sábado, 1 de maio de 2010

LIBERDADE DE IMPRENSA

A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas.

É a franca confissão do povo em si mesmo, e sabemos que o poder da confissão é o de redimir.

A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria.

A função da imprensa é ser o cão-de-guarda público, o denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade.
A imprensa censurada, com sua hipocrisia, sua falta de caráter, sua linguagem de eunuco, seu rabo de cachorro constantemente em movimento, personifica somente as íntimas condições da sua existência.


Karl Marx - Debates sobre a liberdade de imprensa e comunicação. Publicados no jornal Rheinische Zeitung ao longo do mês de Maio (isso mesmo) de 1842.




Decidi republicar um trecho acima - o original possui 107 páginas - neste modesto blog por três motivos:


- Primeiro porque o texto é pouco conhecido. Até onde sei há somente uma versão em português, publicada pela Ed. L & PM, de Porto Alegre (RS), que reúne este e outros artigos do revolucionário alemão, um dos pais do socialismo científico.


- Segundo porque esta é minha forma de homenagear os trabalhadores nesse cinzento maio de 2010, quando a luta de classes continua sendo o motor da história tanto quanto há um século e meio. O problema hoje não é mais comida, água, pão e circo. Hoje o problema é alienação.


- Terceiro porque pretendo expor o que eu mesmo penso sobre a função do jornalismo numa sociedade de classes, que vive nesta contradição de ser democrática e ter um profundo abismo social. A questão é: se a democracia pressupõe igualdade de direitos, a existência de classes sociais indica desigualdades no acesso a esses direitos. A função da imprensa, de uma imprensa livre, é então fundamental. Mas daí surge a questão: como pode a imprensa ser livre, se, como o restante da sociedade, está igualmente submetida às lutas de classes? Que tipo de sociedade estamos ajudando a construir, uma sociedade livre ou uma sociedade cheia de dependências em relação a interesses patronais, sejam eles públicos ou privados - ou ambos?


A propósito: Karl Marx passou grande parte da vida trabalhando como jornalista, embora fosse filósofo por formação. O livro da L&PM (na minha opinião indispensável a qualquer profissional em comunicação, especialmente se acreano, especialmente se em atividade hoje) está disponível por R$ 15 no site da editora.

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