sexta-feira, 7 de novembro de 2008

COISAS DA DITADURA

Outro dia, conversando com muitas pessoas no messenger, elas ficam me perguntando sobre Cuba. Muitas delas, e eu sei que a culpa não é das mesmas, já tem uma visão pré-concebida da ilha. Alguns falam demonstrando tamanha “propriedade do saber” como se soubessem mais do que eu, que vivo em Cuba – acontece é que essas pessoas estão há alguns milhares de quilômetros do Caribe. Como uma vez me disseram que Fidel Castro é membro da Maçonaria. No mundo circulam muitas histórias, e em cada história muitas versões, e “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

Ou então, por brincadeira, disseram que iriam mandar de presente a Fidel Alejandro Castro Ruz, uma bandeira dos Estados Unidos da América (EUA), respondi que tudo bem, afinal na universidade onde eu estudo há muitos estadunidenses. Não só onde eu estou, em Havana, mas por toda a ilha. Acontece que Cuba nada tem contra o povo dos EUA, porque lá há muita gente endo explorada e vítima da miséria. O grande problema é a política imperialista adotada pela elite e pelo governo “yankee”.

É falado dos cubanos que fogem da ilha. É engraçado, porque se um brasileiro vai morar nos EUA, ele não é fugitivo, ele é imigrante. Ou então o grande contingente populacional de mexicanos (muitos clandestinos) que vivem nos EUA. Pode-se falar também aos quantos uruguaios, argentinos, bolivianos que estão no Brasil e não estão legalizados e nem por isso são chamados de fugitivos É fato que na Flórida há muitos canais de rádio que bombardeiam Cuba com idéias anti-revolucionárias e vendendo a ilusão do “AMERICAN DREAM”. É lógico que as pessoas vão ficar curiosas e alimentar essa ilusão. É só atravessar o mar e chegar em Miami, pois está a menos e 150 km do “Perigo Vermelho”. Nos EUA, todo o cubano, que consegue tocar os pés na areia da Flórida pode conseguir seu “GREENCARD”, basta alegar (e somente dessa maneira se consegue) que teve problemas políticos com o regime. Chegam em Miami e vêem que aquilo era só ilusão, trinta dólares mal dá passar dois dias, então ele vê que coisas que ele tinha acesso gratuito como saúde, educação, moradia, onde ele possuía seu emprego garantido, já não é bem assim.

E há pessoas também que crêem com veemência e ainda reproduzem em seus discursos que Cuba vive uma ditadura. Pois bem, isso até soa como piada, em um país onde não há analfabetismo, não há crianças vivendo nas ruas, nem passando fome e também não há idosos nas filas de hospitais. E outra, onde há democracia, porque se Raúl Castro é presidente, houveram eleições para que ele chegasse lá. Ah, algo importante: os membros do parlamento cubano não possuem um salário astronômico, nem auxílio combustível e tão pouco um auxílio para comprar ternos da ARMANI – eles recebem conforme sua profissão, seja m´dico, professor, agricultor, metalúrgico, etc.

Há mercarias que vêm de outros países, mas não podem vir diretamente devido ao bloqueio econômico imposto pelos EUA. Por exemplo, se Cuba compra algumas toneladas de aveia do Chile, essa mercadoria não virá diretamente: primeiro ela deve ser descarregada na Venezuela ou na China, para então, de algum desses dois lugares ela chegar à ilha. Toda essa trajetória desnecessária faz encarecer os preços dos produtos.

E voltando a falar sobre ditadura, que nessa “ditadura” eu estudo medicina de graça, não somente eu, mas também jovens de 21 países da América Latina e EUA na Escuela Latino Americana de Medicina (ELAM). Não se pode esquecer que EUA, El Salvador e Porto Rico não mantém relações diplomáticas com Cuba. Além de estudar de graça, temos moradia, uniformes, material escolar, livros, material de higiene pessoal, quatro refeições diárias e ainda 100 pesos cubanos mensais. A “ditadura” nos oferece tudo isso, agora eu gostaria de saber o que países “livres” como EUA e Brasil fazem para proporcionar uma mínima infra-estrutura aos seus estudantes.


Fonte: Blog Zeca Live in Havana

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