segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

TRABALHADORES X COMUNIDADE

Alguém me esclareça uma dúvida: trabalhadores de qualquer categoria não fazem parte da comunidade? Não têm famílias a dar de comer e beber? Não moram na cidade, não pagam IPTU, não VOTAM?

Então como entender a oposição feita por alguns jornais acreanos - de outros Estados também - entre interesses de trabalhadores e interesses da comunidade, todas as vezes que há um protesto sindical? Como se fossem núcleos populacionais distintos?

Até parece que a luta por condições de trabalho para a categoria em mobilização não significa precisamente melhores serviços para todos.

A comunidade que viu o protesto dos motoristas e cobradores de ônibus no Terminal Urbano de Rio Branco na semana passada é na verdade inteiramente formada por trabalhadores de outras categorias, muitas sem sindicatos atuantes. Outras, informais, sequer têm representação sindical.

É evidente que só uma extraordinária necessidade de mistificação da realidade explica tamanho lapso. A mesma necessidade que levou o prefeito, Raimundo Angelim (do Partido dos Trabalhadores!), a dizer, comentando a manifestação supra:

“Agora, o que não podemos admitir é que um grupo pequeno de trabalhadores esteja dificultando este processo, fazendo baderna na cidade. Nossa equipe de articulação tem conversado com todos os setores envolvidos e não tem faltado diálogo. Então, bagunça nós não vamos admitir. Diálogo, sim. Bagunça, não. Porque só quem perde é a comunidade” - declaração do prefeito de Rio Branco (AC), Raimundo Angelim, disponível no site A Gazeta.net e na página da própria Prefeitura. (grifos meus)


Vejam que a polarização entre "comunidade" e "trabalhadores", que parecia exclusividade da mídia - e da direita - está também na fala do prefeito (e, portanto, no seu ideário). A questão, porém, é um pouco mais grave.

Como se explica que um prefeito do Partido dos Trabalhadores (PT) classifique como "bagunça" um protesto de pais e mães de família que foram demitidos injustamente e só querem voltar a trabalhar? Como se explica, se foi o apoio e associação a esse exato tipo de protesto que deu ao PT a chance de chegar aos mais altos postos da política acreana e nacional?

Angelim tem todo o direito aos louvores, gabações, tapinhas nas costas e outras falsidades que desejar, e não tanto por sua - admito - excelente administração. É porque ele logrou obter legalmente, segundo afirma, a readmissão de 70% dos 400 cobradores e motoristas demitidos pela Empresa de Transporte São Roque, por participar de uma greve em 2010.

A questão então é: os 30% que ficarão no olho da rua, sem direito a indenização trabalhista (eles foram enquadrados na demissão por justa causa), devem ser impedidos de fazer a mais mísera baguncinha. Não podem se movimentar para não eclipsar a aura grisalha de seu salvador, que já rebrilha, como sempre, nos nossos digníssimos meios de comunicação.

A conferir: o que vão fazer com os miseráveis que não calarem a boca? Chamar a Polícia Militar pra descer porrada?

O que a comunidade vai achar?




A foto é dos trabalhadores de imprensa lotados na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco.

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