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POBREZA NOS EUA


O mapa mostra a taxa de pobreza (poverty rate) em relação ao total de habitantes. Clique para ampliar.


Por: The New York Times


"Pobreza na infância envenena o cérebro". Esse foi o começo de um artigo no “Financial Times” de sábado, resumindo uma pesquisa apresentada na semana passada na Associação Americana pelo Avanço da Ciência.

Como o artigo explicou, neurocientistas descobriram que "várias crianças que crescem em famílias muito pobres com baixo status social têm altos níveis de hormônios de estresse, que prejudicam o desenvolvimento neural. A conseqüência é afetar o desenvolvimento da linguagem e a memória – portanto, a capacidade de fugir da pobreza – pelo resto da vida da criança."

Então agora temos outra razão, ainda mais convincente, para se envergonhar do histórico dos EUA no fracasso da luta contra pobreza.

O ex-presidente Lyndon Johnson declarou sua "Guerra à Pobreza" há 44 anos. Contrário às opiniões cínicas, houve uma grande redução na pobreza nos anos seguintes, especialmente entre as crianças. O índice caiu de 23% em 1963 para 14% em 1969.

Mas o progresso estagnou logo depois. A política americana se voltou para a direita e as atenções foram do sofrimento dos pobres para os supostos abusos das rainhas do seguro-desemprego dirigindo Cadillacs, e a luta contra a pobreza foi quase que completamente abandonada.

Em 2006, 17.4% das crianças nos EUA viviam abaixo da linha da pobreza, mais do que em 1969. E até mesmo esse número provavelmente não diz tudo sobre a real profundeza da miséria de muitas crianças.

Viver na pobreza, ou perto dela, sempre foi uma forma de exílio, cortado da camada mais ampla da sociedade. Mas a distância entre os pobres e o resto de nós é muito maior do que era há 40 anos, porque a maioria das rendas dos americanos aumentou em termos reais enquanto a linha oficial da pobreza não. Ser pobre nos EUA de hoje, mais do que no passado, é ser um excluído em seu próprio país. E isso, nos dizem os neurocientistas, é o que envenena o cérebro de uma criança.

O fracasso do país em progredir na luta contra a pobreza, especialmente entre crianças, deveria causar muita reflexão. Infelizmente, o que parece provocar é uma enorme criatividade em elaborar desculpas.

Algumas dessas desculpas vêm em declarações de que os pobres dos EUA realmente não são tão pobres – uma afirmação que sempre me deixou em dúvida se aqueles que a fazem viram alguma televisão durante o furacão Katrina, ou se simplesmente olhou ao redor enquanto visitava uma grande cidade americana.

O principal, entretanto, é que desculpas para a pobreza nos EUA envolvem a afirmação que os EUA são uma terra de oportunidades, um lugar onde as pessoas podem começar pobres, mas se trabalharem duro se tornarão ricas.

Mas a verdade é que as histórias de Horatio Alger são raras (autor do século 19 que escrevia sobre como as crianças excluídas podiam alcançar o chamado "sonho americano"). De acordo com uma estimativa recente, crianças americanas com pais nos últimos quatro níveis da distribuição de renda têm uma chance de quase 50% de permanecerem assim – e cerca de dois terços de chance de continuarem estagnadas se forem negras.

Isso não é surpreendente. Crescer na pobreza o coloca em desvantagem em todos os passos.

Eu comparei esses novos estudos de desenvolvimento do cérebro em crianças novas com uma pesquisa do Centro Nacional para Estatísticas de Educação, que analisou um grupo de estudantes que estavam na oitava série em 1988. Por cima, o estudo descobriu que nos EUA moderno, o status dos pais ganha da capacidade: estudantes que foram muito bem em testes padrões, mas vieram de famílias mais humildes tinham menos chances de entrar em uma universidade do que os estudantes que tiveram resultados ruins, mas pais com uma situação melhor.

Nada disso é inevitável.

Índices de pobreza são muito mais baixos em países europeus do que nos EUA, principalmente por causa de programas do governo que ajudam os pobres e desafortunados.

E os governos que se focam nisso conseguem reduzir a pobreza. Na Grã-Bretanha, o governo do Partido Trabalhista que teve início em 1997 fez da redução da pobreza uma prioridade – e apesar de alguns retrocessos, seu programa de subsídios de renda e outras formas de ajuda tiveram grandes resultados. Pobreza infantil, em particular, foi cortada pela metade de acordo com a medida que mais corresponde à definição dos EUA.


Mais sobre o assunto aqui (em inglês).

Comentários

Joel de Sá disse…
Muito bom.ESTAREI escrevendo um sobre pobreza espero que leia.Meu blog é joeldesainteragir.blogspot.com

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