segunda-feira, 20 de julho de 2009

TRISTEZA

Não sei de onde tiraram que violência, prostituição, trânsito caótico e outras cositas más resolvem-se com "políticas afirmativas".

Sei que não poderia esperar outra coisa, mas infelizmente eu ousei pensar alto.

Pensei que aqueles barbudos que faziam campanha política em um Fusca velho tinhan visto o suficiente.

Eles viram, mas não aprenderam.

Querem fazer uma "sociedade civil". Querem construir um ideal de cidadania burguesa em um Estado que mal saiu de um modo de produção escravista.

Ou como podemos definir a produção de borracha pelo sistema de aviamento, a não ser como escravidão?

Meu pai e minha mãe foram escravos. Os irmãos de ambos, meus tios e tias, e os pais deles, também.

Viemos para a cidade porque não havia mais condições de sobreviver da seringa. Desde 1945, aliás, nunca mais deu.

Escravos.

Agora o "governo da floresta" quer construir uma sociedade burguesa pelo método de substituição das classes médias urbanas.

Mas existe isso no Acre?

Ou me engano, ou tudo não passa ainda de um enorme seringal?

Um seringal com seus coronéis de barranco, seus palácios ladeados de senzalas, suas sinhás e mucamas, seus feitores e meninos de recados, todos vivendo de aparências?

Para construir uma sociedade burguesa no Acre, supondo que isso fosse possível, seria necessário construir antes uma sociedade.

Aqui o que une as pessoas são vínculos de poder. O amálgama social não é o "Estado de direito", mas a intensidade do poder de coerção de uma pessoa sobre as outras.

Construir uma sociedade burguesa nessas condições é mais que impossível, é loucura!

Uma sociedade burguesa necessita estratificar o corpo social para produzir mão-de-obra excedente, barata o suficiente para dar ímpeto às fábricas nas zonas urbanas, ampliando assim o lucro dos proprietários e maximizando, por meio do trabalho assalariado, a própria produção de pobreza.

Este não é o Acre atual, correto.

Mas este é o Acre ideal, na opinão daqueles que nos governam.

Estão crentes que é o melhor caminho para a construção de uma sociedade digna, justa, democrática.

Que o façam.

Que explodam a violência para níveis animalescos.

Que ampliem o exército de desvalidos, favelados e esfomeados.

Que submetam o povo, o seu povo, à sanha assassina do sistema do capital.

Mas não esqueçam disso: a virtude do futuro é fazer justiça aos loucos do presente.

2 comentários:

Baderneiro Miserável disse...

Emocionante o texto, Josafá.

Mas, então, o que há de se fazer?

Jozafá Batista disse...

Victor, obrigado pela pergunta. Respondendo, eu realmente não sei. De qualquer forma, acho que a única coisa que se pode fazer nesse momento é denunciar, ficar ao lado daqueles que são e serão espoliados. A imprensa não pode mais fazer isso, porque tornou-se balcão de negócios dos proto-burgueses daqui com os governos. Os partidos políticos não passam de siglas-para-disputar-eleições. Os movimentos sociais e sindicatos tornaram-se trampolins para câmaras de vereadores ou cargos no Executivo.
.
A única saída é ficar atento, localizar e denunciar as tsunamis de violência que virão, e que já estão começando. O índice de criminalidade e de tráfico de drogas, por exemplo, explodiram como resultado da ampliação da concentração de renda. Com a crise, isso vai piorar, mas é preciso ficar atento.
.
No mais, não sei o que fazer. Como eu disse, a imprensa é propriedade privada de grupos econômicos interessadíssimos nessas trocas rentáveis com o Poder. E como se não bastasse, muitos jornalistas ainda pensam que o seu dever é narrar a realidade, ao invés de analisá-la.
.
É tudo muito difícil, na minha opinião.