quarta-feira, 1 de setembro de 2010

NELSON RODRIGUES


"Muito antes do primeiro momento eu já achava que só as Forças Armadas podiam salvar o Brasil"

O anticomunismo de Nelson Rodrigues é proverbial. Pode-se inscrevê-lo na herança dos Rodrigues. Mas, como quase tudo nessa tradição familiar, não isento de contradições. O jornal do seu pai, A Manhã, embora afinadíssimo com a República Velha, teve seus laivos esquerdizantes. Foi no começo de 1927, quando Pedro Mota Lima foi, por poucos meses, diretor-substituto do jornal. Nesse período, surgiu uma secção de página inteira cujo título era A Manhã proletária, que cobria as noticiais sindicais. Além disso, Leôncio Basbaum tornou-se crítico literário do jornal e a inflexão à esquerda refletiu-se na primeira página com matérias que usavam expressões como "sabugos do capitalismo" e "a águia do imperialismo ianque crava as suas garras aduncas". Nesse período, a Light era chamada de "o polvo canadense" etc. (CASTRO, 1992: 53-54)

Mas a experiência não prosperou e logo o jornal retomou a sua orientação conservadora. Outro esquerdista que trabalhou em A Manhã foi o gaúcho Aparício Torelli (dito Apporelly), o Barão de Itararé, que, ao sair do jornal do pai de Nelson Rodrigues, criou a sua própria publicação: não por acaso, A Manha.[1]

De Nelson, talvez valha dizer que era um anticomunista amigo de vários comunistas e esquerdistas. Fora colecionando essas amizades ao longo da vida, nas redações dos jornais e nos meios artísticos. Um desses amigos era o comunista João Saldanha, como ele atesta em uma de suas crônicas: "Dos meus amigos atuais, o único que costuma tossir é o João Saldanha". (RODRIGUES, 2007a: 22) Essas amizades fizeram com que ele, ao mesmo tempo em que apoiava a ditadura militar, se empenhasse na defesa de vítimas do regime. Nesse sentido, vale citar Osvaldo Peralva.em O coração imenso de um individualista.

Peralva, que fora dirigente comunista e depois rompera com o partido, relata que Nelson o doutrinava, "fazendo a apologia do individualismo contra o coletivismo, que em suas equações políticas representavam o capitalismo e o socialismo". Peralva confirma que "este antiesquerdista, que xingava Marx e falava mal até de dom Hélder Câmara e Tristão de Ataíde, era amigo de vários esquerdistas". (RODRIGUES, 1993: 283). Peralva registra que, "quando, nos sombrios tempos que se seguiram ao AI-5, a partir de fins de 1968, vários de nós fomos lançados nas masmorras da ditadura, ele era um dos poucos a nos visitar com assiduidade". (RODRIGUES, 1993: 283-284). Quando Peralva teve sua filha presa e o advogado o aconselhou a buscar declarações de pessoas próximas do regime para anexar ao processo dela, ele foi com a mulher à casa de Nelson Rodrigues, pedir-lhe uma declaração.

Primeiro ele quis que eu escrevesse e ele assinaria. Recusada a proposta, pediu que déssemos dados sobre ela. A mãe da garota foi traçando o culto da sua personalidade: primeiro lugar no vestibular para a faculdade, entre mais de mil candidatos. Aos dezessete anos, tradutora de um livro de Hermann Hesse do alemão para o português etc etc. E Nelson anotando as façanhas da pequena princesa. Não hesitou. Escreveu uma bela página, terminando com estas palavras: "Qualquer pai se sentiria orgulhoso de ter uma filha assim". (RODRIGUES, 1993: 284)

Em depoimento na FLIP[2], Augusto Boal testemunhou sobre Nelson Rodrigues: "O principal conselho que me dava e eu me lembro bem, era: ─ 'Deforma!'" E prosseguindo: "Apesar de escrever, mais tarde, uma coluna intitulada 'A Vida Como Ela É', Nelson me aconselhava a deformar a realidade como ela não era, ou pelo menos, mostrar a minha visão da realidade ─ fugir da fotografia". Para arrematar: "Tinha razão: teatro não é a reprodução do real, é a sua transubstanciação. Arte é Metáfora, não cópia servil". (BOAL, 2007: 10)

Nelson deformava a realidade para encená-la e a sua técnica preferida era a hipérbole.

Quando fui preso, em 71, Nelson escreveu duas ou três Crônicas para me inocentar ─ queria ajudar. Ele sabia que, para me defender, tinha que mentir. [...] Nelson era meu amigo e mentiu por minha causa. Obrigado Nelson. Mas exagerou: não é verdade que eu só falasse de teatro, como ele escreveu. Não era verdade que tivéssemos ido juntos ao velório de um amigo comum e que, diante do morto e da viúva, eu continuava falando da minha próxima peça, da minha próxima encenação e do meu próximo livro.

Sou obstinado, obsedado e obcecado pelo que faço, é verdade, mas essa história de falar de teatro em funeral de amigo íntimo, isso nunca foi do meu feitio, não era verdade, e ninguém acreditou. (BOAL, 2007: 11)

Em 18 de março de 1971, Nelson Rodrigues publicou uma crônica, O artista Augusto Boal, na qual dizia que o amigo era "um dos maiores autores e diretores do drama brasileiro". Em seguida, como achasse que isso ainda era pouco, colocava o amigo como "uma das maiores figuras do teatro em toda a América Latina". E prosseguia.

Há coisa de três ou quatro dias soube eu que ele estava preso, em São Paulo. Nada se compara ao meu espanto e nada o descreve. Preso por quê, a troco de quê? Se me perguntarem o que faz o Augusto Boal, darei esta resposta: ─ "Faz teatro". Poderão insistir: ─ "Mas além de teatro?". E eu: ─ "Só teatro". Vamos admitir que o leitor continue: ─ "E o que pensa Augusto Boal?". Minha resposta: ─ "Pensa em teatro". (RODRIGUES, 1995: 188)

Mais adiante, Nelson Rodrigues escreveu a cena do velório que é desmentida por Boal.

Um dia eu o encontrei no velório de um conhecido. Não havia ainda a indignidade dos círios elétricos. Mas enquanto uns discutiam futebol, outros falavam mal do defunto ─ eu e Boal, num canto, cochichávamos sobre teatro. (RODRIGUES, 1995: 189)

Nelson Rodrigues defendeu Augusto Boal, com ardor. E, na defesa do amigo, evocou a própria condição de "revolucionário".

Eu sou, como se sabe, de uma insuspeição total. Venho com a Revolução desde o primeiro momento e antes do primeiro momento. Sim, muito antes do primeiro momento eu já achava que só as Forças Armadas podiam salvar o Brasil. E de fato elas o salvaram. Portanto é como revolucionário que estou dando meu testemunho sobre um homem preso como subversivo. (RODRIGUES, 1995: 190)

Nelson era efetivamente um "revolucionário". Em mais de uma ocasião empunhou sua pena feito um espadachim para sair em defesa da ditadura militar, como nesta crônica, Assassinos suicidas, de 30 de novembro de 1972.

Agora mesmo, uma revista norte-americana católica põe, em sua capa, o seguinte título: ─ "Brasil: ─ onde os cristãos estão fora da lei". É o caso de perguntarmos, uns aos outros, de que Brasil se trata e se é o nosso. Realmente, não há dúvida: ─ é o nosso. Mas os cristãos que, aqui, estão fora da lei são os terroristas; são os padres que conspiram com Marighela e o entregam à polícia; são os anticristãos, os cristãos marxistas, os sacerdotes que continuam na Igreja para melhor traí-la, os assassinos de Deus. (RODRIGUES, 1995: 257)

E, nesta outra, Esporas e penachos, de 28 de janeiro de 1970, tecera loas ao ditador de plantão.

Há anos e anos que eu não digo "pátria". E quando o presidente Garrastazu falou em "minha pátria", experimentei um sentimento intolerável de vergonha. Esse soldado é de uma natureza simples e profunda. Está disposto a tudo para que não façam do Brasil o anti-Brasil. Seja como for, deixará este nome, para sempre: ─ Emílio Garrastazu Médici. (RODRIGUES, 1995: 135]

Nelson tinha um apreço desmedido pela subjetividade. Em suas crônicas pontificava: "os idiotas da objetividade..." E lá se ia com a sua pena inventando a realidade e invectando os eleitos adversários. Entre estes, figuravam, com fartas citações, o pensador católico Alceu de Amoroso Lima (o Tristão de Athayde) e o Arcebispo de Olinda e Recife Dom Helder Câmara, aos quais não podia perdoar a trajetória que evoluíra do conservadorismo ao progressismo. A Dom Helder, ele lançou o epíteto de "o filhote do demônio"[3]. E, sobre Tristão de Athayde, uma das referências menos virulentas está em O mestre fremiu, crônica de 21 de novembro de 1973, na qual escreveu:

Na semana passada, dizia-me um admirador do mestre: ─ "É um menino, Alceu é um menino". Concordei, mas fazendo a ressalva: ─ "Está certo. Mas é preciso não exagerar". Eis o que eu queria dizer: ─ o dr. Alceu exagera além de todos os limites de nossa paciência. (RODRIGUES, 1995: 330)

Mas, se tinha os seus desafetos, tinha também os seus ídolos. Um deles era o pensador católico ultraconservador Gustavo Corção. Aliás, Nelson e Corção foram dos poucos intelectuais de prestígio que aderiram abertamente à ditadura militar. Sobre Corsão, Nelson escreveu, em Grã-fina de narinas de cadáver, de 10 de fevereiro de 1969: "Corção é, precisamente, um dos nossos autores vitais". A referência faz alusão a um artigo em que Gustavo Corção acusava as freiras do Colégio Sion de Petrópolis pelo fechamento do tradicional educandário católico. E Nelson corroborava, denunciando que "as autoras de toda a decadência do Sion de Petrópolis eram as freiras 'pra frente', as 'moderninhas', exiladas de Deus". (RODRIGUES, 1995: 24-25) Outro ídolo era o coronel Andreazza. Sobre este escreveu, entusiasmado, a crônica A grande palavra nova, de 30 de julho de 1973.

Agora mesmo, o ministro Mário Andrezza deu início à construção da Perimetral Norte. Curiosa a figura desse gaúcho. Diga-se, de passagem, que eu não sei se será próprio chamá-lo de gaúcho, apenas gaúcho. Sei que cada um de nós é mineiro, paulista, pernambucano ou cearense. Mas a obra de Andreazza cobre, na verdade, todo o Brasil. Ele faz tanto por todos os estados. Varou o país inteiro com seus caminhos. Atravessa floresta, rios. Sua história e sua lenda estão ligadas ao desenvolvimento brasileiro. [...]

Não sei se essa geração de praia, de uísque, de boteco ideológico, compreende um homem cuja loucura é trabalhar e nunca parar. [...]

Ele sabe que não há nada de efêmero no que faz. Trabalha para sempre. Por exemplo: ─ a Perimetral Norte, que é um gigantesco desafio, faz-se para sempre. (RODRIGUES, 1995: 308)

A visão que Nelson Rodrigues revelou da Amazônia mostrou que, se a convicção democrática dele não valia lá grande coisa, a sua consciência ecológica tampouco era de entusiasmar.

Eis o que estou lendo no discurso de Andreazza, feito na presença do presidente Médici: ─ "A região abrange 1 400 000 km2, correspondente a 15% do Território Nacional, ou seja, estende-se por uma área igual à dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais". Vejam bem: ─ o que era o mais colossal terreno baldio do mundo incorpora-se ao processo do nosso desenvolvimento. (RODRIGUES, 1995: 308)

Beira as raias da comicidade: a Amazônia, para Nelson, "era o mais colossal terreno baldio do mundo" (sic). E concluiu em estilo apoteótico.

Meu espaço está chegando ao fim. Mas eu não queria concluir sem dizer que homens como Andreazza, e obras com a Perimetral Norte, profetizam um Brasil maior que a Rússia e maior que os Estados Unidos. Um dia o mundo ouvirá do Brasil a grande Palavra Nova. (RODRIGUES, 1995: 309)

Todos sabem como está hoje a Transamazônica e ninguém mais ignora o reverso do curriculum vitae[4] do coronel Andreazza. Mas, a quem o contradissesse, ainda que exibindo farta documentação, ele retrucaria com o desprezo que sempre votou aos "idiotas da objetividade".

Na crônica Relâmpagos de curto-circuito, de 21 de fevereiro de 1974, explicitou:

Baseado em toda a minha experiência jornalística, sustento que nada mais falso, nada mais apócrifo, nada mais cínico do que a entrevista verdadeira. Por outras palavras, a entrevista verdadeira é uma sucessão de poses e de máscaras. Ao passo que a "entrevista imaginária", pelo fato de ser irresponsável, não mente jamais. E o leitor fica sabendo de tudo o que o entrevistado pensa, sente e não diz, nem a muque. (RODRIGUES, 1995: 343]

As suas entrevistas eram quase sempre imaginárias, mas há uma que ele transcreveu usando aspas: foi quando entrevistou o general-presidente Emílio Garrastazu Médici. Essa entrevista saiu na crônica Conversas brasileiras, de 9 de maio de 1970.

Arrisco: ─ "Eu ia lhe fazer, presidente, uma pergunta desagradável". Interrompeu: ─ "Faça qualquer pergunta". Começo: ─ "Diz a imprensa européia que a tortura no Brasil foi institucionalizada, que não chega nem a ser uma impiedade, mas uma técnica".

"Não sei se chamarei a isso de ignomínia ou obtusidade. Não, obtusidade não é. É uma ignomínia. Os que procuram degradar o Brasil, ou fora do Brasil, ou aqui dentro, sabem o que fazem e porque o fazem. Vamos aos fatos. É um problema de raciocínio. Houve o seqüestro do embaixador americano. Os terroristas apresentaram uma lista de quinze outros terroristas presos, cuja libertação exigiam. Esperávamos o seqüestro? Tínhamos ciência prévia dois nomes que os criminosos iam selecionar? Óbvio que não. E o Brasil pôde devolver os quinze terroristas intactos, sem um arranhão, inclusive um velho de setenta anos. Em seguida houve o caso do cônsul japonês. Os terroristas exigiram cinco outros terroristas presos. Deviam estar massacrados, se acaso a tortura estivesse institucionalizada. E que viu o Brasil, e que viu o mundo? Viram que os prisioneiros não tinham marca de nenhuma violência física. Vinte terroristas que saíram do Brasil e, repito, intactos, sem um arranhão. Quero que me digam: ─ e a tortura? Alguns não queriam nem sair do Brasil. O caso da freira, que se diz inocente. Curiosa inocência que recebe e esconde armas de terroristas, armas que vão assassinar brasileiros. Ela foi outra, que não queria sair do Brasil. Segundo vil campanha que fazem contra nós, os únicos que não usam a violência nem praticam o terrorismo são, precisamente, os terroristas. Chamam-se terroristas, não se sabe por quê. Mas são ótimos assassinos, excelentes seqüestradores, assaltantes da melhor qualidade." (RODRIGUES, 1995: 155)

Pelo visto, ao considerar "nada mais apócrifo, nada mais cínico do que a entrevista verdadeira", talvez Nelson estivesse cometendo um ato falho.

Numa de suas crônicas, Grã-fina das narinas de cadáver, de 10 de fevereiro de 1969, quer dizer, pouco depois do AI-5, escreveu sem acanhamento:

Hoje temos a sensação de que as passeatas são mais antigas do que a primeira batalha do Marne, mais antigas do que o último baile da Ilha Fiscal. E quando havia uma, era uma festa para as freiras "moderninhas". Acontecia esta coisa prodigiosa: ─ elas, que andavam de minissaia, só punham o hábito para ir à passeata. (RODRIGUES, 1995: 25)

Mais desinibido do que ele, só mesmo as tais freiras "que andavam de minissaia".

Em outra, A folha de parreira, de 15 de agosto de 1973, relatou uma missa de nudistas, celebrada por um padre que só não se desnudara por completo porque conservara os óculos.

Mas se há pouco houve uma missa num campo nudista, tudo é permitido. Imaginem vocês que morrera um dos nus. Seus companheiros mandaram realizar um missa de sétimo dia. Mas insinuou-se a dúvida: ─ O padre devia despir-se ou não? O sacerdote era progressista e não se recusava a tirar a roupa. Mas usava óculos e não o que fazer dos óculos. O gerente do campo nudista sugeriu: ─ "Tira". O padre despiu-se com a maior naturalidade. Perguntaram: ─ "E os óculos?". O sacerdote vacila. Por fim, decide: ─ "Os óculos não tiro". Não deixava de ser meio surpreendente aquela nudez míope, que precisava de lentes fortíssimas. O gerente pergunta: ─ "Os sapatos, o senhor tira?". Pigarreia: ─ "Os sapatos, sim". E, realmente, os tirou. Descalço, nu e de óculos. Um dos nudistas insiste: ─ "Se eu fosse o senhor, tirava os óculos". O santo começou a se irritar: ─ "Nunca!". Só então os outros entenderam o padre. Os óculos eram a sua folha de parreira. (RODRIGUES, 1995: 313)

Há muitas outras crônicas repletas de invectivas contra o clero progressista, mas uma das mais inverossímeis, Simpatia insuportável, foi escrita em 10 de novembro de 1973.

Eu ia escrever sobre um espantoso programa de televisão. Fora um debate veemente sobre Educação Sexual. Falaram psicólogos, jornalistas, sociólogos, sacerdotes, pais de família. Um padre de passeata berrava: ─ "Abaixo o Amor e viva o Sexo. Amor é literatura. Sexo é vida. O Sexo não precisa de amor pra nada". Pára, arquejante. Arranca um lenço e enxuga a testa alagada. Desliguei. (RODRIGUES, 1995: 325)

Nelson Rodrigues não tinha pejo em mentir. A sua crônica, embora o leitor nem sempre fosse alertado para isto, é, nesse sentido, ficcional. Ficcional como as suas peças teatrais e os seus romances; mas as semelhanças não param aí. Toda a obra escrita de Nelson é em grande parte voltada para a polêmica contingente. Nelson fazia questão de embaralhar ficção e realidade. Não é à toa que sua peça leva o título de Otto Lara Resende ou bonitinha, mas ordinária. A crônica, porém, mais do que o texto teatral ou o romance, é um gênero que se presta ao combate ideológico imediato, quando não à luta abertamente política. E aí se pode argüir uma questão ética nesse procedimento de ficção embaralhada, sobretudo se levarmos em conta o período histórico, que, como se sabe, estava marcado pela repressão e pela censura. Mais do que um discurso (no caso, sem contraditório), as crônicas de Nelson (o teatro e o romance também, mas de forma atenuada) são acontecimentos discursivos.

Foucault diz que "os acontecimentos discursivos devem ser tratados como séries homogêneas, mas descontínuas umas em relação às outras". (FOUCAULT, 2004: 58) E que a análise do discurso focada no acontecimento discursivo "consiste em tratar, não das representações que pode haver por trás dos discursos, mas dos discursos como séries regulares e distintas de acontecimentos", implicando "o acaso, o descontínuo e a materialidade". (FOUCAULT , 2004: 59)

Podemos exemplificar com o conceito contemporâneo de neoliberalismo. Como se sabe, à política de desmonte do Estado (como agência econômica, de prestação de serviços públicos e de proteção social), de desregulamentação do mercado e retirada das barreiras protecionistas, de precarização das relações trabalhistas e do emprego deu-se o nome de neoliberalismo. Trata-se da velha ideologia liberal, que correspondia à época do capitalismo de livre concorrência, só que ressurgida em condições históricas de crescente monopolização da economia, dos meios de comunicação de massa e da indústria cultural, apontando não para o pluralismo, mas para a homogeneização, a massificação, a uniformização do consumo de descartáveis, a tendência ao pensamento único. O enunciado do discurso é o mesmo, mas o acontecimento discursivo é outro.

Aqui importa sobretudo a materialidade da crônica de Nelson, seu caráter performático, sua força justificadora e mistificadora naquele contexto histórico.

Nelson descartava os psicólogos e os psicanalistas, mas prezava os médicos. Talvez porque houvesse sofrido vários infartos, valorizava, sobretudo, o cardiologista, que, para ele, não era um médico como qualquer outro, mas uma espécie de milagreiro.

Aquele que não acredita na ressurreição de Lázaro não deve tentar a medicina. E o cardiologista, sobretudo, que lida com a morte diretamente, que vê a morte cara a cara, o cardiologista, dizia eu, precisa admitir todas as possibilidades e mais esta: ─ o milagre. (RODRIGUES, 1995: 300)

Essa valorização do médico vem junto com uma atitude de repúdio à socialização da medicina. Em O trem fantástico, crônica de 6 de outubro de 1973, interpelado pela "estagiária de calcanhar sujo", ele é peremptório.

Fala [a estagiária de calcanhar sujo]: ─ "O senhor é contra ou favor da socialização da medicina?". Fui quase feroz: ─ "Absolutamente contra". Tomou um susto: ─ "Contra por quê?". Tratei de explicar-lhe que a medicina não existe sem misericórdia. E eu não acreditava, nem a tiro, na misericórdia oficial. Só são Francisco de Assis, se médico fosse, podia resistir à socialização. (RODRIGUES, 1995: 314)

Não é que ele não se compadecesse do desamparo dos pobres no sistema da medicina privada, mas a sua posição contra a socialização da medicina era uma questão de princípio. Ele explicava que "a socialização cria uma responsabilidade difusa, volatilizada, que não tem nome, nem cara, nem se individualiza nunca." (RODRIGUES, 1995: 316)

Como se vê, o que Nelson não suportava era a relação de impessoalidade que se estabelece em qualquer regime de direito. Para ele, a assistência médica para os pobres deveria ser um gesto de compaixão, de caridade, no quadro das relações interpessoais; não um direito universal, anônimo. Porque o que conta são os laços pessoais, os favores e a afetividade.

Isso bate com a observação de Sérgio Buarque de Holanda que, em Raízes do Brasil, aponta para a precariedade da solidariedade social entre os ibéricos: "essa solidariedade, entre eles, existe somente onde há vinculação de sentimentos mais do que relações de interesse ─ no recinto doméstico ou entre amigos". Como explica o autor: "Círculos forçosamente restritos, particularistas e antes inimigos que favorecedores das associações estabelecidas sobre plano mais vasto, gremial ou nacional". (HOLANDA, 1995: 39)

Sergio Buarque de Holanda postula que, "no caso brasileiro, nos associa à península Ibérica, a Portugal especialmente, uma tradição longa e viva, bastante viva para nutrir, até hoje, uma alma comum, a despeito de tudo que nos separa". E mais: "podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma". (HOLANDA, 1995: 40)

Nesse sentido, Nelson também é ibérico: ele não poderia aceitar os valores de um regime que privilegia o mérito, a eficiência, a competência, vale dizer, a impessoalidade do mercado, o anonimato das relações sociais.

Como observa Sergio Buarque de Holanda, há em Espanha e Portugal "certa incapacidade, que se diria congênita, de fazer prevalecer qualquer forma de ordenação impessoal e mecânica sobre as relações de caráter orgânico e comunal, como o são as que se fundam no parentesco, na vizinhança e na amizade". (HOLANDA, 1995: 137) Esse traço pré-capitalista é característico da mentalidade de classe média na formação social brasileira.

Mas se refuga os valores burgueses, ele abomina o marxismo e as esquerdas. Em Um pesadelo com cem mil defuntos, crônica de 11 de fevereiro de 1969, portanto pouco depois da decretação do AI-5, se comprazia em imaginar que um avião lançara uma bomba atômica sobre a passeata dos cem mil (que ele dizia ter 50 ou 25 mil manifestantes).

Passa um avião [sobre a passeata dos cem mil] e atira a bomba [atômica] no momento em que, obedientes à palavra de ordem, os Cem Mil sentaram-se. E, então, todos morreriam confortavelmente sentados. [...] Neste caso as vítimas seriam as chamadas classes dominantes. Eis o Brasil sem elas, as classes dominantes. E, então, sim, os favelados, os negros, os torcedores do Flamengo, os desdentados, as mães plebéias, os paus-d'água anônimos ─ seriam donos de tudo. E cada qual teria, em seu automóvel, uma cascata artificial, com filhote de jacaré. (RODRIGUES, 1995: 30)

A ameaça que se vislumbra é a ascensão das classes subalternas: "seriam donos de tudo" (o socialismo?). E o horror maior seria a implantação da estética kitsch[5]: "cada qual teria, em seu automóvel, uma cascata artificial, com filhote de jacaré". Nelson aterrorizava a consciência de classe média com os espantalhos da perda dos seus bens e da soberania do mau gosto popular. O valor da denúncia que aqui se faz do kitsch é puramente retórico, pois como se sabe, Nelson expressa muito do kitsch em seus textos. Isso só reforça o caráter manipulador de sua crônica: ela vai endereçada ao público de classe média, buscando um efeito político imediato, ao contrário do seu teatro, que parece dirigir-se a uma crítica culta, esclarecida e, muitas vezes, de tendências esquerdistas.

Aliás, em uma crônica de 21 de maio de 1969, O pesadelo humorístico, Nelson escreve, com desconsolo, que "nada mais XIX do que o século XX." Para ele, "o grande acontecimento do século XIX foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota." RODRIGUES, 1995: 71) E afirma que "deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobrem que são em maior número e sentem a embriaguez da onipotência numérica." (RODRIGUES, 1995: 72)

Praticamente a mesma argumentação que usara nesta crônica de 1969, ele vai repetir em outra, de 3 de outubro de 1973, O filhote do demônio.

Neste final de século, o homem está passando por uma experiência inédita. Não sei se entendem. O que quero dizer é que, pela primeira vez, conhecemos uma época idiota. [...]

Há 40 mil anos, o homem é homem. Antes, o homem era um sólido quadrúpede e urrava no bosque. Continuemos: ─ desde que o homem se tornou um ser histórico, a população da Terra assim se dividiu: ─ de um lado, uns dez sujeitos, que podemos chamar "superiores", de outro lado, milhares de outros sujeitos, que podemos chamar de "idiotas".

O equilíbrio do mundo ia depender da submissão dos idiotas aos superiores. E, para nossa felicidade, foi exatamente o que aconteceu. Só os superiores pensavam, sentiam, agiam. Só eles tinham vida política. Perguntará o leitor, num desolado escândalo: ─ "E os idiotas não faziam nada?". Faziam os filhos, o que era, como se vê, um papel nobilíssimo, que iria assegurar a continuidade da espécie.

E assim o mundo pôde ser organizado superiormente. Jamais os idiotas tentaram contestar os "melhores". Vocês percebem? O idiota era o primeiro a saber-se idiota e como tal se comportava. Até que, de repente, o idiota transborda dos seus estreitos limites. (RODRIGUES, 1995: 318)

Está aí o que ele não poderia perdoar em Marx. Isso vem corroborar a tese de Leandro Konder que, no artigo "A Unidade da Direita", publicado no Jornal da República de 20/09/1979, citando pensadores como Farias Brito, Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, Miguel Reale, Francisco Campos, Eugênio Gudin e outros, conclui que

"O pluralismo da ideologia da direita pressupõe uma unidade substancial profunda, inabalável: todas as correntes conservadoras, religiosas ou leigas, otimistas ou pessimistas, metafísicas ou sociológicas, moralistas ou cínicas, cientificistas ou místicas, concordam em um determinado ponto essencial. Isto é: em impedir que as massas populares se organizem, reivindiquem, façam política e criem uma verdadeira democracia". (Apub COUTINHO, 1980: 75)

Mas as objeções de Nelson a Marx não estavam só nesse elitismo deslavado. Ele também alegava motivos mais respeitáveis: razões religiosas. Em Pisado até morrer, de 21 de fevereiro de 1971, escreveu:

Lembro-me de que, em dado momento, perguntei ao Otto sobre Marx. E meu amigo foi taxativo. Na sua opinião faltava aos escritos de Marx a dimensão da morte. Concordei, imediatamente. Juntamos nossas vozes para reclamar, do marxismo, a alma imortal que ele nos tirara. (RODRIGUES, 1995: 184)

Já tivemos a ocasião de analisar essas objeções e de reconhecer até certo ponto a agudeza delas.

Dissemos no início desse capítulo que o proverbial anticomunismo de Nelson Rodrigues não estava livre de contradições. No rol destas, apontamos a amizade com comunistas e esquerdistas e o fato dessas amizades o terem levado a defender vítimas do regime militar que ele apoiava. Essas incoerências, no entanto, são coerentes do ponto de vista da esfera do afeto. Mas há outro tipo de incoerência, que não se explica com facilidade. É a incoerência entre a sua crônica política e o seu teatro. Nesse sentido, ganham relevo dois personagens coadjuvantes de Toda nudez será castigada. Esses personagens são tipos: o padre e o médico. No caso, o padre Nicolau, conservador, mentor espiritual da família, é uma personagem negativa na peça; ao passo que o médico, de esquerda, agnóstico, é a única personagem positiva, que oferece conselhos sensatos a Herculano. Herculano deixa-se vencer pelo desejo representado por Geni.. Serginho, o filho casto, seduz a mulher do pai e se apaixona pelo ladrão boliviano que o estuprou na cadeia. Patrício, irmão de Herculano, é o próprio canalha. As tias castas são três taradas pelo sobrinho e se deixam corromper, aceitando a prostituta Geni como esposa de Herculano, para continuarem sendo sustentadas por ele. Nessa peça, a família apodrece e todos os personagens estão metidos nessa podridão, inclusive o padre Nicolau, muito mais preocupado com os seus batizados, com as formalidades do culto, do que atento aos problemas humanos e espirituais de seus fiéis. Só uma personagem se salva: o médico, ateu e esquerdista.

Como já tivemos a ocasião de apontar, essa incongruência entre a sua crônica, de combate político, e o seu teatro, que se quer arte, talvez revele a diferença de leitor ideal, hipotético, que ele elege para uma e outra: a classe média conservadora, na crônica; e a crítica intelectual, povoada por críticos de esquerda, no teatro.

Vale uma notação sobre o propalado divórcio entre as esquerdas e as classes populares, tema tão caro a Nelson em suas crônicas. Até o golpe militar de 64 massacrar o movimento popular e conseguir dispersá-lo por meio da mais brutal repressão policial, não havia esse abismo entre a vanguarda e as massas. Pelo contrário, as massas populares estavam mobilizadas, organizadas no CGT, no PUA, nas Ligas Camponeses etc. e lutavam pelas reformas de base. De modo que não tem o menor cabimento apontar para uma pretensa incompatibilidade entre a esquerda e as camadas populares. Está claro que o incômodo de Nelson com os salões da zona sul e com a elitizada PUC era tanto os esquerdistas como os liberais, que juntos conformavam a resistência democrática, o movimento de repúdio à ditadura militar que ele, quase solitário, ao lado de Gustavo Corção, representava na esfera intelectual.

As crônicas políticas de Nelson Rodrigues são acontecimentos discursivos manipuladores da mentalidade conservadora da classe média, com o fito de justificar e reforçar os padrões ideológicos que dão apoio à práxis da ditadura militar. Nesse sentido, não seria abusivo enquadrá-las como parte das operações de guerra psicológica adversa para minar a resistência democrática.
A despeito disso, no entanto, a ideologia anticomunista de Nelson Rodriguês não é uma mera quimera reacionária. Ou melhor, é uma quimera reacionária, mas com alguma consistência em dados reais, como de resto soem ser as construções ideológicas em geral e, em particular, os pesadelos fantasmagóricos do anticomunismo ocidental. Vai nesse sentido a pertinência da observação de Terry Eagleton: "o anticomunismo ocidental é, com bastante frequência, uma apologia interesseira dos direitos de propriedade do Ocidente, mas trata-se algumas vezes de um protesto genuíno contra o caráter repressivo das sociedade pós-capitalistas". (EAGLETON, 1997: 56)

Notas:
[1] "Em 1926, Apporelly, já conhecido, resolveu lançar seu próprio jornal. Intitulou-o A Manha (aludindo ao nome A Manhã, que era o de um dos jornais mais influentes, na época)." (KONDER, 1983b: 14)

[2] Festa Literária Internacional de Paraty

[3] Ver a crônica O filhote do demônio, de 3 de outubro de 1973 (RODRIGUES, 1995, p. 318)

[4] Leandro Konder sublinha que o curriculum vitae "é o elemento mais ostensivo de uma ideologia que nos envolve e nos educa nos princípios do mercado capitalista". (KONDER, 1983a:125) Por isso, ele postula o "curriculum mortis" como a necessária "'complementação negativa' para o curriculum vitae". (KONDER, 1983a: 128)

[5] Kitsch equivale a lixo cultural. É o estilo artístico ou a tendência estética "que se caracteriza pelo exagero sentimentalista, melodramático ou sensacionalista, freqüentemente com a predileção pelo gosto mediano ou majoritário, e com a pretensão de, fazendo uso de estereótipos e chavões inautênticos, encarnar valores da tradição cultural". (HOUAISS) É o "estilo, ou material artístico, literário, etc., considerado como de má qualidade, em geral de cunho sensacionalista ou imediatista, e produzido com o especial propósito de apelar para o gosto popular". (AURÉLIO)

Referências Bibliográficas

ALENCAR, José de. Ubirajara. São Paulo: Martin Claret, 2002.

ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. 29. e. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993.

ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. In CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da literatura brasileira: história e crítica. 14. e. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil., 2005, p. 79-89.

ARANTES, Paulo Eduardo. Vida e obra. In ADORNO, W. Theodor. Textos Escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 2005

ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Baby Abrão. In: ______. Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

ASSIS, Machado. Crítica & Variedades. São Paulo: Globo, 1997 (Obras completas)

BAKHTIN, Mikhail. Formas de tempo e de cronotopo no romance: ensaios de poética histórica In ______. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini et al. 5. e. São Paulo: Hucitec: Annablume, 2002

______. Os estudos literários hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In ______. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. Prefácio de Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003a.

______. Metodologia das ciências humanas. In ______. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. Prefácio de Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003b.

______. O autor e a personagem na atividade estética. In ______. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. Prefácio de Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003c.

______. O freudismo: um esboço crítico. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Perspectiva, 2004.

_____. Problemas da Poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

BALZAC, Honoré de. A comédia humana. Tradução de Paulo Rónai, Vidal de Oliveira, Gomes da Silveira, Brito Broca, Mário Quintana. Rio de Janeiro: Globo, 17 v.

BARTHES, Roland. S/Z: uma análise da novela Sarrasine de Honoré de Balzac. Tradução de Néa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992

______. O prazer do texto. Tradução de J. Guinsburg. 3. e. São Paulo: Perspectiva, 2002

BENJAMIN, Walter. Franz Kafka: a propósito do décimo aniversário de sua morte. In ______. Obras escolhidas. Vol. 1. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Cagnebin. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 137-164.

______. A obra de arte na era de sua reprodutilibilidade técnica. In ______. Obras escolhidas. Vol. 1. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Cagnebin. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 165-196.

______. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In ______. Obras escolhidas. Vol. 1. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Cagnebin. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução Paulo Felipe Moisés, Ana Maria L. Ioriatri. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BESSE, Susan K. Modernizando a desigualdade: reestruturação da ideologia de gênero no Brasil (1914-1940). Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Edusp, 1999

BLOCH, Ernst. O princípio esperança. Vol. 1. Tradução de Nélio Schneider. Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2005.

BOAL, Augusto. Nelson Rodrigues. Mesa Redonda #3, Festa Literária Internacional de Paraty, FLIP, 5 de julho de 2007.

BOURDIEU, Pierre. As contradições da herança. Tradução de Enid Abreu Dobránzky. In LINS, Daniel S. (org.). Cultura e subjetividade: saberes nômades. Campinas, SP: Papirus, 1997.

BRAGA, Flávio. O Mago de São Sebastião. Rio de Janeiro: Irradiação Cultural, 1996

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. II. 7.e. Petrópolis (RJ): Vozes, 1996

CAMPOS, Haroldo. Poesia e modernidade: Da morte do verso à constelação. O poema pós-utópico." In _____. O arco-íris branco: ensaios de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da literatura brasileira: história e crítica. V. 2. Modernismo. 11.e. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

CASTRO, Ruy. O anjo pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CHARAUDEAU, Patrick; Maingueneau, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Coordenação da tradução de Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 12. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Primeiros Passos)

CLARK, Katerina; HOLQUIST, Michael. Mikhail Bakhtin. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1998

COUTINHO, Carlos Nelson. A democracia como valor universal. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1980.

______. Cultura e sociedade no Brasil: ensaios sobre idéias e formas. 3. e. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Tradução de Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005.

DOSTOIEVSKI, Fiódor. Os irmãos Karamazovi. Tradução de Alexandre Boris Popov, São Paulo: Martin Claret, 2005.

EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Luís Carlos Borges e Silvana Vieira. São Paulo: Editora UNESP; Editora Boitempo, 1997.

______. As ilusões do pós-modernismo. Tradução de Elisabeth Barbosa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

______. Teoria da literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. 5. e. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FACINA, Adriana. Santos e canalhas: uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 10. e., São Paulo: Loyola, 2004

FREUD, Sigmund. Os chistes e as espécies do cômico. In Edição eletrônica brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, s/d a

______. Humor. In Edição eletrônica brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, s/d b

______. Os motivos dos chistes: os chistes como processo social. In Edição eletrônica brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, s/d c

______. O estranho (1919). Arquivo digital sem referências.

FUNDAÇÃO LAURO CAMPOS, Campanha ignóbil, 13/04/2008, http://www.socialismo.org.br/portal/comunicacao-social/89-artigo/341-campanha-ignobil

GRAMSCI, Antonio. Letteratura e vita nazionale. Torino: Editori Riuniti, 1975.

GRAMSCI, Antonio. Passato e presente. Roma: Editori Riuniti, 1977.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. e. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime. 2. e. Tradução e notas de Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 2004.

JAMESON, Frederic. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno. Tradução de Carolina Araújo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

KONDER, Leandro. As artes da palavra: elementos para uma poética marxista. São Paulo: Boitempo, 2005.

______. O "curriculum mortis" e a reabilitação da autocrítica. In Presença, 1, Rio de Janeiro: Editora Caetés, novembro de 1983a, p. 125- 130.

______. Barão de Itararé: o humorista da democracia. São Paulo: Brasiliense, 1983b.

______. Sobre o amor. São Paulo: Boitempo, 2007.

______. Memórias de um intelectual comunista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. Tradução de Maria Carlota Carvalho Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

LÊNIN, V. I. Nouvelles Données sur les Lois du Dévelopement du Capitalisme dans l'Agriculture. In Oeuvres, vol. 22. Tradução francesa. Paris: Editions Sociales; Moscou: Editions em Langues Etrangeres, 1960

LIMA, Luiz Costa. Mímesis e modernidade: formas das sombras. 2. e. São Paulo: Paz e Terra, 2003

_____. Mímesis: desafio ao pensamento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

LINS, Ronaldo Lima. O teatro de Nelson Rodrigues: uma realidade em agonia. Rio de Janeiro: Francisco Alves; Brasília: INL, 1979.

LOPES, Angela Leite. Nelson Rodrigues: trágico, então moderno. 2. e. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2007.

LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. São Paulo: Editora 34, 2000.

MAGALDI, Sábato. Nelson Rodrigues: dramaturgia e encenações. São Paulo: Perspectiva; Editora da Universidade de São Paulo, 1987.

MARX, Karl. Les luttes de classes en France. Le 18 Brumaire de Luis Bonaparte. Paris: Éditions sociales, 1965.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Tradução de Frank Müller. São Paulo: Martin Claret, 2005. (A Obra-Prima de Cada Autor)

______. Manifesto do Partido Comunista. Comentado por Chico Alencar. 3.e. Rio de Janeiro: Garamond, 2001

MOLES, Abraham. O kitsch: a arte da felicidade. Tradução de Sergio Miceli. São Paulo: Perspectiva, 2007.

NASCIMENTO, Evando. Derrida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004

PEREIRA, Victor Hugo Adler. Nelson Rodrigues e a obs-cena contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.

_____. A musa carrancuda: teatro e poder no Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

PONDÉ, Luiz Felipe. Crítica e profecia: a filosofia da religião em Dostoievski. São Paulo: Ed. 34, 2003.

RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 1984.

RODRIGUES, Nelson. O reacionário: memórias e confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995

______. O óbvio ululante: as primeiras confissões. Rio de Janeiro: Agir, 2007a.

______. A cabra vadia: novas confissões. Rio de Janeiro: Agir, 2007b.

______. O berro impresso das manchetes. Rio de Janeiro: Agir, 2007c.

______. Elas gostam de apanhar. Rio de Janeiro: Agir, 2007d.

______. Teatro completo. Organização e prefácio de Sábato Magaldi. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.

ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Record, s/d (Mestres da Literatura Contemporânea)

SCHÜLER, Donaldo. Teoria do romance. 1. ed. São Paulo: Ática, 2000. (Fundamentos)

SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 1977

SOARES, Arlete. Prefácio à 1a edição. In VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Tradução de Maria Aparecida da Nóbrega. 5. ed. Salvador: Corrupio, 1997.

STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Tradução de Cekeste Aída Galeão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

TABUCCHI, Antonio. Afirma Pereira. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

TEZZA, Cristovão. Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003

TRINDADE, Camila. Cem anos de Solano Trindade. 29/08/2008. In http://www.socialismo.org.br/portal/arte-cultura/78-noticia/523-cem-anos-de-solano-trindade

VIANNA FILHO, Oduvaldo. Vianninha - teatro, televisão, política (artigos, entrevistas e textos inéditos). Seleção, organização e notas de Fernando Peixoto, 2ª edição, Editora Brasiliense, SP, 1983.

VIGOTSKI, Lev Semeniovich. A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca. Tradução de Paulo Bezarra. São Paulo: Martins Fontes, 1999a

______. Psicologia da arte. Tradução de Paulo Bezarra. São Paulo: Martins Fontes, 1999b.

WILSON, Edmund. Rumo à estação Finlândia: escritores e atores da história. Tradução de Paulo Henriques Brito. Prefácio de Jed Perl. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

ZERNOV, Nicholas. The Russian Religious Renaissance of the Twentieth Century, Londres: Darton, Longman, and Todd, 1963.

Um comentário:

Wander disse...

A esse esforçado texto não pode deixar de ser acrescentada uma das maiores "perolas" de Nelson Rodrigues que, pelo seu conteúdo nocivo à imagem para a posteridade que ele próprio pretendia deixar, não pode, evidentemente, ser exposta por escrito, mas, não escapou daqueles que indignados assistiram a algumas aparicões do mesmo na TV de então a dizer em alto e bom som:
"A mulher gosta de apanhar"
Os violentos contra a mulher, em todas as épocas, a partir de Nelson Rodrigues, passaram a ter o seu patrono.