quarta-feira, 24 de setembro de 2008

SOBRE A INTERVENÇÃO MILITAR EM PANDO

O governo Evo Morales apostou pesado demais ao nomear um militar como interventor do Departamento de Pando.

Rafael Bandera Arce, apesar de ter prestado relevantes serviços à nação boliviana (ele era o encarregado do Setor de Defesa Civil do Departamento de Beni) e ter várias condecorações por bravura, algumas delas pelo seu desempenho em enchentes dramáticas naquela região que faz fronteira com o Brasil por Rondônia, não é a pessoa adequada para o cargo.

A política é a construção social da arte do contraditório. É por isso que segundo os seus inventores, Platão e Aristóteles, é somente na democracia que ela pode ser exercida.

Um militar é sempre um militar, um soldado treinado para cumprir ordens sem nada questionar. Nesse sentido, Rafael Arce mostrou-se sempre um excelente oficial. A última prova ele deu em sua primeira entrevista coletiva como Interventor, quando os repórteres lhe perguntaram sobre a possibilidade de retorno de Leopoldo Fernández.

Arce simplesmente girou nos calcanhares e deu as costas. Nada disse. Não retrucou. Não xingou. Não mentiu, nem dissimulou. Apenas foi embora, deixando os colegas da imprensa local e estrangeira a perguntar-se: "O que foi isso?"

Espero que essa intervenção dure de fato 90 dias, como prometeu o presidente Evo Morales.

Como socialista apóio a luta do povo boliviano e o esforço pela democratização de um país tão castigado, interna e externamente, por uma oligarquia político-econômica que produziu uma pobreza imensa em um país tão rico.

Mas como cidadão e democrata, acho intolerável a manutenção de um militar no poder. Com o histórico de golpes, "preventivos" ou não, da nossa América Latina, há um risco enorme inclusive para os trabalhadores daquele país.

Exatamente eles, a quem pertence todo o poder político, econômico e social, não podem ser culpabilizados por qualquer decisão equivocada.

Todo o poder aos soviéts!

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