Às 9h40 desta segunda-feira (18.08) recebi um e-mail do professor Marcos Afonso Pontes, com o título "MOVIMENTO ESTUDANTIL HÁ 24 ANOS!".
Multicolorido, o corpo da correspondência me convidava a comentar sobre o assunto no site Varal de Idéias, do próprio Marcos Afonso.
Aceito o convite e no site dou de cara com o texto "Nosso antigo militante...", uma ode ao multi-assessor petista Francisco Nepomuceno, o "Carioca", e ao passado de alguns petistas nas lutas de esquerda das décadas de 70 e 80.
- Bonitinho. Amigos costumam escrever sobre amigos, legal. Quem sabe essas lembranças não os ajudam a compreender a sociedade como uma construção coletiva e não como palco para meia dúzia de personalidades iluminadas? - penso. Animado por essa expectativa, lá pelas tantas sou novamente surpreendido com o seguinte parágrafo:
Socialista?! Como assim? Seria o socialismo de mercado do desenvolvimento sustentável? Um socialismo chinês? O socialismo da IIRSA? O socialismo da concessão de florestas para a exploração privada? O socialismo que muda o fuso horário para beneficiar a Globo?
Não me contive.
A idéia de que o petismo centralista que reproduz no Acre a tendência histórica de personalização da política como pressuposto mesmo da luta de classes pudesse parir o socialismo me pareceu tão bizarra e descabida que me achei no dever de responder alguma coisa.
Às 14h25 da mesma segunda-feira, portanto, fiz o comentário que consta na imagem acima:
Marcos, eu acrescentaria ao seu texto:
Voltando ao presente, o caráter personalista do poder político centralizado interagiu com os nossos ideais de democratização da sociedade e produziu um frankenstein: a busca da democracia por meio do pacto social entre as classes.
O resultado é que a atual política petista, no Acre e na conjuntura nacional, não só reproduziu a velha cisão entre dominadores e dominados como também defendeu um pacto entre essas mesmas classes, trocando a concepção do povo no poder pelo apoio aos megaprojetos do capital monopolista.
Essa atitude trouxe uma antítese dentro do próprio movimento de esquerda, além do “desencanto” anteriormente citado. Antítese que denuncia o caráter falsamente vanguardista desse posicionamento da “revolução gradual” cuja âncora é a suposta “falta de amadurecimento dos modos de produção”.
A concepção petista é completamente equivocada, e, como se não bastasse, elitista: as condições que produzem a miséria estão aí, produzindo cada vez mais miséria para sobreviver. Em época de crise estrutural do capitalismo essas condições produzem miséria como jamais na em toda a História.
O “amadurecimento” de que tanto falam não somente já ocorreu como também foi estimulado pelas políticas neoliberalizantes dos governos tucanos e petistas, isso em âmbito nacional. No âmbito local as alianças com os setores mais reacionários e sanguessugas da sociedade acreana (especialmente com “empresários” que sempre viveram como parasitas da máquina estatal) só postergaram uma consciência mais crítica em relação à forma vertical de se fazer política.
Enquanto isso, em vários países vizinhos, os movimentos sociais se mobilizam e fazem a sua parte na tomada das instâncias de poder, dando uma verdadeira lição em todos os que se dizem “de esquerda”. Claro, os governos são conseqüência do seu povo, mas nesses países o povo não foi ludibriado com o discurso dúbio que marca o petismo local e nacional. Discurso que prega o pacto entre classes, como se a exploração do homem pelo homem nunca tivesse existido!
As condições que produzem a miséria, seja ela individual, social, ou espiritual continuam as mesmas de épocas passadas. Resistir é um dever, uma exigência moral."
A tendência petista de superdimensionar pessoas, heróis e mitos em detrimento do processo político não é uma tendência recente. É uma herança do autoritarismo coronelista que permeia todas as relações sociais no Acre. É também uma necessidade básica quando você quer uma sociedade mansa, bovina... humilde...
Essa marca autoritária se manifesta nas nossas festas rigidamente controladas, na segregação social, na esterilidade cultural do seringueiro, no servilismo da imprensa, na cultura da segurança pública, no autoritarismo patronal, no paternalismo político, e, finalmente, no mais absoluto terror ao debate com o contraditório.
A principal arma dos que assim procedem é o apelo à "humildade", o que não passa do velho chamamento à submissão pessoal.
Foi provavelmente por isso que, no tal Varal de Idéias, logo após o meu comentário o Marcos Afonso saiu-se com esta, ao comentar uma postagem da repórter Charlene Carvalho:
LINDO COMNTÁRIO, CHARLENE!
A GRATIDÃO!
SENTIMENTO DIFÍCIL DE SER SENTIDO NESSES DIAS ATUAIS.
O RECONHECIMENTO!
POSTURA QUE REQUER HUMILDADES RARAS EM MUITAS DAS NOSSAS ATMOSFERAS .
GRATIDÃO E RECONHECIMENTO!
DOIS SENTIMENTOS DEMONSTRADOS POR VOCÊ AO CARIOCA.
ELE MERECE E VOCÊ TAMBÉM!
BEIJOS!
Sei...
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