sábado, 11 de outubro de 2008

O PALPITEIRO

O governador do Estado do Acre, Arnóbio Marques, como cientista político é um excelente palpiteiro.

Em entrevista ao programa Bom Dia Amazônia, da TV Acre, ele afirmou convicto que a Frente Popular do Acre (FPA) saiu fortalecida dessas eleições. O motivo: os 10 mil votos que Angelim acrescentou aos 70 mil que o elegeram em 2004.

É uma falácia.

O governador "esqueceu" que em 2004 o número de eleitores em Rio Branco era menor: apenas 179.865 contra os atuais 201.620. Por isso, além da votação de Angelim (com 10.290 votos a mais) também cresceram:

- Os votos da oposição: de 71.145 para 77.427.

- Os votos nulos: de 7.804 para 8.429.

- Os votos em branco: de 1.727 para 2.735.

- As abstenções: de 29.457 para 33.007.

Portanto, a realidade é o oposto do que o governador "acha", especialmente porque 72,17% dos eleitores rio-branquenses – nesse ano – votaram na oposição, em branco, nulo ou simplesmente preferiram não votar e pagar multa.

Além disso, dos 5,3 mil servidores da prefeitura de Rio Branco, cerca de 1,2 mil são cargos de comissão ou contratos provisórios.

(Pausa para meditação...)

Não duvido que uma votação recorde de Raimundo Angelim fosse impossível. Afinal ele não é um mau prefeito e, como escreveu um velho amigo "nosso", Angelim mandou asfaltar as ruas do bairro Laélia Alcântara...

Eu acrescento que várias outras ruas, inclusive a minha, foram asfaltadas também na gestão petista. Angelim é técnico, é competente. É amigo das crianças e dos animais...

É um homo grisalhus.

Mas nem ele pode ignorar o verdadeiro recado da tão vilipendiada "vontade soberana do povo" (isto é, de 72,17% dos eleitores):

- Mudem a forma de fazer política, pois esta manipulação não suportamos nem engolimos mais!

Governador Arnóbio: a política não se resume a eleger homens ou mulheres para que nos governem. A política é o espaço da construção das possibilidades da vida pública, isto é, do espaço onde as decisões da vida pública são tomadas... publicamente.

Atribuir à política esse caráter de gestão especializada, asséptica e tecnicista é o artifício perfeito para atrair personalidades que querem se manter indefinidamente no poder, usurpando o lugar da classe trabalhadora (uma vez que o próprio poder simbólico da política só é poder na medida em que recebe o aval coletivo).

Negar esse poder a quem de direito, isto é, à classe dos trabalhadores, concentrando-o em uma sigla ou em meia dúzia de messias salvadores do Acre - e já tivemos muitos em nossa curta história oficial - é não só perigoso, mas violento. A violência, entendida em sua acepção original, é tudo aquilo que viola o homem, que lhe rouba a essência vital. E, como disse Aristóteles, "o homem é um animal político".

A foto é do ótimo blog do Jorge Tadeu.

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