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MÍDIA PRODUZ MEDO, DIZ PESQUISA

Pessoas associam a violência a locais específicos e ao contato com grupos marginais

As relações entre indivíduo e meio mudaram através dos tempos. Os gostos, afetos e os corpos diversificaram. Isto é o que mostra Layne Amaral no artigo “Mídia e violência urbana: o corpo contemporâneo e as suas afetações em uma cultura de risco” publicado na revista “Logos” em 2007. Segundo a autora, a partir do que a mídia divulga – principalmente sobre violência – as pessoas começam a adotar diferentes comportamentos.

“A mídia costuma tratar esse tema com um grau de veiculação exagerada”, afirma. Ela acrescenta, ainda, baseada em trabalhos do teórico da comunicação norte-americano George Gerbner, que essa veiculação exagerada nos da uma sensação de insegurança e uma ansiedade crescente em relação ao mundo.

Layne explica que não é preciso ser vítima da violência para temê-la, pois todos sabem que esta pode acontecer com qualquer um, aleatoriamente. Segundo a professora da Faculdade de Comunicação Pinheiro Guimarães, os meios de comunicação não explicam as dinâmicas da violência e as pessoas acabam associando a mesma a locais específicos e ao contato com grupos marginais, que muitas vezes são relacionados às populações mais pobres.

Movida por essa “cultura do medo”, a sociedade é “forçada” a adotar medidas de segurança e permanecer em eterna vigilância. A professora esclarece que a mídia pode não ser culpada pelo estabelecimento dessa cultura do medo, mas isso não a exime de contribuir para a formação desse sentimento. Significa dizer que para Layne, assistir uma quantidade suficiente de brutalidade na televisão pode fazer uma pessoa começar a acreditar que está vivendo em um mundo cruel e sombrio, em que se sente vulnerável e inseguro.

Ela afirma que mesmo não sabendo qual o grau de veracidade do que se veicula na mídia, o público pode acreditar que os índices de criminalidade estão aumentando e superestimar o medo de serem vítimas de crimes violentos. O medo gerado leva à tomada de certas atitudes como novas formas de deslocamento pela cidade, como não passar por áreas “perigosas”, não parar em cruzamentos; buscar espaços seguros como shopping centers, edifícios comerciais e condomínios; e até a implantação de chips de identificação no corpo.

O estudo mostra ainda que as narrativas midiáticas exageradas sobre violência estão contribuindo para o aparecimento de um distúrbio psiquiátrico na população chamado estresse pós-traumático, que era relacionado somente a eventos catastróficos, como guerras e erupções vulcânicas, mas passou a ser considerado também a partir de eventos urbanos.

“Numa sociedade onde as tecnologias de comunicação são cada vez mais presentes e as narrativas midiáticas adquirem grande importância na construção de nossa visão de mundo, torna-se urgente reavaliar as conexões que fazemos a fim de entender o fenômeno da violência urbana, ainda mais quando se percebe que tais temores começam a se deslocar do imaginário e passam a afetar as materialidades de nossos próprios corpos”, diz Layne.

Fonte: Agência UERJ

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