quinta-feira, 2 de junho de 2011

THE VENUS PROJECT

Enquanto as cabeças de pensar, do Acre e de outros Estados amazônicos, deliram ao imaginar os benefícios da sua inclusão no capitalismo internacional quando finalmente o PT (ou outro partido qualquer) substituir as economias do contracheque público pelos cartéis bilionários que controlam governos e bolsas mundo afora, cientistas e filósofos desses exatos países - e do nosso - defendem outras formas de globalização. Entre elas, pasmem, a economia baseada em recursos naturais!

Paradoxal? Sí, pero no mucho! Em 1972, enquanto na Terra Brazilis as nossas Forças Armadas torturavam e assassinavam adolescentes idealistas cheios de espinhas perigosos comunistas em nome da família, da ordem e do progresso, as universidades do chamado Primeiro Mundo ocupavam-se da divulgação de um documento intitulado Os Limites do Crescimento. Nele, o aviso: "Utilizando modelos matemáticos, chegou-se à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico."

Portanto, excetuados obviamente os deslumbrados extasiados pelos "patamares de riqueza conquistados pelo empreendedorismo do Primeiro Mundo", que defendem para hoje o desenvolvimentismo como panacéia para os males da pobreza, da criminalidade e da falta de liberdade individual, por lá é precisamente a convicção contrária que vem guiando, nas últimas quatro décadas, a busca por soluções mais eficazes e menos trágicas para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos.

Um dos exemplos mais bem-sucedidos dessa tendência é o The Venus Project (Projeto Vênus), elaborado pelo engenheiro e inventor Jacque Fresco e que consiste basicamente na democratização dos vastos recursos hoje disponíveis segundo as necessidades das pessoas nos mais diversos países, eliminando o sistema de lucros e consequentemente o abismo entre desenvolvidos e não-desenvolvidos.

A idéia central é que uma economia baseada em recursos reduziria a tendência humana à dependência, corrupção e à ganância, que aprofundam o abismo civilizatório. Sem privações e a alienação do próprio potencial de criação engendradas pela necessidade de lucro, as pessoas seriam livres para criar e desenvolver seus projetos pessoais, ajudando, assim, no desenvolvimento de toda a comunidade.

- Uma economia baseada em recursos é um sistema onde todos os bens e serviços estão disponíveis sem o uso de dinheiro, crédito, escambo ou qualquer outro sistema de débito ou servidão. Todos os recursos tornam-se patrimônio comum de todos os habitantes, não de apenas uns poucos selecionados. A premissa sobre a qual esse sistema é baseado é a de que a Terra seja abundante em recursos; nossa prática de racionamento de recursos através de métodos monetários é irrelevante e contraprodutiva a nossa sobrevivência. A sociedade moderna tem acesso a tecnologias de ponta e pode disponibilizar comida, vestimenta, moradia e assistência médica; atualizar nosso sitema educacional; e desevolver um suprimento ilimitado de energia renovável e não-poluente. -, explica Jacque Fresco neste artigo.

Em 2003, em um artigo para a revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), escrevi que defendia para a Amazônia Legal uma economia totalmente tutelada pelo chamado "mundo civilizado". Meu argumento central era que a riqueza contrabandeadada do Brasil para a Europa a partir do século XVII foi o que permitiu a acumulação necessária para o desenvolvimento daquele continente nos séculos seguintes. Hoje, com o paradoxal risco de destruição do planeta pela intensificação desse desenvolvimento, que em seu caminho homicida dizimou milhões de índios, além de outras espécies animais e vegetais, nada seria mais justo que Estados Unidos e Europa "adotassem" o chamado pulmão do mundo, tutelando o desenvolvimento das suas populações em troca do compromisso de preservar os ecossistemas.

Ou seja: as nações hoje desenvolvidas deveriam ser forçadas a reembolsar, a fundo perdido, as nações que empobreceram. Não só pelo sofrimento excruciante que lhes proporcionaram, mas principalmente pela necessidade atual de extensas áreas de ecossistemas intactos para compensar os danos ambientais irrecuperáveis em outras partes do mundo.

Vendo idéias como a de Jacque Fresco sou forçado a repensar minhas prioridades, o que me leva a outra reflexão: é fato que a crise ecológica pode reacender o debate civilizatório, mas, como ficam as respostas a ela? Como separar o interesse coletivo de interesses que visam manipular o coletivo? E qual instância poderia defender esse sistema de valores?

Eis aí uma boa discussão para este comecinho de século XXI.

Um comentário:

The Venus Project Supporter disse...

Desculpe mas o seu texto tanto parece estar contra como a favor. Afinal qual a sua duvida?