sexta-feira, 28 de novembro de 2008

SINJAC DENUNCIA TV GAZETA

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre (Sinjac) registrou manhã de hoje (27) uma denúncia no Ministério do Trabalho contra a TV Gazeta por descumprimento de acordo coletivo firmado há quatro anos.

O acordo referente ao auxílio universitário, no qual todas as emissoras de televisão e jornais impressos devem garantir o auxílio universitário de 50% do valor da mensalidade do curso de Jornalismo, deixou de ser cumprido pela TV Gazeta desde julho deste ano.

Segundo a cláusula 32ª do acordo, o descumprimento de qualquer das cláusulas constante na convenção coletiva implicará em multa de 17 salários mínimos. Com base na documentação, o sindicato busca por meios legais defender os direitos de todos os jornalistas que sejam contratados das empresas que participaram da assinatura do pacto.


Fonte: Sinjac

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Todos os anos, em abril e maio, a diretoria do Sinjac inicia uma série de reuniões com os donos das empresas de comunicação locais. O objetivo é aprovar a convenção coletiva anual, um documento que regulamenta vários direitos aprovados nas assembléias sindicais.

Isso, em tese.

Na prática as reuniões são invariavelmente conduzidas unicamente pelo presidente do sindicato, Marcão, e pelos proprietários que também invariavelmente relutam em subscrever o documento. Alguns nem mesmo subscrevem, como é o caso de Eli Assem de Carvalho, dono do jornal A Tribuna e da Rádio Alvorada, deixando os funcionários dessas empresas sem a cobertura de vários direitos.

Pode não parecer, mas a ausência dos demais jornalistas nessas reuniões deliberativas e a atitude infantil de alguns patrões estão ligadas: ambas são subprodutos da hiper-exploração dos profissionais de imprensa. Além de acumular vários cargos, a maioria tem uma jornada muito maior que a máxima legalmente permitida - hoje de 7 horas diárias - e de quebra ainda faz "bicos" em outras empresas.

Com essa jornada não é de espantar que ninguém compareça às assembléias. É óbvio. Se todas as necessidades individuais, inclusive a realização profissional, são satisfeitas sem a intermediação do sindicato, pra que participar de assembléias maçantes e nem sempre conclusivas?

Para ganhar efetividade, incluindo a participação nas reuniões de abril e maio, o Sinjac precisará reformular o exercício da profissão. Nesse sentido, uma questão histórica merece ser considerada.

Nos corredores e salas das empresas jornalísticas ainda ouve-se o velho paradigma de que "repórter é repórter 24 horas ao dia", como se o mesmo não se aplicasse a professores, médicos, sociólogos, enfim, a qualquer profissão, com o importante detalhe de que estes não usam tal argumento para justificar a sua própria exploração.

O mito do "repórter 24 horas", por si só, evidencia o fundamento histórico não só do jornalismo, mas de toda a economia acreana: o tradicional coronelismo de barranco, que usa a voz da própria autoridade como estratégia para manter escravizados seringueiros dentro de um modo de produção que em tudo beneficia apenas aos patrões.

O modo de produção dos nossos jornais é a reprodução histórica do modo de produção dos nossos seringais.

O jornalista acreano é um seringueiro pós-moderno.

Portanto, para ter efetividade na categoria o Sinjac precisará primeiro insurgir-se contra ela, no sentido de extingüir a herança cultural da hiper-exploração, que hoje é autojustificada, já que muitos jornalistas a defendem. Estes, porém, esquecem que seu dever e sua pavoneada "competência" não são apenas para a sua própria realização pessoal ou financeira. São primeiro para a vida social, a voz dos que não têm voz: o Contra-Poder.

Por isso, uma mudança real dessa situação não dependerá apenas de ações sindicais. É preciso que cada jornalista substitua pessoalmente o paradigma da hiper-exploração pelo de Quarto Poder, isto é, a consciência de que o jornalismo tem um dever prioritariamente social. Isso faz todo o sentido em um Estado cujo povo sempre foi excluído, manobrado e tão hiper-explorado quanto o próprio profissional de imprensa - que, aliás, exerce sua função em empresas construídas e mantidas às custas do dinheiro do contribuinte!

Assim, que tipo de jornalismo pode ser o mais responsável senão aquele que denuncia os crimes e exige a reparação de injustiças históricas? E, por outro lado, como exercer esse jornalismo socialmente engajado - uma vez que, como sabemos, a imparcialidade jornalística é um mito historicamente datado - se cada profissional estiver correndo atrás da sua "realização" isolado, divorciado do seu sindicato?

A luta de cada jornalista precisa se tornar a luta da sua categoria. Para isso, porém, cada jornalista terá que inverter a sua herança histórica e começar a cobiçar a liberdade coletiva.

E isso não se faz fora do sindicato.

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