segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

DO GADO DA RESERVA EXTRATIVISTA AO GADO DO RODEIO

Por sua natureza, o Estado precisa inventar heróis. No Acre, seria diferente? Entre árvores copadas, em plena Floresta Amazônica, surge um herói com farda e patente para militarizar a virtude. Outro herói emerge entre árvores depois que os gringos o projetaram para o mundo. Plácido de Castro, idealizado pela propaganda de Estado, e Chico Mendes, modelado pela comunicação de massa, não só se opõem como também deformam o que Mário de Andrade e Oswald de Andrade pensaram sobre a identidade de um povo, sobre a imagem de uma cultura.

Por meio de seus heróis, o Estado quer convencer, educar, disciplinar, ordenar e, por outro lado, tende a propagar uma ideologia que pode aborrecer ou irritar. A cultura do Estado é forçada, quer adaptar o público à sua cultura. Se tais heróis aborrecem, se eles irritam, é porque não foram germinados no solo fértil da cultura popular.

Zumbi dos Palmares, degolado em 20 de novembro de 1695. O negro jamais colocou seu herói em uma procissão cristã e nunca precisou do Estado ao longo da história para patrocinar sua lembrança. O passado do negro permanece intensamente vivo porque sua cultura, encarnada em seu corpo, dança, musicaliza, canta, veste-se e exporta moda, ou seja, sua cultura cicatrizou-se no modo ser, de existir, de falar.


Continue lendo no blog Língua, de Aldo Nascimento.

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