sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A GREVE DOS BANCÁRIOS, A IMPRENSA E A CRISE

É sintomático que a primeira greve após o estouro da megacrise do capitalismo seja justamente a dos bancários, trabalhadores que lidam de perto com as falsas promessas desse sistema corrupto e alienante.

Mais de 5 mil agências bancárias encontram-se parcial ou totalmente paralisadas agora em todo o país, de acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Financeiro (Contraf). A instituição coordena, direto de São Paulo (SP), as negociações com os representantes dos bancos públicos e privados.

É um poder imenso de mobilização, que só não é maior devido ao isolamento dos trabalhadores em suas respectivas "carreiras". Evidentemente trata-se de um erro, pois a crise que se avizinha atingirá a todos, indistintamente, comprometendo igualmente seus sonhos e ideais.

Mas esse isolamento também enfraquece cada categoria e seu conjunto de reivindicações específicas. Números do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos Bancários (Seeb/AC), por exemplo, mostram que há 15 anos havia no Acre 1,5 mil trabalhadores nesse setor. Hoje eles somam aproximadamente 730, espremidos em agências ridiculamente pequenas e, nas cidades maiores, com filas imensas praticamente todos os dias.

O velho modelo da "automação comercial", exigência da lei da lucratividade máxima que organiza o setor bancário em todo o mundo, prometeu mundos e fundos, mas só trouxe desemprego e muita frustração para os cidadãos que precisam do sistema bancário.

Trouxe também uma ética social aristocrática, excludente, que a todo o momento confunde democracia com plutocracia. Mesmo no Acre, onde a economia depende fundamentalmente do contracheque do servidor público, essa guinada social influencia cada vez mais o isolamento de categorias de trabalhadores em suas reivindicações, ao impingir aos movimentos de greve um caráter sombrio, desordeiro, desafiador do próprio corpo social... algo que precisa ser detido, enfim.

Os jornais de hoje refletem essa fascistização da vida social. Enquanto O Rio Branco, A Gazeta e o Página 20 ressaltaram os supostos prejuízos dos comerciantes com a greve, A Tribuna preocupou-se em mostrar o Ministério Público Federal (MPF), acionado por um grupo de sindicatos patronais, desdobrando-se para atender a "queixa" dos empresários.

Uma queixa no mínimo curiosa, uma vez que, além dos bancos, quaisquer dívidas bancárias podem ser pagas no Banco Popular (e representantes), Correios, lotéricas e até mesmo por depósito bancário, serviço que não foi suspenso.

A verdadeira reclamação dos "pequenos comerciantes" não está nas matérias, uma vez que a greve não impediu o pagamento de dívidas. O que a greve impediu foi a tomada de empréstimos bancários, fundamentais nessa época do ano não para os pequenos, mas para os grandes comerciantes que com esse dinheiro abastecem os cofres de jornais, TVs e rádios com propagandas de suas "festas de fim de ano".

Qualquer trabalhador da imprensa acreana sabe que esse lucro jamais vai para as mãos de quem realmente trabalhou por ele, isto é, os próprios trabalhadores de imprensa! O esforço diário de ouvir pessoas, preparar textos ou imagens, corrigi-los, diagramá-los e editá-los durante a greve dos bancários será recompensado amanhã com mais trabalho e um salário simbólico no fim do mês!

Enquanto isso, os donos das empresas, de comércio ou de imprensa, acumulam os lucros do poder de ação e mobilização dos seus funcionários (palavra que, nesse contexto, faz todo o sentido do mundo...).

Pergunto: por que trabalhar para isolar a categoria dos bancários, ao invés de denunciar toda a mancomunação de forças superiores que excluem os trabalhadores, sejam bancários ou jornalistas, do seu próprio poder? Por que os jornalistas não exigem, como os bancários já o fazem, a participação igualitária nos lucros das empresas jornalísticas?

Ou alguém acha que empresas funcionam graças aos seus "patrões"? Funcionassem, e toda a paranóia em torno da greve dos bancários sequer existiria...

É hora dos trabalhadores se unirem! O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou que alguns reajustes salariais previstos para 2009 podem ser sacrificados em benefício do "mercado". Várias grandes empresas brasileiras já declararam prejuízos e demissões em massa.

É hora de exigir mudanças. Mudanças que exijam justiça para quem realmente trabalha. Para a imensa maioria que realmente produz riquezas e que é sugada por terceiros.

Abaixo todos os parasitas!

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