segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

CAPITALISMO DE TRAGÉDIA

Corria o ano de 1987 quando a Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU publicou, após sete anos de longos estudos e difíceis reflexões, o relatório Our Common Future ("Nosso Futuro Comum") alertando sobre a iminente escassez dos recursos naturais causada pela exploração, o aumento de catástrofes naturais daí advindas (deslizamentos de encostas, enchentes, tsunamis e afins) e a tendência de ampliação da violência como resultado desses dois fenômenos.

Antes dele, em 1968, o Clube de Roma contratou especialistas do prestigiado MIT para elaborar e publicar outro relatório, The Limits to Growth ("Os Limites do Crescimento"), que foi a público em 1972. A conclusão do MIT: "Utilizando modelos matemáticos, pode-se afirmar sem espaço para dúvidas que o Planeta Terra não suportará o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico."

Dificilmente algo é tão igualmente óbvio para o senso comum e o mundo científico quanto a vocação do capitalismo para a tragédia. No meu caso, o horror e a solidariedade que me invadem diante das cenas dos deslizamentos no Rio de Janeiro são os mesmos que sinto durante as enchentes do rio Acre, em Rio Branco, ou do rio Tocantins, em Imperatriz (MA), de onde escrevo agora.

Em comum, esses e outros episódios têm vítimas definidas (joões, marias e josés que perdem pertences, cônjuges, pais, avós, bebês de colo etc) e algozes aparentemente indefinidos. Põe-se a culpa no Estado, em Deus, na "mãe natureza" e se esquece de pensar no óbvio. É como se a pressão desenvolvimentista sobre os ecossistemas, a escassez de recursos naturais, o aumento de catástrofes ambientais e a disputa quase sempre violenta pelos poucos quinhões de petróleo, água e mão-de-obra empobrecida em todo o mundo não fossem partes do mesmo processo econômico.

Em benefício do modo de vida que levamos, aprendemos a fechar os olhos para os males que ele mesmo trouxe. Afinal, quando compramos uma camisa de marca não queremos pensar nas crianças filipinas subassalariadas que a fabricaram. A luta de camponeses e indígenas contra madeireiras estrangeiras em suas terras não nos comove quando queremos mesmo é uma bela mesa de mogno. É preciso que "o sistema" dê, ele mesmo, sinais claros e indiscutíveis do perigo que representa para pensarmos, atabalhoadamente, em algo (alguns nem assim).

Mas não podemos mais ser ignorantes a esse respeito. Para se constituir como modo de produção único em todo o mundo, o capitalismo matou sistematicamente milhões de pessoas desde os trabalhadores da Primeira Revolução Industrial. Crianças, adolescentes, mulheres e homens que morreram sufocados ou extenuados nas minas de carvão tornaram-se as testemunhas mudas dos primeiros atos genocidas de uma ordem fundada na compra de trabalho humano.

Hoje, o esgotamento dos recursos mundiais está forçando o capitalismo a tentar destruir as mais diversas formas de vida, inclusive a humana, no esforço para manter a lógica da acumulação de trabalho que garante riqueza para os que o compram, claro, mas que também alastra a miséria entre aqueles que o vendem - as vítimas das tragédias "naturais", populações despossuídas de capital para comprar casas em lugares melhores ou mais seguros, estão nesse grupo.

Vamos esperar pra ver no que dá? A ordem capitalista é fundada no trabalho alheio e exige que se avance sobre a natureza para produzir mercadorias.

A própria ladainha desenvolvimentista, tão na moda entre empreendedores de meia pataca e pseudo-intelectuais nas províncias atrasadas de qualquer lugar do Brasil, não esconde a sua velha ânsia de dominar e transformar a natureza em business, distribuindo simultaneamente riqueza e pobreza. No caminho, as mais diversas formas de desastres "naturais" nos aguardam ansiosamente, em nome do progresso, da família e do bem-estar geral...

Alguém já viu esse filme?

2 comentários:

Coletivo Marxista do PT disse...

Apontamentos sempre precisos meu camarada.


Abraços!

Emilio Reis disse...

Josafá, vc colocou um enigma, mas não deu a resposta. Como vc acha que isso pd ser resolvido? As pessoas precisam de coisas seja no capitalismo seja no socialismo, e a população mundial vai aumentar tanto num qto no outro. Não sei mto bem, mas parece que houve tragédias ambientais também na antiga URSS. Como fica isso? Ou vc acha que todos devem apertar o cinto e consumir menos? Isso jã não pd ser feito já no capitalismo com o desenvolvimento sustentável? Desculpe se estou sendo chato, é que não entendi a mensagem muito bem. Abraços calorosos!