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DIA DA AMAZÔNIA

Mesmo sem esconder dados sobre o desmatamento da Amazônia, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem conseguido obter manchetes menos constrangedoras e, em muitos casos, até mesmo confortáveis para o governo.

Em busca de fatos novos para os títulos e lides (primeiros parágrafos) de suas reportagens, grande parte da imprensa têm passado uma imagem otimista e que não corresponde à realidade da extensão da devastação.

Várias matérias publicadas repetem o mesmo engano que vem sendo cometido há meses, que consiste em se basear nos dados mensais do sistema de detecção de desmatamentos em tempo real por satélites, que são úteis para orientar ações de fiscalização, mas não mostram a extensão total da devastação, que só é possível por meio da análise de períodos mais amplos.

Neste sábado, poucos veículos escaparam dessa interpretação mais confortável para o governo. Felizmente, entre eles estão jornais de grande alcance, como a Folha de S. Paulo, com a chamada de capa “Desmatamento na Amazônia cresce após 3 anos de queda” e a reportagem “Desmate na Amazônia subiu 64% em um ano, avalia Inpe”, de Marta Salomon, e O Estado de S. Paulo, com a chamada “Devastação da Amazônia cresce 64% em um ano” e a matéria “Desmatamento cresce 64% em 1 ano”, de Herton Escobar.

Por outro lado, não foram poucas as chamadas, títulos e lides (primeiros parágrafos de reportagens) que enfatizaram outro dado, que foi o da redução de 62% do desmatamento de julho deste ano em relação a junho, repetindo o enfoque da matéria “Desmatamento da Amazônia tem queda de 62% em julho”, publicada ontem no portal do MMA.


Manchetes otimistas

No mês passado foi a mesma coisa. A maior parte dos veículos de comunicação titulou suas chamadas de capa e suas reportagens em função dos índices de desmatamento de junho, que acusou redução da taxa de 20% em relação ao mês anterior e de 38% em relação a junho de 2007, na mesma linha da matéria “Ações do MMA pressionam queda da taxa de desmatamento na Amazônia”, publicada em 29/07/2008 no mesmo portal.

Desde o final de 2007, quando foi constatada a tendência de grande aumento da taxa anual de desmatamento da Floresta Amazônica brasileira para o período de 2007 a 2008, a atenção da imprensa e de ONGs passou a se concentrar nos índices mensais do sistema Deter (Desmatamento em Tempo Real).

Esse processo teve um efeito inegavelmente positivo, pois levou o Governo Federal a melhorar e a intensificar as ações de fiscalização. No entanto, esses dados não são adequados para determinar a extensão total da devastação, pois muitas das imagens de satélites são prejudicadas por nuvens.

As avaliações mais precisas se baseiam em períodos anuais e são feitas pelo sistema Prodes (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite). Os dois projetos são desenvolvidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos (SP), que é vinculado ao MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia).

Embora o próprio MMA tenha reiteradamente esclarecido o caráter parcial dos dados, as informações de seus comunicados são hierarquizadas de modo a enfatizar as reduções nas taxas de desmatamento apresentados mensalmente pelo Deter.

Em outras, palavras, ninguém pode acusar o ministro Carlos Minc de estar escondendo dados, principalmente em suas entrevistas coletivas. Quem está bobeando é grande parte da imprensa, que tem avançado sem discernimento sobre a isca que lhe é oferecida.


Matéria completa no blog Laudas Críticas, do jornalista Maurício Tuffani.

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Comentário meu: curiosamente nenhum jornal trouxe hoje, Dia da Amazônia, qualquer tendência de queda (ou de "incremento das taxas de queda", como preferem os técnicos do Imac) do desmatamento no Acre.

Farei a comparação dos dados anuais assim que melhorar da gripe. Até lá, sugiro uma olhada no excelente blog do Tuffani. Abraços!

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