sábado, 17 de abril de 2010

OS PROFESSORES, A GREVE E OS JORNAIS

Na última sexta-feira os professores reuniram-se com a diretoria da SEE para pedir reposição de perdas salariais. Até aí tudo normal, todo sindicato tem essa função. Se cada sindicato tivesse organização e poder de pressão suficientes não haveria risco de precarização dos postos e funções de trabalho ou de subassalariamento dos trabalhadores - que na verdade são os que mantém, com seu trabalho, qualquer máquina funcionando.

A Organização Internacional do Trabalho, a Declaração Internacional dos Direitos do Homem e boa parte das legislações dos países europeus reconhece a preponderância do trabalho na vida social. No trabalho os indivíduos interagem, fazem amigos. É no trabalho onde cada pessoa desenvolve o seu potencial vital: sua capacidade de planejar, organizar e executar tarefas.

Por isso os sindicatos são tão importantes. São os órgãos de negociação legalmente amparados para brigar em nome dos trabalhadores. Numa sociedade em que os meios de produção são privados, onde as pessoas trabalham para outras pessoas e não para si mesmas, é vital a existência de uma organização coletiva. A questão é: se o trabalho é um direito do cidadão - sem trabalho não há como viver - então toda luta sindical é no fundo uma luta pelo direito à existência.

No Acre, onde particularidades político-econômicas tornaram mais atuantes as categorias do setor público, há um processo histórico de desgaste, inanição ou mesmo de desmonte de sindicatos ligados a setores privados. É o caso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre (Sinjac), onde uma categoria extremamente desunida faz questão de não ter qualquer atividade sindical, exceto no mês de dezembro, quando se "une" para disputar o - considerável - Prêmio José Chalub Leite.

Nas negociações salariais, por exemplo, o sindicato dos jornalistas é "representado" unicamente pelo companheiro Marcão, presidente da categoria, e as assembléias são geralmente esvaziadas por falta de quorum.

De onde vem esse comportamento? Obviamente da própria vida material. A atividade jornalística acreana não dispensa a ação sindical, pelo contrário: precisa imensamente dela, sempre precisou, como qualquer categoria. No entanto, o sistema de assalariamento nas redações, a correção dos pisos jornalísticos e otras cositas más sempre foram estabelecidos pelo arbítrio dos patrões e sem a necessidade de negociações coletivas. Com o tempo essa particularidade acabou criando imensas distorções na carreira, concentração de renda, selvageria e grosseria corporativa, assédio moral e coisas do tipo. De crimes contra o trabalhador essas coisas viraram características culturais.

A desorganização sindical entre os jornalistas afeta o tratamento dispensado a outras categorias. É o caso, por exemplo, de quando aum greve de professores, decida em assembléia de forma soberana pelos seus trabalhadores, é tratada como algo que prejudica "o ano letivo".

É óbvio que prejudica!

A intenção é justamente esta. O ponto é que, diferente do professor, o aluno poderá recuperar a matéria que deixou de ser dada durante a greve; basta estudar um pouco mais.


O professor, por sua vez, terá que produzir mais, alienar-se mais, elaborar novas aulas, enfrentar em média 5 turmas de 25 a 30 estudantes cada e ainda participar das reuniões do seu sindicato na esperança de que o governo reconheça o que todo mundo já sabe: que o fundamento da cidadania é a educação. Como em qualquer atividade sindical, a união é a única arma do trabalhador em educação na luta pelo reconhecimento da possibilidade de dar aulas com dignidade. Sem isso, sem professor engajado e sindicato combativo, não tem "ano letivo" que possa ser recuperado.

Tomara que um dia essa informação se torne conhecimento cotidiano, senso comum, entre os jornalistas e no restante da sociedade acreana. Até lá.