segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A GAZETA EM CUBA

Antes de começar a escrever quero recomendar que o leitor clique nos links disponibilizados ao longo do texto, especialmente em caso de dúvidas. Eles funcionam como notas de rodapé e devem ajudar na compreensão de pontos obscuros ou polêmicos.


Excelente a matéria de A Gazeta feita pelo jornalista Nelson Liano Jr. sobre a experiência socialista em Cuba. Digo "experiência socialista" porque pra mim é muito claro que o bloqueio norte-americano, condenado 19 vezes pela ONU sempre por esmagadora maioria da assembléia geral, prejudica a democratização do poder e a distribuição de renda naquele país.

Aliás, esta é uma das poucas e marcantes omissões da matéria: o posicionamento internacional contra o bloqueio e a insistência da "Terra da Liberdade" em mantê-lo, com o argumento das "prisões políticas" supostamente realizadas pelo governo... ao passo em que os EUA mantém presos políticos em seu território e no próprio território cubano - em Guantánamo - e financiam criminosos comuns para transformá-los em "prisioneros de conciencia".

Outra grande omissão do texto diz respeito à "última fronteira do socialismo": Coréia do Norte, China, Bolívia e Venezuela também passam por experiências socialistas com seus respectivos erros e dificuldades no caminho, incluindo aqui ameaças de guerra por parte, óbvio, dos EUA.

A burocratização estatal e o protagonismo exagerado de líderes messiânicos, características totalmente ausentes da teoria marxista, são as marcas que perpassam da mesma forma estas experiências e a de Cuba. O argumento desses líderes é também o mesmo: o socialismo requer o definhamento do Estado, mas ataques externos (militar, econômico etc) impõem a interrupção desse processo para que se organize alguma defesa.

O resultado desse vaivém geopolítico é o que saltou aos olhos jornalísticos de Nelson Liano em Havana, mas também está por trás do que causou a queda da URSS, o isolamento da Coréia do Norte, o enfraquecimento do "socialismo bolivariano" na Venezuela e por aí vai. Jamais existiu na História uma experiência socialista que não tenha sido sistematicamente boicotada pela conjugação de Estados e conglomerados capitalistas.

Contudo, a já histórica curiosidade de A Gazeta merece parabéns. Cada época produz uma narrativa autojustificadora sobre si mesma e a nossa época não se difere nisso das que a precederam. E se desse ângulo é fácil concluir que realmente não existe possibilidade de existir jornalismo isento, neutro etc, é de alguma forma animador observar que a curiosidade, a dúvida e o questionamento começam a dar sinais no jornalismo local.

Em tempo: a ambição socialista é criar um governo mundial de trabalhadores, não implantar um "regime" onde todos recebam os mesmos salários, vistam roupas da mesma cor, submetam-se à vontade "da coletividade" porque "são todos iguais" devido a "questões morais" (e outras bizarrices criadas na Guerra Fria para reduzir o comunismo a uma caricatura).

A base do socialismo é que os indivíduos têm aptidões, talentos e capacidades diferentes e por isso devem ser remunerados na justa medida da sua capacidade, conforme o seu trabalho. O que é coletivo no socialismo é tudo o que possa produzir riquezas: fábricas, indústrias etc. Não há "igualitarismo socialista", a não ser o do direito de todos ao trabalho... e à riqueza por ele produzida.

Para visitar o site do escritório da ONU em Cuba clique aqui.

Um comentário:

Ana Claudia F. Lima disse...

Olá, sou frequentadora assidua do seu blog, parabéns pelo mesmo! Tenho duas perguntas: primeira, em relação ao Acre, o PT é um partido de esquerda. Você acha que o que está ocorrendo no seu estado é um processo socialista ou não? Segunda pergunta: você não acha que colocar a culpa do fracasso do socialismo em inimigos externos é clichê demais? O mito do "inimigo externo" é um clássico das relações internacionais e é usado até hoje pelos EUA, por exemplo.