. Que grupos não coloquem seus interesses acima do organismo coletivo. Que quando uns radicalizam, a maioria perde. Que é irresponsabilidade, por exemplo, colocar interesses de uma categoria grevista acima dos interesses da sociedade em geral. Que por lei - ah, a lei... - os interesses coletivos estão acima dos interesses particulares. Esta análise se sustenta? Como poderia, se todas as categorias grevistas fazem parte da sociedade? Por exemplo: numa greve da educação, as reivindicações dos professores não beneficiam só uma categoria, mas toda a sociedade. E não estou me referindo a estudos rigorosos sobre a quantidade de ciclos de "aquecimento da economia" que um reajuste do salário desse segmento costuma provocar na circulação de dinheiro, melhorando a arrecadação de impostos e permitindo a ampliação de obras públicas (público significa "para todos"). A minha questão ...

A MORALIZAÇÃO DA POLÍTICA

Vencedor de vários prêmios no Velho Mundo e pouco conhecido no Brasil, o documentário Undergångens arkitektur (Arquitetura da destruição) , de Peter Cohen, aborda uma das facetas pouco conhecidas do Nazismo: como um projeto de purificação do mundo político segundo critérios de moralidade e preservação dos valores da família, da ordem e do status quo , produziu a mais poderosa máquina de matar de todos os tempos. O documentário confirma no campo empírico uma velha tese conhecida por filósofos, sociólogos e cientistas políticos: a natureza conservadora da moralidade tende a bloquear a democracia e ameaça a própria base da política ao obstruir a liberdade como o campo de construção dos direitos humanos. A moral não pode servir de estandarte, de ideal para a política. Por mais poderosas que sejam as convicções individuais, a política deve ser o espaço de construção dos direitos para os cidadãos. Por sua vez, a palavra moral vem do latim mos ou moris e significa o costume . O plural...

THE VENUS PROJECT

Enquanto as cabeças de pensar, do Acre e de outros Estados amazônicos, deliram ao imaginar os benefícios da sua inclusão no capitalismo internacional quando finalmente o PT (ou outro partido qualquer) substituir as economias do contracheque público pelos cartéis bilionários que controlam governos e bolsas mundo afora, cientistas e filósofos desses exatos países - e do nosso - defendem outras formas de globalização. Entre elas, pasmem, a economia baseada em recursos naturais! Paradoxal? Sí, pero no mucho! Em 1972, enquanto na Terra Brazilis as nossas Forças Armadas torturavam e assassinavam adolescentes idealistas cheios de espinhas perigosos comunistas em nome da família, da ordem e do progresso, as universidades do chamado Primeiro Mundo ocupavam-se da divulgação de um documento intitulado Os Limites do Crescimento . Nele, o aviso: "Utilizando modelos matemáticos, chegou-se à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada so...